Capital Mineira pode atrair Grandes eventos
Amanhã, Lady Gaga fará um show gratuito na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. Mais do que entretenimento, o evento representa uma estratégia consolidada de marketing urbano, política cultural e ativação econômica. Enquanto o Rio atrai os olhos do mundo, Belo Horizonte, com infraestrutura, público e tradição musical, permanece fora da rota das grandes turnês internacionais. A pergunta é inevitável: por que o Rio consegue — e nós não?
O caminho carioca começa com decisão política. Desde os anos 1980, com o nascimento do Rock in Rio, a cidade consolidou sua marca como capital de grandes eventos. Em 2023, lançou o projeto “Todo Mundo no Rio”, uma parceria entre a prefeitura, a produtora Bonus Track e a Live Nation, maior empresa de shows do mundo. A proposta é simples e ambiciosa: realizar um show internacional gratuito por ano até 2029. O modelo é viabilizado por um arranjo entre patrocínio público, apoio institucional e marcas privadas como Itaú, Ambev, C&A e Corona.
Os resultados não tardaram. Em 2024, o show de Madonna em Copacabana atraiu 1,6 milhão de pessoas, gerou R$ 500 milhões em movimentação econômica, lotou 96% da rede hoteleira do bairro e trouxe R$ 1,4 bilhão em retorno de mídia espontânea. Agora, é a vez de Lady Gaga. A expectativa é de 1,2 milhão de pessoas, 200 mil turistas estrangeiros, mais de R$ 600 milhões injetados na economia local, milhares de empregos temporários e transmissão global. A prefeitura investe R$ 10 milhões em patrocínio institucional. O retorno é 50 vezes maior. 50 vezes!
O sucesso desse modelo não é apenas artístico — é político e técnico. O Rio combina infraestrutura testada (estádios, arenas, transporte), vocação turística, apoio governamental, previsibilidade institucional e agilidade para parcerias. É uma cidade que entendeu que cultura é vetor de desenvolvimento, inclusão e imagem internacional. E transformou isso em projeto de cidade.
Belo Horizonte, por sua vez, tem ativos valiosos. Um estádio icônico, o Mineirão, com capacidade para mais de 60 mil pessoas. Boa oferta hoteleira. Público jovem e consumidor. Uma cena musical viva. Todavia, não tem um projeto articulado de atração de grandes shows. Coldplay, RBD e Taylor Swift não passaram por aqui em 2023.Quando vem algum grande nome, é exceção — e não política pública.
A lição do Rio para nossa cidade é clara. Se queremos transformar shows internacionais em motor de desenvolvimento, precisamos de estratégia.
Primeiro, criar uma estrutura institucional dedicada: um gabinete de grandes eventos que integre cultura, turismo e desenvolvimento econômico. Segundo, lançar editais públicos para apoiar financeiramente espetáculos de alto impacto, com critérios objetivos de retorno. Terceiro, construir um calendário de atrações com previsibilidade. Quarto, mapear locações potenciais além do Mineirão — como Praça da Estação — e estruturá-las para eventos abertos. Quinto, oferecer incentivos fiscais e institucionais para atrair investimentos do setor privado. Sexto, atrelar cada evento a campanhas de turismo e imagem. E, por fim, garantir inclusão: cotas gratuitas, acessibilidade e eventos paralelos.
Nada disso exige cifras mirabolantes. Exige decisão política, continuidade de gestão e articulação com o ecossistema criativo. O que o Rio fez foi transformar a força simbólica de um show de Lady Gaga em projeto urbano. Enquanto isso, BH assiste da grade. De longe…
Ainda dá tempo de virar o jogo. Contudo, é preciso sair da plateia e ocupar o palco. Lady Gaga já disse certa vez: “Don’t be a drag, just be a queen”. Para Belo Horizonte, o recado serve com outra tradução: não espere aplausos. Construa o espetáculo. O mundo está assistindo.