As oito décadas da Pampulha

Símbolo da cidade que podemos construir

A última terça-feira, 16 de maio de 2023, marcou o aniversário de 80 anos do Conjunto Moderno da Pampulha. Concebido por Juscelino Kubitschek e Oscar Niemeyer, esse marco da arquitetura na capital mineira não simboliza apenas pelo que está posto, mas pelo sonho da cidade que queremos ser, um símbolo do que podemos construir. 

A união entre arquitetura, arte, natureza e paisagismo é consolidada no conjunto da Pampulha pelo espelho d’água da lagoa. Parte integrante do tombamento, indissociável dos outros elementos, a lagoa se tornou uma usina de corrupção.

O Ministério Público de Contas de Minas Gerais já apresentou à Câmara Municipal os indícios de um esquema que enxuga gelo, gasta milhões em um contrato suspeito e insiste em ações que já deram errado. A CPI da Lagoa da Pampulha, que está em curso no Poder Legislativo do município, busca apurar os responsáveis e quem se beneficiou com isso, porém já é fato inegável que se gastou muito e não se resolveu nada. 

Precisamos limpar a água da lagoa. É uma ação metropolitana, interrompendo os fluxos de esgoto despejado ilegalmente nos córregos da bacia, que deve ser conduzida como uma ação propositiva e conjunta, e não um jogo de empurra com os nossos vizinhos. 

Com o apoio do meu amigo Vittorio Medioli, hoje prefeito de Betim, mas há muito tempo morador da Pampulha, estou sempre estudando medidas para reduzir o assoreamento e recuperar a integralidade do espelho d’água de forma ambientalmente correta, que torne a região limpa e agradável, valorizando não apenas o potencial de lazer para a população, mas intensificando esse polo turístico que pode conduzir o desenvolvimento da nossa capital.

Baixar temporariamente o nível da água, expor o assoreamento para toda a cidade e encher novamente da forma correta é um dos caminhos que estão sendo estudados.

Vencida a importante batalha da água, precisamos passar para estabelecer ali o lugar agradável que queremos. Aí precisamos aprender com os bons exemplos do mundo. O nosso cartão-postal é a nossa orla, e há diversos exemplos no planeta de bons aproveitamentos de espaços à beira-mar ou nas margens de rios que podemos e devemos copiar por aqui. 

É preciso garantir um bom acesso para os automóveis e o transporte coletivo nas vias de trás, para assegurar que a avenida Otacílio Negrão de Lima seja mesmo uma via para pessoas, com espaço para caminhada, lazer, bicicletas, pedestres, famílias, pets convivendo em paz. Hoje existem iniciativas nesse sentido que, infelizmente, são insuficientes porque o fechamento da via torna o trânsito na região caótico, o que não pode acontecer.

Com a via aberta para as pessoas, é hora de pensar em intervenções urbanísticas que tornem a região mais convidativa. Não dá pra manter o modelo de grandes mansões unifamiliares, que não combina mais com o espírito dos tempos de hoje e que contribuem para a desocupação da região. Esses imóveis podem se transformar em estabelecimentos com olhos para a rua, como Jane Jacobs definiu as ocupações que tornam seu entorno mais agradável e seguro. 

É inaceitável, por exemplo, que o nosso melhor ponto turístico dependa de banheiros químicos. O mineiro sabe receber bem, e isso tem que ser realidade na nossa orla.

Sonhando alto, consigo imaginar uma lagoa que, em vez de se marcada pelo cheiro peculiar, seja navegável, atrativa, rentável para a cidade. Ver ali pessoas vivendo a cidade como nas animadas Ramblas de Barcelona, para turistas e locais curtirem a vida e tomar um drink, gerando lazer e empregos. E, se recuperarmos todo esse potencial da Pampulha, podemos completar com um último passo que faltou ser realizado no sonho de JK e Niemeyer.

Muita gente não sabe, mas há por ali uma quinta construção idealizada para ser inaugurada em 1943: o Hotel da Pampulha, concebido para ficar ao lado do antigo cassino, hoje um Museu de Arte que merecia muito mais. As colunas do hotel foram destruídas em 1995, mas os projetos ainda existem para o local, provando que podemos sempre sonhar com muito mais…

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Gabriel de a a z

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