Tentativa de estilhaçar o Estado democrático de direito
O dia 8 de janeiro de 2023 foi o pior dia para nós, os democratas brasileiros, desde 2 de abril de 1964 (quando depredação de prédios públicos não houve, aliás).
O que se tentou na praça dos Três Poderes foi um golpe de Estado. Cada um daqueles que incentivaram e participaram da marcha sobre Brasília é um golpista. Manifestar é uma coisa, golpear é outra coisa. E os golpistas são nojentos.
Cada um dos criminosos que depredaram e estilhaçaram símbolos nacionais tentando depredar e estilhaçar nosso Estado democrático de direito precisa ser condenado de acordo com a lei.
“Canalha! Canalha!” Foi assim que Tancredo Neves chamou o senador que declarou vaga (de forma mentirosa) a Presidência da República na madrugada de 2 de abril de 1964. O golpe teve mais endosso nas palavras de um político do que nas armas de um militar.
“Canalha! Canalha!” O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, deveria se desfiliar do Movimento Democrático Brasileiro. Proponho-lhe a renúncia também. Deve ser lembrado pela sua irresponsabilidade diante de uma tentativa de golpe.
Forças armadas
As Forças Armadas não participam da política. Ponto. Quem fica na porta de um quartel pedindo essa participação desconhece a própria democracia.
Jair Bolsonaro, que fugiu e se negou a passar a faixa presidencial ao seu sucessor, é o principal responsável por essa tentativa de golpe. Em março de 2020, diante das inúmeras vezes em que ele mentiu sobre nossas urnas eletrônicas, anunciei que protocolaria um pedido de impeachment na Câmara dos Deputados. Veio a pandemia, e meu pai precisou dos meus cuidados diante de um câncer de pulmão que lhe retirou a vida.
Começaram a surgir pedidos de impeachment diversos na sequência. Ao não acatar nenhum deles, a presidência da Câmara dos Deputados se omitiu diante de alguém que sempre atacou e estimulou ataques às instituições. O impeachment é um instrumento fundamental na democracia.
Foi corretamente utilizado contra Fernando Collor. Foi corretamente utilizado contra Dilma Rousseff. E quem defendeu o impedimento em ambas as vezes agiu dentro das regras da democracia. Não eram golpistas. E dizia a quem assim os denominava que palavras não podem ser usadas em vão.
Golpistas marcharam sobre a capital da República Federativa do Brasil no dia 8 de janeiro de 2023, data a não ser esquecida pelos democratas.
Fenômeno Global
Não há dúvidas de que o mundo passa por uma terceira onda de autocracia. Há movimentos conexos. Há dois anos, em 6 de janeiro de 2020, houve a invasão do Capitólio, sede do Congresso dos EUA. Parcela do “bolsonarismo” é uma cópia brasileira de parcela do “trumpismo”. Há algo que pode se extrair disso tudo: vimos do que esses monstros são capazes.
Em 2013, há dez anos, durante as chamadas “jornadas de junho”, ao ver gente pisoteando o Congresso Nacional, não tive dúvidas: manifestei-me contra aquilo. Num Estado democrático de direito, não se desrespeita ou destrói uma sede de poder. A janela quebrada do Palácio do Itamaraty naquela época não era só um dano ao patrimônio público. Idem 2017.
Todavia, em nenhum desses momentos as pessoas queriam golpear a democracia, e as forças de segurança estavam presentes.
O que se deu agora é o mais grave atentado ao Regime Democráticodesde o golpe cívico-militar que nos legou uma noite sombria por anos. Essas pessoas não podem ser chamadas de manifestantes. Essas pessoas são golpistas. É substantivo. Não é adjetivo.
De que lado cada brasileiro está? Eu quero registrar para a história o meu lado. Sempre fui opositor ao Partido dos Trabalhadores, sobretudo pela corrupção. Todavia, nunca fui opositor à democracia, onde a oposição deve ocorrer democraticamente, e não com a tentativa de destruir os poderes constituídos.
Vimos do que esses monstros são capazes. Até onde iriam? Do que mais é capaz um monstro que rasga um Di Cavalcanti no Palácio do Planalto, destrói obras de Athos Bulcão no Palácio do Congresso Nacional e profana Jorge Zalszupin no Supremo Tribunal Federal?
Esses monstros (apoiados e financiados por canalhas) são capazes de golpear, de matar, de tudo. Esses monstros precisam ser parados, pois tentaram um golpe de Estado. Tentaram. Não conseguiram. Não vão conseguir. Esses monstros passarão. A democracia ficará. Vamos prevalecer.
