O centro em quatro paradas

Caminhar pelas ruas e identificar onde BH pode avançar

Disse: tenho pressa e não vou presidir a Câmara Municipal do gabinete. Ainda em janeiro, fiz (mais uma vez) o que todo homem público (sobretudo um vereador) precisa fazer e farei sempre: caminhei num sábado pelas ruas. Não fui sozinho. Ao meu lado, os arquitetos e urbanistas Eduardo Faleiro, João Grilo, Paulo Pontes e Washington Fajardo – este, ex-secretário municipal de Planejamento Urbano do Rio de Janeiro –, uma joia.

Primeira Parada

A primeira parada foi na sede do Banco Mercantil do Brasil, na rua Rio de Janeiro esquina com rua dos Tamoios. Luiz Henrique Andrade de Araujo é desses mineiros que vendem queijos e possuem bancos. Recebeu-nos com toda sua simpatia no Edifício Vicente de Araujo, obra modernista de Raul de Lagos Cirne, cravada no centro em 1960. O prédio, que, além de muitas contas, guarda joias como uma tela enorme, deslumbrante, de Yara Tupynambá e móveis assinados por Jorge Zalszupin e Sérgio Rodrigues, é coroado com um terraço donde se vê Belo Horizonte nas alturas. 

Vários bancos como esse já saíram do centro. Há muitos prédios completamente vazios. Tarefa: tornar a legislação simplificada para que prédios não fiquem desocupados, facilitando o retrofit. Se for misto com unidades residenciais, tanto melhor.

Segunda PARADA

A segunda parada foi no P7, na praça Sete de Setembro. Marcia Azevedo, gerente de economia criativa, recepcionou-nos numa obra de arte de Oscar Niemeyer. Com traço modernista do gênio, o edifício foi projetado para ser a sede do Banco Mineiro de Produção, em 1953, durante o governo estadual de Juscelino Kubitschek. O espaço, totalmente reformado, é propriedade da Fundação João Pinheiro, que o cedeu para o empreendimento, que busca atrair a economia criativa para o centro. Como fazer isso? É preciso aumentar a oferta residencial ao seu entorno. 

Do alto, se veem em plena região central espaços subutilizados, onde cabem muito bem torres residenciais. Tarefa: garantir que o potencial construtivo da região utilize todo o lote, sem recuos, e fazer com que as pessoas morem perto de onde trabalham. 

Uma nota adicional: a agência do Banco Itaú ocupou o antigo hall de entrada, e o enorme prédio está usando apenas a porta dos fundos. O espaço original precisa ser recuperado e aproveitado para algum estabelecimento (tal qual um café) que crie fachadas ativas para ampliar a sensação de segurança no local.

Terceira Parada

A terceira parada foi na praça Rio Branco, mais conhecida como “praça da Rodoviária”. Nela está a escultura monovolume “Liberdade em Equilíbrio”, da artista Mary Vieira, inaugurada em 1982, para pontuar a redemocratização brasileira (e seguimos nos redemocratizando). Qualquer início de acupuntura urbana precisa de uma ação nesse local. É a pura degradação. 

O entorno, no início da avenida Afonso Pena, é totalmente subutilizado. Há um prédio enorme (erguido pelo anterior proprietário do meu apartamento, José Nacif Elias Kharrat, para ser hotel) completamente vazio! Tarefa: estimular habitações sociais, seguir com o plano do ex-prefeito Marcio Lacerda de mudar a rodoviária de local e substituir construções de dois pavimentos por prédios residenciais.

Quarta PARADA

A quarta parada foi Café Palhares. KAOL. Uma sigla que qualquer belo-horizontino conhece. Entupido! Luiz Palhares, um dos proprietários, ofereceu aquele abraço, colocou mais uma mesinha na calçada, fatiou a linguiça feita diariamente e abriu aquela cerveja gelada. Fila! A rua dos Tupinambás, nesse trecho, praticamente não possui trânsito. É preciso espaço para as pessoas. Tarefa: alargar a calçada e transferir o ponto do 4205 (que passa de hora em hora), para que o tradicional estabelecimento, fundado em 1938, um patrimônio, possa lucrar mais e gerar mais emprego com mesas na calçada para além do apinhado balcão.

É assim, caminhando, que vamos fazer de Belo Horizonte uma cidade que avança na direção certa.

Compartilhe:
Gabriel de a a z

CONFIRA OUTROS ARTIGOS: