Não podemos repetir o passado

A tragédia das chuvas e o emprego de recursos públicos

Os prejuízos causados pelas chuvas em Belo Horizonte no fim da semana passada são estimados em R$ 300 milhões apenas para reconstruir as áreas devastadas. Quanto aos danos pessoais, é impossível mensurar a dimensão. Vidas foram perdidas, e não há nada pior e mais trágico que isso.

O que houve na capital é resultado de décadas de planejamento urbano errado e de execução de obras que, em vez de resolver os problemas, contribuíram para agravá-los. Some-se a isso um volume de água nunca antes visto. E há quem não acredite em mudança climática…

Consideremos que isso passe a ser habitual! Não se pode negar que os prefeitos que se sucederam deveriam ter agido para impedir a catástrofe, mas pouco fizeram. A atual gestão se inclui nesse quadro de inércia, falta de vontade política e demora na tomada de decisões.

Não, não afirmo isso só agora, depois de todo o sofrimento que os belo-horizontinos enfrentam neste janeiro. Tenho essa posição desde que fui eleito, em 2016.

Em setembro de 2019, critiquei o projeto encaminhado pelo prefeito, que pedia autorização para empréstimo para “obras de prevenção de chuvas”. O que seria feito? Não foi detalhado, mesmo após inúmeros convites para a prefeitura expor o projeto na Câmara. Destaquei que o combate às inundações deveria ser direcionado à sustentabilidade, à redução da impermeabilização do solo e à remoção da cobertura de rios e córregos, de acordo com recomendações de especialistas. Voltei ao tema em novembro e disse que a Câmara Municipal havia dado um “cheque em branco” ao prefeito, autorizando empréstimo de R$ 300 milhões para obras.

Agora, com a retomada das atividades legislativas, é importante que a prefeitura estabeleça diálogo com todos os vereadores e que os parlamentares se unam em um esforço coletivo diretamente relacionado ao uso correto do orçamento e à aprovação de leis que favoreçam a sustentabilidade. Diminuir a impermeabilização do solo e adotar medidas que incentivem a população a reduzir o consumo de recursos naturais é o caminho.

Também é necessário esclarecer quanto dinheiro a prefeitura tem para obras de prevenção, anunciadas desde o primeiro ano do governo de Alexandre Kalil. O secretário municipal da Fazenda, Fuad Noman, anunciou em julho de 2019 que a administração municipal tinha R$ 1 bilhão para obras de prevenção de inundações e infraestrutura. Nesta semana, no entanto, Fuad disse à revista “Veja” que o dinheiro ainda não foi liberado por causa da “burocracia estatal”. Afinal, há ou não essa verba? Isso foi guardado para ser gasto com a proximidade da eleição e fazer como tantos outros que encheram a cidade de asfalto e placas para encantar eleitores?

Se tais recursos tivessem sido realmente aplicados, a cena registrada em um elegante restaurante do bairro Lourdes na terça-feira, com os clientes assustados, vendo um rio se formar na rua (onde há um córrego subterrâneo), talvez fosse evitada. Aliás, o local pertence ao secretário Fuad Noman. Agora, torço para que as verbas, quando estiverem no caixa da Prefeitura de Belo Horizonte, não sejam usadas para repetir erros.

Vamos mesmo seguir com esse curso d’água tapado por asfalto com carros por cima? A população da cidade vai aplaudir essa medida repetidamente equivocada?

Milhões de brasileiros precisam de um foco nas cidades onde todos vivem. Em Belo Horizonte, é hora de corrigir os erros passados. A responsabilidade vem de décadas, mas a solução não pode esperar outro mandato de prefeito. Tem de começar agora.

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Gabriel de a a z

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