Sem confiança não há segurança

Minas tem sinais de deterioração: avanço de facções, aumento de homicídios, crescimento da violência contra a mulher, expansão da sensação de insegurança

Minas Gerais vive uma inflexão decisiva. Indicadores oscilaram e surgiram sinais evidentes de deterioração: avanço de facções, aumento de homicídios, crescimento da violência contra a mulher, expansão da sensação de insegurança. O Estado perdeu coordenação, perdeu inteligência e perdeu algo essencial: a confiança de quem garante a ordem.Somos a única Unidade da Federação governada pela direita em que integrantes da Polícia Civil, da Polícia Militar e da Polícia Penal não respeitam o governador e o vice.

A raiz está em 2020. Antes da pandemia, o governador enviou à Assembleia o Projeto de Lei 1.451, que previa recomposição de 41,7% até 2022 após negociação formal com as corporações. O governo pediu urgência, comemorou a aprovação e dias depois vetou os artigos centrais do projeto que ele próprio havia escrito. As polícias ficaram sem o aumento prometido. A crise institucional se instalou. O secretário de Governo caiu. Um vereador de Belo Horizonte abandonou o mandato e aderiu ao governo estadual. O vice-governador Paulo Brant saiu do partido Novo denunciando pressão para desfazer o acordo. A fratura jamais foi reparada. A confiança acabou.

Quando a confiança se rompe, a segurança enfraquece. Sem comando estável, a polícia reduz proatividade, investigação territorial e capacidade de antecipar homicídios. Em 2023, Minas Gerais registrou 3.044 homicídios, alta de 3,7%, enquanto o Brasil reduziu mortes violentas. A violência contra a mulher cresceu e o cotidiano ficou mais tenso. O crime se digitalizou: golpes por WhatsApp, fraudes bancárias, boletos falsos, invasão de contas e estelionatos virtuais se multiplicaram, e Minas não estruturou resposta. Delegacias viraram pontos de registro, não de resolução. O mineiro se sente vulnerável no mundo físico e no digital.

O vácuo institucional abriu espaço para o crime organizado. Estimativas federais indicam cerca de quatro mil integrantes do PCC atuando em Minas Gerais. Facções ampliaram presença na Região Metropolitana desde a ruptura entre governo e polícias. A ausência de inteligência integrada agrava o risco: o Estado não possui diagnóstico de facções, levantamento de territórios, mapeamento de redes nem sequência mínima para política séria.

O sistema prisional revela vulnerabilidade extrema. Minas Gerais tem mais de vinte mil presos acima da capacidade e sessenta e duas unidades interditadas. Apenas um presídio possui bloqueador de celular funcionando. Cento e oitenta e uma unidades permitem comunicação livre entre criminosos e o lado de fora. Soma-se a descoberta de uma fábrica clandestina de fuzis em Belo Horizonte sem detecção estatal. São sinais de colapso de análise, governança e integração.

Sou formado no Colégio Militar de Belo Horizonte, onde aprendi Disciplina e Hierarquia. Sou filho do inspetor Gilson Marques de Azevedo, da Polícia Civil. Sei que segurança nasce de método, palavra e comando confiável.Por isso, minhas propostas começam pela reconstrução da confiança: política salarial pactuada, previsível e responsável, com diálogo permanente e valorização real. Em seguida, a criação do Centro Integrado de Inteligência Criminal, articulando Corpo de Bombeiros, Ministério Público, Polícia Civil, Polícia Federal, Polícia Militar, Polícia Penal e Polícia Rodoviária Federal, com base de dados única, diagnóstico territorial contínuo, rastreamento de armas, antecipação de homicídios e resposta moderna ao crime digital.

O controle prisional exige bloqueadores contemporâneos, isolamento de lideranças, reformas emergenciais, novas vagas e expansão das APACs. A proteção das mulheres requer delegacias fortalecidas, tecnologia preventiva e monitoramento de reincidência. A presença inteligente do Estado passa pelo combate à receptação, investigação qualificada e policiamento orientado por dados.

Nossas polícias são boas. E Minas Gerais avançará quando recuperar confiança, inteligência e comando.

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Gabriel de a a z

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