Gastronomia e sabores formam trajetória da capital

Belo Horizonte e suas delícias

Toda loja vazia, quando ocupada, merece comemoração. Vitrines, entre outros “olhos da rua”, como bem conceituou Jane Jacobs, fazem uma calçada representar vida nas grandes cidades. Para além de comemorar, quando se trata de determinado estabelecimento, há razões para ficar com água na boca…

Na esquina das ruas Espírito Santo e Goitacazes, no quarteirão onde vivo no centro, vê-se o seguinte anúncio: “Em breve, Momo confeitaria desde 1989”. Junto das palavras, a simpática e rechonchuda figura momesca. Quem conhece bem esse patrimônio de Belo Horizonte, salivou comigo. E talvez tenha invejado esses privilegiados moradores da região que passarão a ter esse privilégio ao lado das suas residências.

Criada há três décadas, a Confeitaria Momo possui sua principal loja no bairro Floresta, na rua Pouso Alegre, 1.000. Possui filiais nos bairros Buritis, Cidade Jardim, Planalto e Savassi, além da mais recente loja 24 horas inaugurada na avenida Álvares Cabral, no bairro Lourdes. No Rio de Janeiro, uma cidade com 457 anos, o estabelecimento mais famoso desse tipo possui 127 anos. A Confeitaria Colombo, um paraíso de açúcar, foi construída em 1894, quando a capital mineira estava sendo erguida. E segue lá compondo parte da história e do imaginário da cidade.

O que essas confeitarias representam para a história de BH

Para além de consumir, é preciso saber valorizar o que lugares como esse significam para a história de uma cidade. No passado, a rua da Bahia já teve a Confeitaria Suíça, que Carlos Drummond de Andrade descreveu em versos…

“A baleira da rua da Bahia é bela como as balas são divinas. Ou divina é a baleira e suas balas imitam o caramelo de seus olhos? Compro balas na Rua da Bahia para ver a baleira, simplesmente. Não me olha nem liga, apenas tira de cada vidro a cor e o mel das balas. No pacote de balas vem um pouco de beleza da pele da baleira, sua pele de linho e porcelana, sua calma beleza funcional. É suíça a baleira e inatingível. É coberta de neve, é neve pura, derrete meu desejo adolescente… Resta o gosto nevado de hortelã.”

Esse estabelecimento não existe mais. A rua da Bahia foi um desses lugares maltratados pelo tempo. Todavia, para compensar, BH segue com delícias que devem ser consumidas e preservadas por nós. Não há espaço num artigo onde caibam todas, mas vou destacar algumas…

A minha sobremesa favorita nessa nossa capital é o creme de maizena com ameixa do Café Nice. Se você ainda não comeu, coma. E trate de ir lá ainda pela manhã. Muitas vezes, quando passa de meio dia já acabou. A receita é antiga. Existe desde que o estabelecimento ainda se chamava Leiteria Nice, fundado em 1939, em plena avenida Afonso Pena.

Bem perto de mim há também a Confeitaria Mole Antonelliana, criada por um imigrante italiano em 1976. Por lá, não deixem de se fartar com pinguinis, suspiros glaçados no chocolate que lembram as aves de caminhar divertido no polo. Sem caminhar muito, entro no Mercado Central de Belo Horizonte, e com muita dificuldade em escolher, separo uma lata do biscoito saudade da Frau Bondan, criada em 2002.

“Efeito champagne” e a recuperação do setor de gastronomia na capitaL

A lista segue… a Copa Cozinha, no Mercado Novo; a Lalka, inundando a cidade toda; o Rei do Canudinho, nas cercanias da Lagoinha… e olha que eu escolhi falar apenas de delícias doces.

Num mundo onde postar nas mídias sociais a beleza de uma guloseima é gatilho para que alguém viaje, nossa Cidade Criativa da Unesco pela Gastronomia é um banquete!

A retomada de setores ligados a entretenimento, gastronomia, lazer e turismo pós-pandemia foi apelidada de “Efeito Champagne”. Vale celebrar. Toda loja aberta representa oportunidade de renda e trabalho. Assim que inaugurarem, faço questão de ir lá como vizinho para consumir e, como faço sempre ao entrar numa loja como vereador, para perguntar como a cidade, mais do que ajudar, pode não atrapalhar a prosperidade dos negócios. Desejo vida doce e longa à Confeitaria Momo.

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