Sou democrata e adepto do diálogo
Sou um democrata e também sou parte de uma minoria. Muito menos da metade das pessoas no nosso planeta vivem em regimes democráticos, de acordo com o Democracy Index mais recente, registre-se, e muitos outros índices sérios… basta escolher.
Temos exemplos de governantes populista-autoritários que não fazem parte da esquerda no mundo: Bukele (El Salvador), Erdogan (Turquia), Meloni (Itália), Milei (Argentina) e Orbán (Hungria). Ainda é um número muito menor do que o de autocratas que fazem parte da esquerda e que governam autocracias: Xi Jinping (China), Kim Jong-un (Coreia do Norte), Pham Minh Chính (Vietnã), Díaz-Canel (Cuba), Nicolás Maduro (Venezuela), Daniel Ortega (Nicarágua), Sonexay Siphandone (Laos) – para não falar de Vladimir Putin (Rússia), que investe nos dois lados e, claro, dos autocratas islâmicos, como Ali Khamenei (Irã), Bashar al-Assad (Síria) e não menos do que 15 ditadores, entre os quais Hibatullah Azhundzada (Afeganistão), Mohammad bin Salman (Arábia Saudita), Salman bin Hamad bin Isa Al Khalifa (Bahrein), Mohammed bin Abdul Rahman Al Thani (Catar), Xeque Mohammed bin Rashid Al Maktoum (Emirados Árabes Unidos), Mohammed Ali al-Houthi (Iêmen), Abdullah II bin Al Hussein (Jordânia), Mishal Al-Ahmad Al-Jaber Al-Sabah (Kuwait), Mohamed al-Menfi e Abdul Hamid Mohammed al-Dabaib (Líbia), Maomé VI e Aziz Akhannouch (Marrocos), Haitham bin Tariq Al Said ( Omã), Hassan Sheikh Mohamud (Somália), Abdel Fattah al-Burhan (Sudão).
Há quem se dedique profundamente ao conflito entre quem faz parte da direita e quem faz parte da esquerda. Não é o meu caso. A minha energia política também é canalizada para me opor a quem não é democrata e, por consequência, corrói a democracia.
E de que maneira podemos auxiliar a fomentar a democracia? Uma delas é dialogar com quem é diferente e com quem pensa diferente. A democracia não é o regime da maioria. A democracia é o regime das múltiplas minorias.
Faço parte do Movimento Democrático Brasileiro, surgido há seis décadas para se opor ao regime autocrático que se estabeleceu no Brasil. Sua função principal era fundamental nos anos sessenta. Sua função principal voltou a ser atual agora, o que é uma pena, claro, mas um fato. O MDB é plural, como o Brasil, e vou me dedicar a torna-lo ainda mais democrático e diverso em Minas Gerais. E, bem mais que isso, pretendo dialogar com as demais forças partidárias e políticas, o que é essencial.
Peço licença para falar do Partido dos Trabalhadores. Nessa semana, tive a oportunidade de dialogar com dois petistas mineiros: João Batista dos Mares Guia e Marília Campos. Ouso, sendo conhecido pelas críticas que já fiz, permitir-me uma opinião: prestem atenção em João Batista dos Mares Guia e Marília Campos.
Um democrata compreende algumas questões básicas. O contrário de guerra não é paz. É política, a forma não violenta de resolver diferenças. Um democrata não quer exterminar inimigos. Um democrata deseja persuadir adversários. Parte dos problemas políticos que vivenciamos na atualidade advém do comportamento naturalizado de quem convive apenas com quem pensa igual em confortáveis bolhas digitais. Ao sair delas, há quem se depare com seres com quem não dialogam e surge um sentimento quase ancestral de que o que não é conhecido é perigoso.
Dialogar com João Batista dos Mares Guia, o que faço desde 2018, quando ele se candidatou a governador pela Rede Sustentabilidade, é um privilégio. Além de bem humorado e enciclopédico, traz consigo uma vivência múltipla e a densidade de um professor. Nessa semana, ele publicou um artigo longo de reflexões sobre o seu partido, o PT. Todos deveriam ler. E também vale acompanhar suas mídias sociais. Todo perfil inteligente merece ser visto nesse oceano de bobagens online em que navegamos.
A prefeita de Contagem, que vai de ônibus descansar em Guarapari, é a maior liderança do Partido dos Trabalhadores em Minas Gerais. Não sei todos os petistas percebem essa obviedade, mas o óbvio precisa ser dito. Reeleita com farta votação, conseguiu atravessar o fosso que aparta a sociedade momentaneamente do partido dela. Não foi tarefa fácil. Possui uma gestão repleta de bons exemplos e atua para além do seu município numa dimensão fundamental: a Região Metropolitana de Belo Horizonte. Eu admiro prefeitos que gostam de ser prefeitos num Brasil onde muitos consideram as prefeituras apenas trampolins. Vou gostar muito de seguir conversando com ela.
Eu sou bom de briga. E ótimo em dialogar. Em seu livro “Ill winds”, Larry Diamond explica como salvar a democracia dos ventos venenosos que sopram da ambição da China, da raiva da Rússia, além da complacência americana. Há muito a ser feito, mas o principal é conversar com quem é diferente. Estou fazendo a minha parte.