Exemplos para a mobilidade urbana
Conhecer lugares pelo mundo é um privilégio. O México foi o 93° Estado-nação que visitei. Faltam-me 102 outros de acordo com a ONU. Nessa viagem, preciso registrar que a capital dos Estados Unidos Mexicanos tem muito a nos ensinar. Os textos que apontam exemplos urbanísticos para inspirar brasileiros listam geralmente cidades em localidades com características muito diferentes das nossas.
Os indicadores de Londres, Paris e Tóquio estão bem acima da média das nossas cidades. A Cidade do México guarda semelhanças visíveis com São Paulo, a maior cidade brasileira. Aliás, essa cidade que me deixou encantado vai ser bem divulgada no ano que vem, quando sediar a Copa do Mundo de 2026, inclusive com a abertura, numa inédita parceria trinacional norte-americana.
Para além de me fartar com toda variedade gastronômica da Cidade do México, fiz questão de experimentar o diverso sistema de mobilidade que existe nesse lugar. Destaco a experiência que tive na estação de teleférico Quetzalcoatl em Iztapalapa. 80.000 pessoas utilizam por dia um sistema de teleféricos inaugurado há três anos.
A massa de usuários desse sistema se beneficia de uma ideia que buscou conectar áreas onde vivem os trabalhadores até pontos de conexão para o sistema de metrô e ônibus, sobretudo em áreas com variação de altitude. É como se, em Belo Horizonte, um morador do Aglomerado da Serra pudesse embarcar na praça do Cardoso, no Bairro Marçola, e desembarcar na praça Milton Campos, na esquina entre as avenidas Afonso Pena e Contorno, para mais facilmente entrar num ônibus, ou na avenida dos Andradas para utilizar o metrô. Anotado para o plano de governo que será proposto em 2028.
A terceira linha do sistema de teleféricos foi inaugurada recentemente pela presidente Claudia Sheinbaum (que foi prefeita da cidade quando a rede se iniciou), conectando as bordas da cidade ao parque Chapultepec, bem na área central. A quarta linha já está anunciada. Não há combustível fóssil e há diminuição profunda no tempo dessas pessoas indo de onde moram para onde trabalham. La Paz, na Bolívia, e Medellín, na Colômbia, que tive a oportunidade de visitar, utilizam esse sistema há décadas, mas a Cidade do México escalou uma rede em proporções de usuários que pode servir de aula ao Brasil, sobretudo pela viabilidade financeira.
Uma das vantagens claras é fornecer mobilidade para áreas já muito adensadas onde uma linha de metrô ou ônibus exigiria demolição e desapropriação. Aliás, em Belo Horizonte, também serviria perfeitamente ao Belvedere e ao Buritis. Com o bônus da vista… O que vi no México foi ainda o crescimento do comércio no entorno dessas estações, como sempre acontece em locais de conexão da mobilidade urbana.
Para além de Condessa, onde me hospedei, Polanco e Roma são vizinhanças que encantam por muitos atrativos. O mobiliário urbano da avenida Presidente Masaryk é de cair o queixo numa via que se tornou uma profusão de vitrines por uma correta mudança da regulamentação do seu uso. E para ir e vir pelos bairros, utilizei muito o sistema de ônibus e metrô.
Sempre me pergunto diante daqueles que criticam o modelo subsidiado de transporte coletivo qual é o formato que eles defendem e em que local do mundo funciona? Na Cidade do México, o subsídio para os ônibus deixa o preço da passagem bem acessível de modo a estimular o uso pelos passageiros. A prefeita Clara Brugada, eleita no ano passado para um mandato de seis anos, prometeu ampliar em cinco o número de linhas do “metrobús”, um sistema rápido de ônibus elétricos que corta a cidade em várias direções. Foi fácil usar.
Claudia Sheinbaum, ex-prefeita e hoje presidente, tem como marca esse sistema de “metrobús”. No cargo, suas habilidades políticas fizeram uma concorrente da BYD, a Yutong, turbinar o sistema de mobilidade da cidade. Bons exemplos existem. Adaptá-los após uma boa dose de inspiração (e mezcal) faz toda diferença.