Cidade do México: a cidade que ensina a ser metrópole

A recuperação do espaço natural da Cidade do México

Belo Horizonte foi escolhida por votação. Entre cinco concorrentes, venceu o arraial onde foi construída a Cidade de Minas, de 1893 a 1897, substituindo Ouro Preto, a antiga capital mineira.

A Cidade do México (CDMX) surgiu a partir de uma escolha diferente. O povo mexicano abandonou Aztlán em busca da terra prometida seguindo as orientações de Huitzilopochtli, o deus-sol. Em 1325, a imagem que sinalizava o local onde deveriam se estabelecer foi avistada: uma águia num cáctus devorando uma cobra, hoje brasão mexicano estampado também em sua bandeira.

Já não bastasse ser uma cena bem específica, o espaço era um pântano de água salgada num vale cercado de vulcões. Adicione terremotos. Aquele povo, então, ergueu uma cidade repleta de templos e foi adicionando terra firme onde antes havia água do lago Texcoco.

Em 1520, Tenochtitlán possuía 200 mil pessoas (mais que Lisboa e Londres à época, curiosamente o número máximo de habitantes que pensavam que Belo Horizonte teria quando a planejaram), e quase todas perderam suas vidas com a chegada de Hernán Cortés, que tomou para a Coroa espanhola aquela desenvolvida formação urbana.

Hoje, a maior parte do sistema lacustre foi drenado, deixando no passado o engenhoso sistema de canais desenvolvido por Nezahualcóyotl, um rei-filósofo. A população da Cidade do México margeia 22 milhões de habitantes. O lago Texcoco perdeu 95% da sua superfície nos últimos cinco séculos.

A última área existente começou a dar lugar ao Nuevo Aeropuerto Internacional de la Ciudad de México em 2015, mas o projeto foi interrompido pelo ex-presidente Andrés Manuel López Obrador, que chegou ao poder em 2018. O local passou a ser utilizado para a construção de um parque urbano para ampliar a área verde da cidade.

Uma “Nova Tenochtitlan” foi como se chamou o projeto do Parque Ecológico do Lago Texcoco, assinado pelo arquiteto e paisagista Iñaki Echeverria. Com uma área 40 vezes maior que o Central Park, em Nova York, o projeto segue em construção, com a recuperação de 723 hectares de sistemas hídricos e a reinstalação de 900 hectares de formações aquáticas, além de fauna e flora reintroduzidas.

A ideia de recuperar o aspecto natural original visa combater outros dois problemas: a cidade está afundando ao utilizar a água dos lençóis freáticos, tornando o terreno instável; além disso, busca diminuir a poluição do ar filtrando 1,5 milhão de toneladas de carbono por ano.

Longe do projeto está a Praça da Constituição, chamada “Zócalo”, prima da Praça dos Três Poderes, em Brasília, e, assim como ela, monumental… e sem árvores. Uma exceção na cidade.

Além de terremotos e dois vulcões, vale lembrar que a Cidade do México está num deserto, onde não chove praticamente durante todo o ano. E poucas cidades no planeta me surpreenderam tanto pela arborização. O bosque de Chapultepec, com o imperdível Museu Nacional de Antropologia, não é só uma área verde, mas um vivo espaço de atividades urbanas.

O poder público possui uma política específica de plantio que já introduz as espécies de árvores formadas para que resistam ao clima seco. Nenhuma delas é original do bioma local. A cidade inteira foi plantada contra as adversidades, em calçadas que deixam qualquer centro urbano com inveja. 

O Paseo de La Reforma, mais do que uma avenida, é um corredor verde. Aliás, chamar calçadas de “passeios”, um costume antigo, faz sentido quando há piso bem-cuidado, mobiliário urbano e jardins sem abandono. Há uma infinidade de propriedades que mantêm nas próprias fachadas flores e plantas voltadas à rua. Esse aspecto verdejante torna áreas valorizadas como Condessa, Polanco e Roma ainda mais atraentes, e a vida em todas as demais áreas com mais qualidade.

É impressionante como há quem não perceba que um bom design de rua faz diferença para quem vive. Em 1992, a ONU disse que a Cidade do México tinha a pior qualidade de ar do mundo. E isso mudou. Há problemas de habitação e mobilidade, mas se percebe que muito vem sendo feito. O aspecto de parque da cidade se realça aos domingos, quando muitas ruas deixam de ter carros para se tornar áreas de convivência urbana.

Não é na Dinamarca… É aqui na América Latina. E, se eles podem, nós também podemos.

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