A tradição culinária que reflete a generosidade e hospitalidade de BH precisa ser vendida aqui dentro e lá fora com orgulho
Nem todo mundo tem o privilégio de nascer belo-horizontino. Alguns se tornam por escolha. Recentemente, perdemos Francisco Tomás Mesquita, um uruguaio que escolheu nossa cidade para deixar um legado duradouro.
Tomás, como eu e tantos outros o chamavam, não nasceu belo-horizontino, mas se tornou um dos nossos. Nascido em Artigas, no Uruguai, escolheu Belo Horizonte como seu lar. Tomás, que nos deixou aos 82 anos, chegou ao Brasil para trabalhar no setor de tabacaria, mas foi ao abrir seu primeiro restaurante que realmente cravou raízes.
Ele começou com o Parrilla del Mercado, introduzindo a autêntica parrilla uruguaia para uma população que já é exigente com experiências gastronômicas. Ele não apenas serviu saborosos pratos tradicionais, mas também construiu um espaço onde cada visitante se sente em casa.
Mercado Distrital do Cruzeiro
O Mercado Distrital do Cruzeiro é um desses lugares que fazem Belo Horizonte ser Belo Horizonte. Toda cidade que se preze tem o seu mercado para si e para o mundo. Temos o privilégio de ter vários. De maneira carinhosa, olfativa até, a gente se conecta com aquele espaço, que é bom para tudo. É lá que quase religiosamente vou às sextas-feiras para almoçar. Ainda há por lá festas, sem falar em eventos únicos, como cantar junto de Acir Antão as músicas mais clássicas de Nelson Gonçalves.
Abordagem Empreendedora
O Parrilla del Mercado é um símbolo do que faz nossa cidade especial: receptividade, sabor… e uma paixão compartilhada por nossa culinária. Foi meu pai que me levou lá ainda criança. E nunca mais deixei de ir. Com sua abordagem empreendedora e respeito à cultura local, Tomás exemplificou o orgulho de ser belo-horizontino. Seu restaurante é um lugar de celebração e convívio, onde famílias e amigos desfrutam de momentos inesquecíveis.
Além disso, ele gera empregos e inspira muitas outras iniciativas na culinária mineira. É o coração do Mercado Distrital do Cruzeiro.
Tradição culinária
Todo belo-horizontino expressa orgulho pelo aconchego de nossa capital mineira, mas nem sempre parece que as lideranças políticas abraçam esses valores de forma plena. A tradição culinária que reflete a generosidade e hospitalidade de Belo Horizonte precisa ser vendida aqui dentro e lá fora com orgulho, por alguém que ame a cidade e que converta esse amor em investimentos e visitantes que contribuam para o desenvolvimento da nossa cidade. Tem que ser fácil empreender…
Com meu amigo e sócio Léo Paixão, também me somo no setor gastronômico da cidade. Nos últimos dias da semana, à noite, a função de presidente da Câmara Municipal é eclipsada pela de garçom (e já são três anos servindo as mesas) e, às vezes, cantor do Mina Jazz Bar. Não vejo os outros estabelecimentos de Belo Horizonte como concorrentes: pelo contrário, todos nos beneficiaríamos de uma cidade que, com respeito à vizinhança, mas com liberdade para empreender, valorizasse seu título de capital dos bares.
Exemplo de Tomás Mesquita
Todos os setores econômicos se beneficiariam de uma cidade mais aberta aos investidores e turistas do mundo.
Belo Horizonte se orgulha de ser uma cidade de oportunidades e respeito mútuo, que aprende com todos os que aqui escolhem construir seu futuro. Tomás Mesquita é um exemplo brilhante desse espírito. Que possamos lembrar e honrar sua memória, mantendo viva a chama que ele acendeu em nossa gente.
“Naquela mesa tá faltando ele, e a saudade dele tá doendo em mim”. Às filhas Ana Paula, Laura e Fernanda, à sua companheira de vida, Ederci, aos netos e a toda a comunidade do “nosso Parrilla”, meu abraço e todas as nossas homenagens.