Cuidando do Centro

Há um bom tempo venho tentando convencer o prefeito Fuad Noman que o meu problema não é com ele. Tenho sim um problema com a lentidão que condena nossa cidade. Precisamos eliminar a ideia de que sempre foi assim e que nada precisa ser feito. Pelo contrário, Belo Horizonte é uma cidade grandiosa e que precisa reconhecer que é capaz de ser muito melhor em vez de ficar conformada. Por isso, um dos avanços que tivemos na Câmara Municipal foi a implantação das emendas impositivas ao orçamento. O que é isso? A prefeitura envia uma lei orçamentária todo ano que concede a ela bilhões de reais para a administração da cidade. Ocorre que nem sempre aquilo que os vereadores incluem na lei a prefeitura é obrigada a executar. Isso começou a mudar quando se criou o conceito de emenda parlamentar impositiva. Desse modo, uma parte pequena do orçamento é destinada obrigatoriamente para onde os parlamentares indicarem dinheiro. Isso garante que todo vereador tenha direito a indicar uma quantidade igual de recursos, sem perseguição política e sem toma-lá-dá-cá.

Essa semana, li aqui no jornal O Tempo que a prefeitura está anunciando uma série de medidas no meu bairro, o Centro. É um bairro que precisa ser muito mais valorizado, bem cuidado. Onde eu nasci. Onde eu cresci. Onde a cidade nasceu. Onde a cidade cresceu. Há muito tempo faltava um olhar mais próximo. A prefeitura não vai admitir, mas fica muito claro que essa administração só reage sob pressão.

Gostaria que isso tivesse sido feito na base do diálogo e que o prefeito topasse sentar para conversar. Todavia, como não foi possível, eu fico satisfeito que o Centro esteja sendo atendido, mesmo que a prefeitura esteja fazendo isso numa tentativa de neutralizar as críticas que fiz. Verdade seja dita, o importante é o resultado final.

Todo mundo conhece a história das fontes da Praça da Estação. É um espaço que a população poderia usar melhor. E essa luta sequer é minha: há diversos movimentos que ocupam esse espaço e dão vida à cidade. A prefeitura não liga as fontes da praça porque diz que é muito complexo executar a manutenção, porque sempre foi assim, sempre foi tudo muito difícil e não há nenhum interesse em mudar. Eu já ouvi até a desculpa de que não ligam para não estragar, porque se estragasse não iam poder ligar. Podem rir…

Ou seja, fica a fonte desligada e a praça sem um atrativo, sem as pessoas. Um espaço da nossa cidade que já é um marco de manifestações culturais dos mais variados tipo fica abandonado. Para mudar isso, eu garanti uma emenda impositiva, dinheiro carimbado para consertar as fontes da Praça da Estação. Acaba de ser anunciado.

No Parque Municipal Américo Renné Giannetti há um exemplo similar. Há uma obra de um espaço multiuso, um projeto de autoria do meu amigo Gustavo Penna, que está há anos negligenciada e parada. Garanti uma emenda impositiva na lei orçamentária desse ano e a Prefeitura começou a se movimentar. Que bom!

Outro exemplo é o da Praça da Independência, descaracterizada pelo anexo do conjunto Sulacap-Sulamérica. Com vista para o viaduto Santa Tereza é um respiro importante no Centro. E a retomada do espaço nem é uma ideia minha: já tinha sido decidida pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural de Belo Horizonte, do qual fiz parte, na deliberação nº 24 de 2000. Somei-me numa campanha para unir forças nessa missão em 2018. E insisti. E só agora a obra vai sair do papel. Cobrar funciona.

Ainda precisamos avançar muito no Centro. A Praça Rio Branco, localizada em frente à Rodoviária, merece muito mais que uma reforma, mas um projeto robusto de requalificação. Verdade seja dita: nas condições que a região da Rodoviária está, pouca gente vai querer morar, mas se ninguém for morar por ali, vai ser difícil querer requalificar. É uma situação difícil, que exige um planejamento ousado, flexibilização nas burocracias urbanísticas e incentivo tributário forte para romper um ciclo vicioso. Caso similar na Avenida Afonso Pena: é louvável o esforço para prometer uma ciclovia, mas podemos ousar mais: que tal um VLT, como o prefeito Eduardo Paes fez no Rio de Janeiro, substituindo as inúmeras linhas de ônibus que transformam a Avenida Afonso Pena numa rodovia e não no boulevard arborizado e agradável que a avenida merece ser.

Não é só uma fonte. Não é só um parque ou uma praça. E nem é só um problema do atual prefeito. É uma visão de cidade. Probleminha por probleminha, a cidade foi se desvalorizando. É isso que não podemos achar normal.

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