Um vereador da nossa cidade
Bastou a hipótese da minha filiação ao MDB para que algumas pessoas distribuíssem uma matéria de 2014. Naquele ano, além de ser subsecretário do governo estadual, era ex-filiado ao PSDB, no qual estive de 2005 a 2013. E, ao ver os tucanos buscando uma aliança eleitoral com aqueles de quem sempre fomos adversários, disse sentir “nojo”.
Em 2004, 2006, 2008, 2010, 2012, 2014 e 2016, votei contra o PMDB. Estava do lado oposto e fazia parte de um tipo de “militância” que faz jus à etimologia da expressão em latim “militare”, ser militar. E sentia “nojo” daqueles que considerava inimigos.
Um militar é treinado para a guerra. E, naquele momento, era mais um desses imaturos militantes, que existem em porções ainda mais intensas hoje e atuam de modo a encarar quem está do lado oposto como quem está numa batalha. Não usava capacete. Usava chapéu.
Ocorre, e levei certo tempo para desaprender isso, que o contrário de guerra não é paz. É justamente política, uma maneira não violenta de resolver as diferenças.
Tornei-me um crítico da forma com que partidos se organizam e passei a defender com veemência candidaturas independentes.
Em 2016, alojei-me no Partido Humanista da Solidariedade, que já não existe, com uma cláusula de independência para ser candidato a vereador. No documento firmado, o MDB é citado como consideração, dado o histórico de legenda “guarda-chuva” durante a ditadura. Em 2020, alojei-me no Patriota, idem. Sigo defendendo candidaturas independentes.
Na semana passada, ao ingressar na sede de uma legenda após quase três anos sendo um vereador sem partido, foi aconchegante, mas também constrangedor, ser recebido com tantos abraços, aplausos, cliques, cumprimentos e sorrisos. Na reunião, havia pessoas filiadas ao Movimento Democrático Brasileiro desde sua fundação, em 24 de março de 1966, há quase seis décadas. E, ainda que eu tenha dito o que disse em 2014, encontrei mãos estendidas com a satisfação de acolher quem xingou de maneira tão dura o maior partido do Brasil. A minha vida pública não cansa de me dar lições contundentes.
No último relatório do V-DEM, aponta-se que as pessoas que vivem em nosso planeta voltaram a experimentar índices médios de democracia de 1985, e 71% da população mundial não vive em regimes democráticos. No mais recente “Democracy Index”, da “The Economist”, o nível democrático é o mais baixo desde que começou a ser medido, em 2006. Os dados do estudo “Freedom in the World”, da “Freedom House”, são um alerta: a liberdade diminuiu no planeta pelo 18º ano consecutivo. Só não vê quem não quer: vivemos uma terceira onda de autocratização.
O Movimento Democrático Brasileiro surgiu na segunda onda de autocratização, no contexto da Guerra Fria, para se posicionar contra a nojenta ditadura militar que tivemos e foi essencial para efetivar a transição democrática também costurada aos pés da serra do Curral por Tancredo Neves, aqui em Belo Horizonte.
Achava que, com a Nova República, não precisaríamos mais erguer a democracia, mas apenas consolidá-la. Nascido em 1986, achei que essa seria a tarefa da minha geração. Estava enganado.
Hungria é sinônimo de uma nação iliberal. No entanto, Bolsonaro não vê problemas em Viktor Orbán. Alexei Navalny foi morto na Rússia. No entanto, Lula não repreende Vladimir Putin. Democracia não é conceito relativo. É regime necessário.
Sou um vereador da nossa cidade e assino hoje a minha ficha de filiação ao Movimento Democrático Brasileiro. Cheguei para ficar. Para democratizar. A eleição é passageira. Ou se ganha, ou se perde. Para que isso seja possível, de maneira sólida, a democracia tem de ser permanente.
Não se trata de ser “de direita”. Não se trata de ser “de esquerda”. Trata-se de ser democrata. E, agora, estou num partido, o que todos sabemos que é condição necessária para o que vocês sabem que pretendo, mas que a legislação eleitoral ainda não me permite dizer.