Espaços para eventos e impactos na economia
Quanto vale um show? Em Estocolmo, na Suécia, cidade que visitei, aconteceu o lançamento mundial da turnê Renaissance, da Beyoncé. E o impacto desse evento foi tão grande que chegou até a alterar os índices econômicos do país.
Segundo a agência de estatística sueca, na mesma época em que os custos da alimentação e da eletricidade abaixaram, o país identificou um pico de inflação. Contudo, não foi a comida que ficou mais cara: o movimento nos hotéis, restaurantes e outros serviços de lazer foi tão acentuado que puxou os índices do país inteiro para cima. Algumas estimativas apontaram que até 46 mil pessoas de fora da cidade foram para cada um dos dois shows do lançamento da turnê mundial, lotando os hotéis de toda a capital sueca e das cidades vizinhas.
E o “Financial Times”, principal jornal de economia britânico, prevê mais alguns eventos que podem ter impacto similar: a passagem por Estocolmo da turnê de Bruce Springsteen e os grandes torneios de futebol. Se para a Suécia, um país reconhecidamente desenvolvido, de IDH muito alto, a movimentação econômica de um lançamento de turnê causa tanto impacto, imaginem no Brasil?
Aliás, não precisa ir tão longe: basta comparar a agenda de eventos de Belo Horizonte com a de Curitiba para ver que a capital do Paraná já reconheceu esse potencial. Aliás, Curitiba já ganhou de BH neste ano a turnê do Coldplay, que já ocorreu, e vai levar a do Red Hot Chilli Peppers em novembro. Sem falar do êxodo para São Paulo e Rio que ocorrerá no mesmo mês, impulsionado pela turnê de Taylor Swift, que, enquanto estava nos EUA, chegou a lotar estádios em cidades com um quarto da população da nossa.
Enquanto isso, em Belo Horizonte, estamos vendo uma triste disputa entre os eventos e o futebol no Mineirão. Não é razoável que a nossa cidade sofra com isso porque não devíamos estar com essa dúvida: temos que ter lugar para ambos. Da mesma forma que me incomoda não ter aqui as grandes turnês, me chateia ter visto o último clássico dos times da capital ocorrer em Uberlândia! E esse não pode ser visto como só um problema dos clubes, dos produtores de eventos ou da concessionária do estádio: é de toda a cidade, pensando na cadeia de pessoas empregadas diretamente nesses eventos, na movimentação dos hotéis, restaurantes, taxistas e motoristas de aplicativo.
Colocar nossa cidade de volta no mapa não é só comodidade ou vaidade. É emprego, renda, desenvolvimento e arrecadação. A Arena MRV pode ajudar nisso e deve, ao tempo que vai erguendo obras para mobilidade no seu entorno, começar a funcionar já para eventos.
Na Câmara Municipal, fizemos alguns avanços, ampliando as possibilidades de realização de eventos nas áreas públicas de Belo Horizonte e desburocratizando o ambiente de negócios desse setor. A Lei 11.434/2022, de minha autoria, meses após sancionada, aguarda a regulamentação de uma prefeitura que não parece querer nossa cidade mais feliz… Por qual motivo colocar toda a pressão no Mineirão se você pode fazer um bom evento na praça da Estação? Vai gerar movimento para o comércio e os serviços na região e, com um planejamento adequado, na porta da principal estação de metrô, as redes de transporte podem aliviar o trânsito. Trata-se de um belo espaço!
Pensemos também no Parque Municipal… neste mês mesmo está ocorrendo um festival de três semanas no Hyde Park, o colossal parque de Londres. Alguns dias contam com eventos gratuitos, promovidos pelo mesmo organizador dos shows pagos. Numa parte, acontece o evento, mas os recursos contribuem para a preservação da área inteira, inclusive a porção que permanece de acesso livre o tempo inteiro. Alguns podem se preocupar com a conservação do parque, mas é só comparar o estado dos parques daqui com os de lá para ver que o problema não é esse.
Não é uma questão de qual evento você mais gosta, mas de que nossa cidade não pode deixar de sonhar com nada que outro lugar já tenha conquistado, porque nós temos potencial para tanto. E nem precisamos ficar só nos aspectos econômicos, mas em tudo o que pode fazer a nossa cidade verdadeiramente mais feliz. Afinal, como cantam os Titãs, “A gente não quer só comida. A gente quer comida, diversão e arte”.