Democracia exige menos espetáculo e mais presença
Prioridade política
O papel de um governador é liderar sistemas públicos. É acionar protocolos. É articular Defesa Civil, municípios e União. É garantir planejamento, prevenção e resposta. Solidariedade institucional não é discurso. É prioridade política.
Os dados ajudam a iluminar esse contraste. Em Juiz de Fora, mais de R$ 356 milhões do Novo PAC foram destinados a obras de drenagem em bairros como Industrial, Santa Luzia e São Pedro, além de R$ 63 milhões em Santa Efigênia. A prefeitura anunciou R$ 420 milhões em obras estruturais contra enchentes. Do ponto de vista estadual, não há um inventário público consolidado de grandes obras de contenção entregues especificamente na cidade, com cronograma, indicadores e valores claros.
Busca por estímulos rápidos
Entre 2020 e 2024, mais de 800 municípios mineiros decretaram situação de emergência por chuvas. Ainda assim, a política estadual tem se apoiado em ações emergenciais e repasses pontuais, não em uma estratégia preventiva integrada para cidades médias.
Paralelamente, a política vem sendo capturada pela lógica da dopamina digital. Plataformas são desenhadas para estimular curtidas, notificações e visualizações, criando ciclos de engajamento imediato. Quando a política se submete a essa lógica, ela passa a competir por atenção, não a oferecer solução.
O relatório Digital 2024 mostra que o Brasil está entre os países que mais tempo passam em mídias sociais, com média superior a três horas e meia por dia. Estudos publicados na Nature Human Behaviour indicam que plataformas digitais ampliam polarização e reduzem deliberação. Pesquisas de Carol Galais e Eva Anduiza mostram que o engajamento digital de baixo custo gera sensação de participação, embora reduza a ação cívica real.
Compromisso
Quando a política se orienta por algoritmos, performance passa a valer mais do que solução. Compartilhar substitui agir. Curtir substitui cobrar. Governar requer densidade, técnica e trabalho.
Estimular uma cultura política baseada em dopamina enfraquece a democracia e a gestão pública. Democracia exige menos espetáculo e mais presença. Minas Gerais não precisa de um governador influenciador. Precisa de um governador comprometido com a vida real das pessoas.


