A saúde de Belo Horizonte e seu dilema

É preciso aplicação de recursos transparente e eficaz

Recentemente, a Prefeitura de Belo Horizonte divulgou uma propaganda afirmando ser a administração da capital que mais gasta em saúde por habitante no Brasil. No entanto, apesar dessa declaração impressionante, a realidade vivida pela população conta uma história diferente.

A verdade é que, quando apresentados a essa informação sobre o suposto maior investimento do país, muitos cidadãos não acreditam, não sentem que esses recursos estão sendo aplicados de maneira eficaz e transparente ou mesmo perguntam se os recursos estão realmente indo para os lugares certos…

É inegável que investir em saúde é essencial para o bem-estar da população. Entretanto, a eficiência desse investimento depende de como os recursos são geridos e aplicados. Em Belo Horizonte, a própria propaganda da prefeitura mostra que não cola a desculpa da falta de dinheiro para os problemas estruturais e operacionais que continuam a assolar o sistema de saúde. Longas filas para consultas, atraso enorme nas eletivas, falta de médicos e especialistas e a ausência de medicamentos essenciais são apenas alguns dos desafios enfrentados diariamente pelos cidadãos.

Um dado alarmante: quase 30 mil pessoas estão à espera de cirurgias eletivas na cidade, distribuídas entre diversas especialidades. A situação atual revela falhas graves na gestão da saúde pública. A pandemia da Covid-19, sem dúvida, impactou negativamente a capacidade do SUS de realizar cirurgias eletivas. Durante esse período, houve uma recomendação do Ministério da Saúde para reduzir esses procedimentos, o que contribuiu para o acúmulo de pacientes na fila. 

Porém, com a retomada das atividades normais em 2022, esperava-se que a administração municipal tivesse planejado uma recuperação mais eficaz. O que se vê é que os esforços atuais são insuficientes para atender à demanda reprimida.

Um aspecto crítico que contribui para a ineficiência é a falta de transparência. A população tem o direito de saber como os recursos estão sendo utilizados e qual é o status real das filas de espera. A digitalização dos registros e a transparência na gestão são essenciais para que os cidadãos possam acompanhar o progresso e entender as prioridades definidas pela administração. A ausência de um sistema claro e acessível que permita aos cidadãos acompanhar esses gastos cria um ambiente propício para a desconfiança e a ineficiência.

Hoje, por lei federal, é obrigatório divulgar quinzenalmente os estoques de medicamentos nas unidades de saúde da cidade. Afinal, o cidadão não está interessado nos índices globais de estoque de medicamentos da propaganda oficial. O dado quinzenal pode ser útil para a área de compras e contratos, mas não resolve a vida de quem quer saber em que lugar ir e a hora de ir buscar seu remédio. Telefonar para o centro de saúde não adianta, como basta perguntar para qualquer servidor da área: na maioria das vezes, sequer o telefone funciona.

A prefeitura cansa de dizer que quer contratar médicos, mas que os profissionais não querem trabalhar. Essa desculpa não resolve o problema. Fica claro que, apesar de ter dinheiro para gastar, a prefeitura tem falhado em criar um ambiente atrativo para esses profissionais. O que não dá mais é para ouvir desculpas colocando o médico como vilão.

É hora de questionar e exigir que os altos números que aparecem na propaganda do prefeito se traduzam em um sistema de saúde que funcione para todos, proporcionando atendimento digno e de qualidade e assegurando que cada real investido seja bem aplicado. 

A mudança é possível, mas depende de uma gestão comprometida com a transparência, a eficiência e o bem-estar da população.

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