Estou em Helsinque, capital da Finlândia. Há muita coisa que eu poderia destacar por aqui. Encontrei parques exclusivos para cidadãos que possuem cachorros com grades para que os mascotes corram à vontade. Também vi ciclovias que mudaram a cara da cidade por manter o nível do terreno passando por baixo de vias. Quero, contudo, registrar outro ponto. Helsique é a cidade que possui um enorme mérito no seguinte assunto: dados abertos. A capital filandesa sempre se destacou por deter muita informação e estatística. A principal diferença é colocar tudo isso à disposição da população de maneira regional e transformar dados em políticas públicas. Visitei a prefeitura e compartilho a experiência com vocês.
Governar é escolher.
Duque de Lévis
A – Você já fez parte de um governo? Provavelmente não… Se fizer parte de um governo no Brasil, vai notar que informação é um bem precioso. Vez ou outra é dificil obtê-la, mesmo fazendo parte da administração pública. Imagine então se você está “de fora”? Em Helsinque, a informação é vasta! Todo mundo na prefeitura, parece saber a resposta para tudo. Por mais de um século (e estamos falando de um país que ainda não completou cem anos de vida), a cidade manteve um escritório de estatísticas com dados sobre a população, comércio, permissões para construir e tudo mais que você possa imaginar. Atualmente, essa informação é armazenada e disponibilizada na internet por uma agência com nome que vem a calhar: Fatos Urbanos da Cidade de Helsinque.
B – Claro, isso gera um problema em potencial: a cidade faz parte de uma região metropolitana complexa. Sozinha, possui 620.000 habitantes. Com as 12 minicipalidades no seu entorno, atinge um milhão e meio de pessoas. Logo, se o planejamento de dados levasse em conta apenas a cidade de forma isolada, as conclusões poderiam ser equivocadas.
C – Helsinki e outras cidades vizinhas se reuniram para resolver o problema. Através de uma plataforma chamada Informação Compartilhada sobre Helsinque e região (livre tradução), todas as cidades reuniram suas informações numa só ferramenta. E, com isso, os dados sobre transporte público começaram a fazer mais sentido. O planejamento do metrô partiu dessa iniciativa.
D – Isso não é tudo. Ao mesmo tempo que as ferramentas foram se regionalizando, os dados foram sendo abertos. A interface foi pensada de um modo que fosse fácil compreender dados complexos. Os formatos foram criados para facilitar a vida de programadores, pesquisadores, jornalistas e outros que pretendiam analisar, combinar e desenvolver aplicativos para o uso de cidadãos. Em quatro anos de operação, o projeto produziu mais de mil formatos de leituras de dados como, por exemplo, um mapa de poluição sonora, informacão ao vivo de acúmulo de neve e planejamento de cobrança de impostos.
E – Tudo isso colocou Helsinque à frente do movimento por dados abertos que tem se notado em cidades mundo afora. O conceito se baseia no fato de que muitas coisas boas podem ocorrer através do cruzamento de informações (chama-se isso de big data), organizando-as e publicando-as gratuitamente. A Comissão Européia para inovacão na gestão pública premiou a iniciativa.
F – O projeto segue criando transparência no governo e explorando novas fornteiras digitais. Sem falar que a economia criativa vai florescendo à medida em que empreendedores vão transformando os dados em produtos para os cidadãos-consumidores. Gostei de pensar que são start-ups cívicas.
G – Por exemplo, a Câmara de Vereadores (a estrutura por aqui é diferente) possui um sistema sem papel chamado Ahjo que ajuda os cidadãos a compreender detalhes do processo legislativo no âmbito dos debates entre os representantes da cidade. Recentemente, todos os dados foram abertos. O município criou uma interface baseada na internet, onde tudo o que a câmara já discutiu está disponível. Detalhe: quem criou o aplicativo nem vive em Helsinque. Agora, todo mundo, inclusive você, pode tomar conhecimento de tudo que se passa na câmara municipal. O tabalho dos vereadores é acompanhado bem de perto.
H – Outro exemplo é um produto chamado BlindSquare (ou quarteirão às vegas, em livre tradução), um aplicativo para celular que ajuda cegos a se locomoverem pela cidade! Tudo isso partiu de um desenvolvedor que uniu os dados disponíveis sobre transporte público e serviços com georeferenciamento e controle de voz. O produto surgiu em Helsinque e agora funciona em vários países e línguas. É vendido por dezessete euros. Por que não Belo Horizonte?
I – Asta Manninen, que foi diretora da agência Fatos Urbanos da Cidade de Helsinque e agora cuida do Informação Compartilhada sobre Helsinque e região considera que um sonho se tornou realidade vendo um aplicativo para portadores de deficência física passar a existir após uma escolha do governo em abrir seus dados. A única coisa que foi feita foi disponiblizar a informação de modo bem feito.
J – Tudo começou em 2009 quando o prefeito de Helsinque fez a seguinte pergunta: é possível medir o uso de sistema do metro de todos os usuários e não apenas dos moradores da cidade? Adiante: esse ssitema está funcionado de maneira conectada?
K – A resposta foi não. Ao cruzar os dados, ainda que cada cidade permanecesse com autonomia sobre todas as próprias informações, o sistema melhorou consideravelemente. Um documento foi redigido dizendo como o metrô deveria funcionar para resolver os problemas que os dados abertos revelaram. Eu, que sou um fã do jogo SimCity, entendo muito bem que se você não vê o problema no mapa, provavelmente não vai conseguir resolvê-lo.
L – O documento do metrô foi um pontapé para um encontro de prefeitos. No ano seguinte, três câmaras municipais (Espoo, Vantaa and Kauniainen) decidiram reunir recursos para colocar o projeto de pé. A versão beta do site foi lançada em março de 2011. Curiosamente, eu começava a construir no mesmo período, uma plataforma chamada Observatório da Juventude, para dispobilizar todos os dados do governo de Minas Gerais realtivos à jovens de 15 a 29 anos. Se o próprio governo tinha dificuldade em dizer quanto aplicava, quais programas geria e quem atendida, imagine os jovens… Você pode acessar o Observatório da Juventude aqui.
M – Hoje em dia, o orçamento anual para o projeto é de sessenta mil euros. O custo era dividido entre as três cidades de acordo com o seu PIB per capita. As outras dez cidades da região não entraram no projeto a principio. Ninguém gosta de abrir dados…
N – A sociedade civil viu muitas possibilidades na inciciativa. Alguns grupos apoiaram de cara. Houve suporte financeiro por parte da Sitra, um fundo para inovacão, mudança e sustentabildiade, e do Fórum Virium de Helsinque, um grupo formado para defender dados abertos. Ambos acreditavam que o modelo poderia ser replicado em toda a Finlândia. Além de dinheiro, houve contribuição com horas de trabalho de alguns profissionais.
O – A cooperacão foi marcante pois as administrações públicas municipais finlandesas não possuem o histórico de trabalharem unidas.
P – Desde o começo, o objetivo era criar algo que não atendesse apenas o poder público. Foram estudadas iniciativas sobre Nova Iorque, Chicago, Londres e Sidnei. Os criadores viraram verdadeiros mensagerios daquela ideia pro todas as prefeituras do país.
Q – A melhor parte disso tudo foi unificar a adminsitração pública. Eu experimentei isso… Ainda que uam secretaria de educacão e uma secretaria de saúde façam parte de um só governo, seus funcionários mal se falam. O processo não se dá em rede. Mutias vezes, um programa que mereceria ser feito de forma intersetorial, não é. A iniciativa finlandesa fez ruir os castelos de informações exclusivas trasnformando a prefeitura num grande computador conectado.
R – Uma parte louvável do processo é engrajar o setor criativo da cidade. Todo mês, a prefeitura organiza um evento com donos de start-ups e demais pessoas do setor para desenvovlimento de uma rede entre poder público e iniciativa privada, no intuito de gerar melhores ferramentas para o cidadão.
S – Helsinque também organiza competições para desenvolvedores de aplicativos para a cidade! O aplicativo criado para cegos venceu o concurso de 2012. A competição se chama apps para a Finlândia. O mesmo aplicativo ganhou um prêmio da associação Cidades Abertas. Agora, a cidade passa para uma nova etapa nese tipo de competicão.
T – Datademo. Essa nova competição direciona os competidores para resolver os problemas e não criar de maneira tão ampla. Ou seja, é o poder público sendo genial ao fazer cidadãos se engajaram para resolver o problemas dos lugares onde as pessoas vivem.
U – O Datademo recebeu mais de 40 aplicativos na sua primeira rodada. Entre eles, as oito melhores sugestões ganharam 3 meses para implementar suas ideias, além de dois mil euros. A mesma lógica vai se repetir mais duas vezes. O resultado? Um porção de novas soluções para o espaço urbano. Mantendo o espírito de transparência e participação, todo mundo pode votar.
V – As protas abertas com essa iniciativa são inúmeras. A prefeitura economiza muito dinehiro vendo a tecnologia funcionar.
X – Um projeto ambicioso está dentro os participantes. Chama-se “R”. O objetivo é ter uma resposta para qualquer perfunta sobre a cidade. Todo prefeito gostaria de um desses no celular…
W – Por que razão algumas pessoas esperam tudo do governo? Outras, até tentam ajudar, mas esbarram na montanha de burocracia que impede a maior parte das pessoas de enxergar o que ocorrer com o dinheiro que ela paga em impostos!
Y – E se uma iniciativa dessas fosse ser feita em Belo Horizonte? Os dados da capital mineira são abertos para quem quiser ver? Isso é muito importante.
Z – Não há democracia sem informacao. E informação não é apenas abrir dados. O cidadão precisa ver esses seu direito sendo protegido!