Sempre brigando por Belo Horizonte

Negociando modelos de financiamento do transporte coletivo

Sempre me alertam de que eu não devo entrar em conflitos infrutíferos. Muita gente que me quer bem insistia que enfrentar o modelo atual do sistema de transporte coletivo não daria em nada. Contudo, tivemos um expressivo avanço nesta semana ao convencer o prefeito Fuad Noman a apoiar iniciativas de reformulação do contrato atual. Não dá pra viver de briga, mas defender seus princípios funciona… por vezes brigando. Agora, vamos voltar a falar de soluções.

Estive ontem em Brasília acompanhado de representantes da Prefeitura de Belo Horizonte para uma agenda com o presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco. Na pauta, modelos de financiamento para o transporte coletivo. Nesse assunto, algumas obviedades precisam ser ditas: transporte custa dinheiro. Transporte é de interesse de toda a sociedade. Mesmo quem não usa transporte público coletivo se beneficia indiretamente da existência do serviço. E, com todas as críticas possíveis aos empresários que prestam o serviço, que todos conhecem desde a CPI da BHTrans, nenhum deles ficou rico rasgando dinheiro.

Recursos e Contrapartidas

Então é preciso falar de uma dupla: recursos aportados no sistema e contrapartidas que garantam qualidade, negando o dinheiro a quem não prestar um bom serviço. Não é pedir favor ou esperar que, por um passe de mágica, empresas com fins lucrativos fiquem surpreendentemente solidárias e altruístas. É garantir que só lucre quem trabalha direito.

Sobre as contrapartidas e condicionantes, já me alonguei muito por aqui. Em vez de multas não pagas, cortes diretos e imediatos nos repasses decendiais às empresas são o que defendo. E, sobre os recursos, o prefeito já avisou: a cidade não tem como bancar sozinha o serviço. Por isso viemos a Brasília buscar.

Mobilidade Urbana

Na reunião com o mineiro que preside o Senado Federal, lembramos a Rodrigo Pacheco o Projeto de Lei 3.278 de 2021, de autoria do ex-senador e atual ministro do Tribunal de Contas da União, professor Antonio Anastasia. A proposta atualiza o Marco Legal da Política Nacional de Mobilidade Urbana para tratar de definições de transporte coletivo e da priorização de projetos de transporte público coletivo estruturadores do território urbano e indutores do desenvolvimento integrado.

A proposta também regula os contratos de prestação de serviços de transporte público, estabelecendo a distinção entre a tarifa pública cobrada dos usuários e a tarifa de remuneração da prestação do serviço e os procedimentos para os repasses dos déficits tarifários ou superávits tarifários entre o poder público delegante e o delegatário do serviço.

Recursos

O projeto também propõe escalonamento do horário de funcionamento das diversas atividades urbanas, visando proporcionar a distribuição mais uniforme da demanda de viagens urbanas durante o dia, e determina que no mínimo 60% dos recursos da Cide, o imposto dos combustíveis, sejam destinados aos programas de infraestrutura de transportes que devem ser aplicados nas áreas urbanas.

Também há a previsão de aplicação de tributos sobre modos e serviços de transporte urbano pela utilização da infraestrutura urbana, visando desestimular o uso de modais menos eficientes e convertendo os recursos para subsídio público da tarifa.

Vinculação

Devo aqui fazer um elogio à sabedoria do autor do projeto: meu amigo, o professor Anastasia, em vez de propor um aumento de carga tributária, incluiu na lei a vinculação de tributos e receitas que já existem para financiar o transporte de forma mais inteligente. Trata-se, então, de um projeto viável.

O Ministério das Cidades já fez uma consulta aberta sobre o projeto, que rendeu mais de 800 sugestões, a serem compiladas em um conjunto de aprimoramentos. Agora, a proposta está na Comissão de Serviços de Infraestrutura do Senado Federal, sob relatoria do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB), cuja equipe já contatei e estabeleci diálogo. No Senado ela tramita de forma terminativa, ou seja, aprovada lá, já segue direto para a Câmara dos Deputados, na qual já comecei a procurar parlamentares, sobretudo a minha deputada federal Nely Aquino.

É hora de os recursos que já estão em Brasília servirem como aliados para financiar uma mobilidade mais inteligente. Brigar por boas causas sempre vale a pena.

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Gabriel de a a z

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