‘Liveability’: do que é feita uma cidade boa?

Critérios para o desenvolvimento e bem-estar

O “Global Liveability Index”, produzido anualmente há tempos por The Economist Intelligence Unit, agência ligada à revista inglesa, se propõe a responder essa questão. A classificação é peculiar até na hora de traduzir o significado do índice. Afinal, “liveability” já foi traduzido em português para “habitabilidade”, mas o conceito é difícil de incluir em uma expressão só. Aqui, costumamos definir essa sensação como “qualidade de vida”. O relatório mais recente foi publicado há algumas semanas para criar a classificação de 2022, que apurou 172 cidades. Infelizmente, Belo Horizonte não fez parte da lista.

No topo do ranking, chama a atenção Viena. A capital da Áustria liderou a lista em 2018 e 2019, despencou para a 12ª posição durante a pandemia e voltou ao primeiro lugar no índice deste ano.

A Covid-19 desempenhou papéis distintos: cidades que souberam aplicar medidas preventivas prevaleceram no início da crise. Depois, tinham vantagem aquelas que souberam utilizar bem a vacinação e retornar à normalidade na medida certa. O “normal” variou de cidade para cidade. Adiantar demais a liberação provoca estresse nos sistemas de saúde e derruba os índices. Manter restrições exageradas por muito tempo também faz a localidade perder pontos.

Covid e guerra afetaram desenvolvimento das cidades

É muito interessante fazer leitura criteriosa dos dados dos relatórios de 2019, 2020, 2021 e 2022, justamente para entender o que a pandemia significou para os grandes centros urbanos e quais souberam prevalecer da melhor forma.

Se o coronavírus foi o grande fator de perturbação na vida urbana nos últimos anos, o índice desta vez também varia por causa da guerra da Ucrânia: um aumento global na inflação põe em risco a qualidade de vida em muitas cidades, com cidadãos pagando mais caro para viver ou governos se endividando demasiadamente para absorver os choques em políticas anticíclicas.

Um maior custo de vida não apenas piora a existência dos cidadãos: também serve como fagulha para acentuar conflitos socioeconômicos latentes. Cidades desiguais, que não oferecem oportunidades para todos, podem ver seus conflitos se exacerbarem ainda mais.

Para determinar os índices,  The Economist Intelligence Unit aplica critérios englobados em cinco categorias: estabilidade; serviços de saúde; cultura e meio ambiente; educação; infraestrutura.

Afinal, pra que serve esse índice e onde quero chegar com isso?

Comparação entre cidades permite identificar melhores opções para investimentos

A proposta de The Economist Intelligence Unit é fornecer dados para que empresas e executivos tomem decisões. No índice de cidades não é diferente: ao quantificar diferentes aspectos, a agência permite que as cidades sejam comparadas objetivamente. Uma melhor qualificação, obviamente, atrai investimentos, e uma cidade que fique para trás na lista tem uma desvantagem competitiva.

Para mão de obra qualificada, as empresas costumam ter que oferecer benefícios a mais para levar seus executivos. Ou seja, cidades piores entram num ciclo tenebroso de afastar mão de obra qualificada, frear o desenvolvimento e gerar consequências negativas para toda a população. Fazer da cidade um lugar melhor para se viver não pode ser só  discurso de platitudes: trata-se de política pública que melhora a vida de todo mundo.

Incentivar a energia solar

Das 173 cidades medidas, há apenas duas brasileiras: Rio de Janeiro e São Paulo. Uma das medidas urgentes é agir para incluir a capital mineira.

Empresas de energia solar que tiveram perdas enormes com painéis atingidos na Ucrânia, e uso aqui um exemplo real, passaram a ver o Brasil como uma oportunidade de investimento. Minas Gerais, como é sabido, oferece condições de produção energética excelentes. Fazer com que a produção dessa matriz enérgica exista em todo território mineiro é excelente, mas buscar a sede dos investidores aqui na capital é fundamental. Se figurarmos em listas como essas e se agirmos direcionados por esse ranking, o resultado virá, com desenvolvimento e empregabilidade, o que todos precisamos.

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