Criar espaços de aprendizagem democrática
Vale abordar outra vez algo pelo qual poucos se interessam, mas que considero importante: o regime democrático.
O presidente dos Estados Unidos da América, Joe Biden, disse que a competição entre autocracia e democracia é um “desafio definitivo do nosso tempo”. Concordo. Após duas guerras mundiais, o mundo passou a ver a competitividade entre o primeiro mundo e o segundo mundo. Nós, o terceiro mundo, éramos títeres de uma dicotomia norte-americana e soviética que ergueu uma “cortina de ferro” entre as visões capitalista e socialista.
O Muro de Berlim caiu. A década de 90 foi marcada por uma terceira onda de democratização com o fim da Guerra Fria. Boris Yeltsin e Bill Clinton deram gargalhadas em Washington em 1994. Do ataque terrorista às Torres Gêmeas em diante, passamos de ascensão ao declínio democrático com uma terceira onda de autocratização. Há dados que demonstram. Recentemente, foram publicados três relatórios:
1) Freedom in the World 2022, da Freedom House, no qual, diante das estatísticas, algumas saltam aos olhos ainda mais: em 2005, 46% da população mundial vivia em ambiente livre (em 2021, 20,3%); 17,9% da população mundial vivia em ambiente parcialmente livre (em 2021, 41,3%); e 36,1% da população mundial vivia em ambiente não livre (em 2021, 38,4%). Vale conferir freedomhouse.org e notar que, atualmente, apenas duas a cada dez pessoas no planeta vivem em ambiente livre;
2) Democracy Index 2021, de “The Economist”, que divide as nações em quatro tipos: democracias plenas (21), democracias falhas (53), regimes híbridos (53) e regimes autoritários (59). Menos da metade população vive em algum tipo de democracia (45,7%). A América Latina registrou o maior declínio entre todas as regiões desde o início da medição em 2008. O mapa mundial com as divisões pode ser conferido em www.eiu.com e mostra uma divisão entre África e Ásia mais autocráticas ante Américas, Europa e Oceania (salvo exceções) mais democráticas;
3) Democracy Report 2022, do V-DEM Institute. O nível democrático do planeta recuou 30 anos, voltando aos níveis de 1989 como pode se conferir em www.v-dem.net para um alerta geral. Na última década, a polarização tóxica deteriorou as democracias de pelo menos 30 nações.
Contra fatos não há argumentos. A ação de Vladimir Putin na Ucrânia, por exemplo, como disse Francis Fukuyama em artigo recente no jornal “Financial Times”, é um ataque à liberdade. Não se trata de responder a um avanço da OTAN (que não ocorre desde o ingresso da Albânia, em 2009). A razão é o expansionismo autocrático, que jamais deve ser confundido com porções do povo russo protestando contra a ditadura.
O motivo da invasão é um: a democracia florescendo ao lado do ambiente autocrático de Vladimir Putin é um risco para os seus planos. Todos os esforços devem ser empregados para parar esse ditador corrupto. Ele não está em guerra contra o povo ucraniano. A luta dele é contra qualquer povo democrático.
O que se pode fazer no Brasil? Ampliar nossos índices democráticos que despencam ano após ano. Como? Não há democracia sem democratas. Ninguém nasce democrata. Isso se aprende. Onde? Eis a difícil realidade. É preciso aprender.
Por isso, ao lado de Augusto de Franco e outros, estamos lançando as Casas da Democracia. Você pode conhecer mais em www.democracia.org.br para fazer parte. A meta é criar espaços de aprendizagem democrática nos 50 grandes municípios e nos 276 municípios médios (capazes de irradiar influência a outros municípios) até 2030 com 10 mil pessoas. Para fomentar essas criações, precisamos de Agentes Democráticos. Vamos iniciar uma turma de aprendizado por livres conversações com cem pessoas e você pode se inscrever em agentedemocratico.org para participar. As inscrições vão até 14 de março de 2022. Todos temos responsabilidade nessa causa. Seja em Belo Horizonte ou em qualquer lugar, é preciso agir.