Câmara de BH detectou em 2021 ação contra serra do Curral
Nascido em 1986, não cheguei a utilizar num vidro o adesivo “olhe bem as montanhas”, guardado com carinho por toda uma geração. Tenho um que recebi de presente. A ideia da peça era protestar contra a destruição de um traçado tão próprio da nossa capital. Nossa bandeira. Nosso brasão. Até jingle eleitoral de um querido amigo essa frase virou em 2010…
A indignação com a possibilidade da modificação da serra do Curral como a conhecemos trouxe de volta a Minas Gerais algo que há muito tempo não víamos na nossa Unidade Federativa: uma disposição para a defesa de princípios e o posicionamento corajoso.
Correndo o risco de ser repetitivo, insisto que a compreensão dos movimentos políticos que residem no fundo de cada decisão é fundamental para entendermos o que acontece. O caso das mineradoras buscando interferir na política de Minas Gerais, com contribuições eleitorais e relações pessoais, não é novidade.
A Câmara Municipal de Belo Horizonte já tinha detectado sinais dessa movimentação: ainda em 2021, no pedido de abertura da CPI dos favores pessoais e políticos, travada no TJMG, com reflexo no ciclo eleitoral deste ano, já se identificava a atuação de agentes políticos e lobistas na prefeitura, parte interessada, para atrasar o processo de expansão do tombamento estadual da serra do Curral, esse sim o principal ponto nesta história.
O caso, público há meses, só ganhou resposta quando, juntamente com a vereadora Professora Duda Salabert, anunciamos uma CPI específica para investigar a omissão do município de Belo Horizonte nesse processo. De repente, abandonando totalmente a letargia, imediatamente o município mudou de opinião, deixou o silêncio e resolveu se juntar ao esforço de preservação. Se alguns vereadores desistiram de seguir em frente com essa CPI fundamental por algum tipo de acordo com a prefeitura, já deixo claro que essa não será a minha postura.
É por casos como esse que acredito que trocando os conchavos e a acomodação pela pressão constante, temos, sim, chances de reverter absurdos. O poder econômico, nesse caso, só será devidamente tratado se o custo político da decisão pela exploração da serra do Curral ficar alto demais.
A todos que me chamam de brigão, encrenqueiro, por causa da minha atuação independente, reforço: é hora de colocar mais lenha na fogueira porque é assim que a política funciona. Por isso, além da CPI, também enviei representação ao Ministério Público Federal e ingressei com ação no Poder Judiciário. E não sou o único, sei bem… É que, acostumado a enfrentar as causas que valem a pena, sempre as mais difíceis, como a máfia de ônibus em Minas Gerais, sei que o esforço tem de ser aquele de água mole em pedra dura.
Não é só pelas pessoas que vivem em Belo Horizonte. Dos 526 tipos de animais catalogados na serra do Curral, 33 vivem só lá. E 11 espécimes já correm risco de extinção, de acordo com a Fundação de Parques e Zoobotânica. Muita gente ainda não se deu a oportunidade de caminhar pelo cartão-postal que emoldura nossa cidade. Eu já. Muitas vezes. E me preocupo mais com algumas atividades minerárias que já existem lá, totalmente sem normas técnicas, do que essa agora aprovada.
Diante das últimas tragédias de lama em Minas Gerais, sobretudo Brumadinho, criamos uma comissão sobre barragens na Câmara Municipal. Além do abastecimento de água e tantas outras questões, o procedimento da mineração, quando inadequado, perfura nossa alma mineira.
Ainda que a cratera a ser aberta seja em um município vizinho, Belo Horizonte é impactada. Abandonando o medo de se posicionar e enfrentar o que é difícil, temos a chance de fazer a coisa certa. Para abrir a CPI na Câmara Municipal é preciso 14 assinaturas. Com a minha, faltam 13. Vamos a elas para o Poder Legislativo não se omitir nessa questão. Olhe bem a montanha, olhe em todo lugar…