81 senadores, 82 votos

A derrota de Calheiros deve ser comemorada com euforia

Sou um otimista por natureza e, apesar de todos os tumultos ocorridos no plenário do Senado na sexta-feira e no sábado, durante as sessões para eleição do novo presidente da Casa, considero positivo o resultado da votação. A derrota do senador Renan Calheiros (MDB-AL), batido pelo senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), deve ser comemorada com euforia, pois, no meu entendimento, há uma grande participação da sociedade nesse resultado.

Desde que Calheiros lançou sua candidatura à presidência do Senado e passou a articular sua eleição, iniciou-se uma campanha de repúdio ao nome do senador alagoano, por tudo de ruim que ele representa. A hashtag #RenanNão ganhou as mídias sociais e chegou ao Senado, com eleitores cobrando dos senadores um posicionamento contrário à eleição de Renan. E o que vimos no fim de semana, com a vitória de Alcolumbre, é resultado dessa mobilização popular.

Derrotado Renan Calheiros, abre-se espaço para uma relação mais cordial entre Senado e governo, num momento crucial para o país, com a necessidade de se votar em curto tempo projetos relevantes para a economia nacional. Também se dá mais um passo para a desconstrução das oligarquias regionais na política brasileira, das quais Calheiros era o principal representante. Em resumo, o Senado ficou mais arejado, menos tenso.

Creio que, sem essa pressão popular, muitos senadores não teriam votado em Alcolumbre. Foi, no meu entender, uma conquista que comprova a evolução da participação da sociedade na política, o que é saudável e bem-vindo. Os políticos devem se posicionar de acordo com os interesses de quem os elegeu. É assim que as democracias funcionam e se consolidam.

Também merece reconhecimento a postura adotada por alguns senadores contrários à eleição de Renan Calheiros e defensores da votação aberta para a escolha do presidente do Senado, entre os quais os mineiros Antonio Anastasia (PSDB), Rodrigo Pacheco (DEM) e Carlos Viana (PSD). Eles abriram as cédulas e mostraram seus votos nas redes sociais, gesto de protesto contra a determinação de votação secreta para a eleição.

A respeito do senador Antonio Anastasia, destaco a sua escolha para ocupar a primeira vice-presidência do Senado. É um cargo de muita responsabilidade e relevância e que proporciona ao ex-governador de Minas Gerais a oportunidade de atuar na defesa dos interesses do Estado e de combater o voto secreto nas eleições para a presidência da Casa. A democracia deve ser transparente. Também entendo que Anastasia deve deixar imediatamente o PSDB, um partido que nada mais tem a oferecer ao país.

Retomando a questão da eleição de Alcolumbre, lamento que o resultado tenha sido ofuscado pelas manobras ilegítimas e confusões na sexta-feira e no sábado, com ofensas e ameaças de agressão. Houve até um voto a mais depositado na urna (são 81 senadores, e foram computados 82 votos), o que levou à anulação da primeira votação e à realização do segundo escrutínio. São episódios que devem ser repudiados, para que não se repitam.

O Senado é a nossa Casa legislativa mais importante. Os senadores representam a Federação e devem estar à altura da relevância do posto. A expressão “liturgia do cargo” define objetivamente o que se espera do comportamento de quem ocupa cargos públicos, detentores de mandatos. E, definitivamente, votar duas vezes com o objetivo de fraudar ou tumultuar uma eleição não faz parte das boas práticas políticas.

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Gabriel de a a z

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