O negacionismo no urbanismo brasileiro

Precisamos colocar gente para morar em áreas já construídas

Uma conversa com o meu amigo Washington Fajardo, um urbanista que merece ser ouvido, provocou-me uma reflexão: o Brasil insiste em um modelo urbano que é comprovadamente equivocado. A expansão territorial pelo consumo desenfreado de solo sem capacidade de suporte só se justifica pelas necessidades eleitorais e patrimonialistas. Finge-se que cria emprego. Finge-se que gerará prosperidade. Finge-se que resolverá a moradia. Esse fingimento vai gerando manchas urbanas espalhadas como um líquido derramado.

 
O modelo adotado não conseguiu integrar essas moradias às áreas centrais das cidades, onde as oportunidades de emprego e os serviços essenciais estão concentrados. Em vez de promover a diversidade e o encontro, continuamos segregando e perpetuando desigualdades.
Repetição das mesmas políticas

A cada novo governo, vemos a repetição das mesmas políticas ineficazes que não atacam o cerne do problema urbano brasileiro. A falta de governança e planejamento de longo prazo, além de políticas que realmente integrem os diferentes setores da sociedade, é alarmante.

 
Essas catástrofes revelam a inadequação das políticas habitacionais que incentivam a ocupação de áreas de risco, demonstrando a necessidade urgente de repensar essas estratégias. É um erro do passado. Belo Horizonte ainda não aprendeu. Mesmo hoje, em 2024, o que temos é uma prefeitura que não perde a oportunidade de querer construir onde hoje temos áreas verdes.
 
Adensar onde já está construindo

Seja na região do aeroporto Carlos Prates ou no bairro Castelo, insistem em construir novos guetos, novos conjuntos para isolar as pessoas sem casa, em vez de integrá-las à cidade. É preciso adensar onde já está construído, aproveitando ao máximo os espaços urbanos e evitando a expansão desordenada. Isso implica um compromisso firme com a preservação das áreas verdes, fundamentais para a qualidade de vida urbana.

 
Na semana passada, um editorial do jornal “O Globo” destacou que programas como os da atual gestão de Belo Horizonte perpetuam um modelo insustentável de urbanização: ao focar a construção de moradias em áreas de risco e nas periferias, esses programas não só desconsideram a capacidade de suporte do solo, mas também exacerbam os problemas ambientais e sociais, expondo a população às tragédias climáticas, como deslizamentos e enchentes, além de dificultar a integração urbana e social dessas comunidades. Quem fecha os olhos para isso geralmente se agarra a cartinhas de intenções ambientais inócuas. Não repetir erros é a prioridade!
 
Reformar o Plano Diretor da cidade

Para mitigar os efeitos das enchentes e outros desastres naturais, é essencial adotar outro paradigma de urbanização. O próximo prefeito, já em 2026, vai ter que conduzir uma conferência de política urbana para reformar o Plano Diretor da cidade.

 
É hora de abandonar práticas obsoletas e abraçar um planejamento urbano resiliente, pronto para enfrentar os desafios do clima. É preciso desenvolver planos de contingência robustos para enfrentar crises climáticas e sociais, protegendo as populações mais vulneráveis, sem negar a ciência das cidades.
 
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