À beira do ostracismo

Pressões políticas no processo de cassação na Câmara Municipal de Belo Horizonte

Hoje, o plenário da Câmara Municipal de Belo Horizonte, através de 40 votos, vai analisar se um processo de cassação do meu mandato deve ser aberto. 

O pedido foi feito na última segunda-feira. Há alegação de abuso de autoridade, atuação irregular e perseguição política, o que não é verdade. Há apontamento de um tom adotado com uma colega vereadora, para a qual pedi desculpas, já aceitas. Registra-se que fui intenso com vereadores do PDT, e o caso é público. 

Um parêntese: sou mesmo duro nas palavras. A passagem não voltou a R$ 4,50 com mansidão. Os inúmeros cortes milionários sendo feitos nos empresários de ônibus surgiram com firmeza. Eu defendo nossa cidade na marra.

Não é um pedido de cassação por corrupção ou dinheiro do povo no meu bolso. É uma acusação de quebra de decoro por eu me exaltar nas palavras. Reconheço. A cidade inteira já sabia. Os vereadores que votaram em mim conheciam meu estilo muito antes.

Quanto ao rito, a peça é lida. Todos os 40 vereadores podem discutir e, em seguida, ocorre a votação. Se 21 votos favoráveis se somarem, o pedido é aberto. 

Fuad Noman, pouco antes da minha eleição para presidente, além de atuar muito para impedi-la, diante de uma possibilidade de acordo, disse: “Podem ser todos, menos o Gabriel.” O prefeito preferiria alguém que submetesse o Parlamento aos seus desejos, como ocorre na maior parte do nosso Brasil, enquanto eu prometia independência. Democracia incomoda muita gente. 

Se você deseja me dizer que não se deve confiar em determinados grupos políticos, gentileza entrar na fila. Se você deseja me dizer que Fuad Noman não compreende a política, se dirija para a próxima fila. Se você deseja me dizer que eu não deveria ter tratado de temas como lixo, ônibus e publicidade no âmbito da prefeitura, dirija-se à fila ao lados das anteriores.

O que preciso dizer à cidade e a meus colegas vereadores: a minha postura incomoda. Eu sei disso. Eu erro. Eu grito. Eu brigo. Eu xingo. 

E todas as vezes que me coloquei em situação de conflito, de me exaltar, a questão de fundo sempre foi um interesse da cidade. Da mobilidade. Do planejamento urbano. Já me exaltei? Várias vezes. Nunca para defender um interesse que não fosse republicano. Nunca em um tópico de interesse pessoal. Aceito a pecha de deselegante e impulsivo. Garanto que esse espírito sempre fez bem à cidade. 

Muitos dos meus colegas vereadores precisam manter boas relações com a Prefeitura. E muitas vezes não querem se constranger com uma ou outra discordância. Esses colegas vêm a mim. Ao Gabriel, o doido. E me entregam uma briga. E se eu achar que a causa for justa, eu brigo. Foi assim, por exemplo, no aumento da passagem de ônibus. Os vereadores não queriam o aumento. A população não queria o aumento. A maior parte dos meus colegas não queria se indispor com a prefeitura, não queria o constrangimento de esse tema chegar ao plenário, mas torcia, silenciosamente, para que eu desse algum jeito. Eu me expus. Fui a face da briga. Hoje, os meus colegas todos celebraram uma conquista coletiva da Câmara.

Caso similar ocorreu com o projeto medíocre da prefeitura para o aeroporto Carlos Prates. Foram muitos os vereadores da base do prefeito que me procuraram para que eu recebesse moradores indignados. E eu os recebi, poupando os colegas do constrangimento.

Digo aos meus colegas: eu não ligo de cumprir esse papel. Mas é preciso que vocês reconheçam que ter alguém que faça esse papel é importante para a Câmara Municipal e para a cidade. E pensem como seria a sua situação se não tivesse ninguém disposto a comprar uma briga aqui ou acolá. 

No período democrático de Atenas (509-322 a.C.) existia uma condenação chamada “ostracismo”, um banimento da vida pública. O nome do cidadão a ser banido era inscrito num pedaço de cerâmica (“ostracon”) e, através de votos, condenava-se alguém a deixar a política. Péricles, considerado um dos criadores da democracia, recebeu muitos votos nesse sentido. 

Em caso de cassação, perdem-se os direitos políticos por oito anos. Para quem me conhece, essa é uma punição pior que a morte. E podem mesmo até conseguir. Se me cassarem, não cassarão um homem ajoelhado e jamais arrancarão o amor por esta cidade. A cabeça permanecerá erguida até o fim, seja ele qual for. 

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Gabriel de a a z

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