Iniciativa possibilitará centro esportivo de BH cumprir a função social
Parte da dupla indissociável de espaços de eventos, Mineirão e Mineirinho andaram por muito tempo em passos distintos. O Estádio Governador Magalhães Pinto, o Gigante da Pampulha, passou por uma reforma e uma concessão que não agradaram muito os torcedores de futebol, mas que certamente colocaram Belo Horizonte de volta à rota dos eventos que trazem cultura e desenvolvimento à cidade.
Agora é a vez do Estádio Jornalista Felipe Drummond, conhecido como Mineirinho. Em maio desse ano, o ginásio poliesportivo foi concedido por 35 anos à iniciativa privada. Quem levou o leilão, com um investimento previsto de R$ 132 milhões, foi o consórcio liderado pela Progen. E os planos anunciados pelo CEO Eduardo Barella, o mesmo que está à frente da concessão do Pacaembu, em São Paulo, são alvissareiros.
Eduardo Barella
Sobre o líder da empreitada, vale destacar que compartilho muitas visões de cidade com Eduardo Barella. Para quem reconhece que certo espírito provinciano (e por qual razão não dizer encosto provinciano) nos assola, aliás, é fundamental celebrar o fato de ter um bem-sucedido empresário paulista com interesse na capital mineira. É algo que precisa ser preservado.
Empreendedor muito bem-sucedido, com sua gigante da engenharia Progen, Barella é colecionador de arte. Sua mulher, Camilla, criou uma feira de arte em SP. No Pacaembu, já conseguiu atrair diversos ocupantes para um estádio sucateado por décadas: do hotel da Universal a um centro de reabilitação esportiva do hospital Albert Einstein.
E outra coisa que temos em comum: enquanto muitos empresários se isolam em condomínios fechados, longe da cidade, Eduardo Barella mora no centro de São Paulo. Eu preciso celebrar isso num Brasil onde parcela considerável da elite desaprendeu o que é vivenciar uma cidade e só faz isso quando viaja de férias, preferindo se isolar em ambientes reclusos para morar e trabalhar.
Integração à vida urbana
Não é bajulação, mas uma constatação de urbanismo: se morar na cidade, viver a vida urbana, usar transporte público, forem coisas para quem não tem outra opção, enquanto os mais ricos fogem para condomínios em seus carros, nunca poderemos ter a cidade que merecemos.
É curioso, aliás, que muita gente no Brasil que não abre mão do automóvel volte de Londres ou Paris comentando do prazer de andar de metrô, tomar um café na calçada e andar com prazer pelas ruas. Em vez de atravessar o oceano, precisamos implantar também por aqui uma cidade convidativa que permita isso. Eu pratico o meu discurso.
Voltando ao nosso Belo Horizonte, temos na Pampulha uma área pouco convidativa por design. Também na concepção rodoviarista da época, um reparo que precisa ser feito mesmo com todos os elogios a Juscelino Kubitschek, nem mesmo a orla se tornou um lugar pensado para as pessoas. Grandes distâncias, poucas fachadas ativas, poucas gentilezas urbanas tornam a área erma para quem caminha por ali.
Desafios similares ao do Pacaembu
Embora o estádio paulistano seja mais central, os desafios de Pacaembu e Mineirinho são similares. Muita gente contesta as concessões como se fossem “privatização do espaço público”, mas é preciso chamar atenção para o que é realmente grave: tratavam-se de patrimônios públicos só no papel, tombados sem preservação adequada, e que não cumpriam sua função social mesmo que ainda seguissem estatais. Não recebiam eventos, não ajudavam na arrecadação de impostos, na geração de empregos, não movimentavam a economia. Não adianta nada ser público na escritura e não servir à população.
Enquanto o Mineirinho esteve fechado, vários campeonatos e shows de porte compatíveis com o ginásio deixaram de passar por Belo Horizonte. Recuperar esse equipamento público pode abrir portas para uma cidade mais global, preservando tradições locais, como a clássica Feira do Mineirinho, que vai seguir por lá. É uma grande chance para nossa cidade. Tem meu apoio e meu desejo de sucesso.