O jornal “O Globo” publicou na semana passada uma longa entrevista com Marc Prensky, especialista norte-americano em educação e tecnologia, que vem ao Brasil em agosto para participar de um simpósio internacional sobre suas áreas específicas de conhecimento e atuação. Tomo a liberdade de transcrever trechos da reportagem, de autoria da jornalista Josy Fischerberg, com os principais pontos do raciocínio de Mark Prenske. Numa era de disrupção econômica e comportamental, ele apresenta propostas para a disrupção do sistema educacional, e é importante observar e analisar os temas que este entusiasta do mundo digital traz para o debate.
A – Autor de vários livros sobre a necessidade de transformação dos parâmetros da educação com foco em um modelo novo, e não com base na educação do passado, Marc Prensky afirma que a tecnologia deu às crianças uma grande quantidade de novas capacidades e que elas “precisam chegar ao futuro munidas de habilidades que as farão bem-sucedidas no terceiro milênio, e não equipadas para o mundo de ontem em que nós crescemos”.
B – De acordo com o autor do termo “nativos digitais”, com o qual define a geração que convive com a tecnologia desde o nascimento, “os fins educacionais devem mudar: não se trata mais de buscar boas notas, mas sim de fazer do mundo um lugar melhor”. Ele acrescenta que um projeto educacional para as novas gerações deveria ter como foco a busca de soluções de problemas do mundo real e que, para que isso seja implantado, são necessários “novo currículo, nova perspectiva no uso da tecnologia, professores que precisam desempenhar um novo papel”.
C – Mark Prensky defende que a nova educação deve ser direcionada ao desenvolvimento de habilidades, em uma estrutura didática totalmente diferente, sem a linearidade dos cursos hoje em funcionamento. Para ele, “as habilidades não seriam ensinadas em um curso, não haveria grade curricular formada a partir disso. São habilidades que as pessoas precisam ter a vida toda e que devemos fazer com que sejam boas nisso. Uma das melhores maneiras de se trabalhar essa ideia é fazer projetos. E, ao final de cada um deles, verificar com cada criança ou jovem: essa habilidade melhorou? Aquela outra apareceu”?
D – O especialista propõe que as escolas deveriam ir além das matérias tradicionais, ensinando habilidades como negociação, resolução de conflitos, gestão de projetos, foco, empreendedorismo, liderança e agilidade, entre outras que apresenta em suas obras, e que a grande dificuldade para fazer essa modificação radical são os professores. “Como você prepara qualquer pessoa para o fato de que o que ela está fazendo se tornou obsoleto? É um grande problema, que não é exclusivo dos professores. Acontece também com os trabalhadores das fábricas, com os agricultores… Seu trabalho mudou”, diz ele.
E – No caso dos professores, avalia Prensky, “a quem damos a tarefa de educar nossos filhos enquanto trabalhamos, precisamos vê-los — e eles precisam se ver — não como ‘provedores de conteúdo’, já que essa é a parte que está desaparecendo, mas sim como pessoas que escolheram o papel de ajudar as crianças a realizar seus sonhos. Os professores muitas vezes se queixam quando falamos sobre o lado pessoal do seu trabalho, e não da questão do conteúdo, mas é isso que conta. Como pais, confiamos neles para auxiliar nossos filhos a ir tão longe quanto possível no mundo. Não no mundo acadêmico, mas no real”, afirma.
F – O pesquisador entende que o professor deve ter a missão de conhecer cada criança intimamente e ajudá-la a descobrir suas forças e paixões e aplicá-las de forma que torne seu mundo um lugar melhor. “Para essa criança, isso significa ter instrutores que veem seu trabalho como empoderador, para que ela leve seus sonhos a sério e trabalhe duro — não a partir de um conjunto prescrito de conteúdos, mas em projetos que aumentam suas habilidades e capacidades e melhoram o mundo”. Prensky defende a transformação da escola em um local onde se busque soluções para problemas reais, e que as crianças tenham a responsabilidade de trazer estas soluções.
G – Quanto ao papel dos pais, em um cenário em que, na visão do pesquisador, a escola não cumpre a função de preparar as crianças para o século XXI, Marc Prensky afirma que os pais precisam encorajar seus filhos a pensar – não apenas uma vez, mas regularmente, por meio de três perguntas: “Quais são os problemas que eu vejo no mundo e sobre os quais eu particularmente me interesso? Quais são os meus pontos fortes que poderiam ser aplicados para resolver esses problemas? O que eu amo fazer? Quando essas três coisas se juntam, você obtém uma pessoa altamente motivada que provavelmente irá conseguir muito”.
H – O educador também fala sobre a diferença entre os “nativos digitais” e os “imigrantes digitais”, aquelas pessoas que só tiveram contato com as tecnologias digitais em sua vida adulta, e diz que esta separação, mesmo no futuro, quando todos já forem “nativos digitais”, não irá desaparecer totalmente. “As coisas sempre evoluirão, mas o que importa é o quanto o ambiente mudou recentemente, o quanto nossa relação individual com máquinas e tecnologia cresceu e o que isso significa para o resto de nossas vidas. Aqueles, jovens ou velhos, que não aceitaram essas mudanças são pessoas de uma era diferente. Nada desaparece totalmente, e sempre haverá pessoas com perspectivas antigas. Mas as novas coisas, os novos relacionamentos e as novas atitudes estão se tornando dominantes”.