A (necessária) queda de Josué Valadão

Tensionamento político na administração pública

“Você possui adversários? Bom! Significa que você defendeu algo alguma vez na vida”. Winston Churchill o disse. Lembram-se de Léo Burguês, presidente da Câmara Municipal de 2011 a 2014, e Wellington Magalhães, presidente da Câmara Municipal de 2015 a 2016? Briguei com ambos. E muito. Não usei palavras suaves. Os dois, figuras da pior espécie que foram varridas da vida política de Belo Horizonte. E colaborei. Não de maneira doce e suave, pois não adiantaria…

Como a dupla foi possível? A questão é profunda, mas pode ser resumida: Câmaras Municipais, em geral, não cumprem o seu principal papel, qual seja, efetivar um sistema de pesos e contrapesos com a prefeitura. Assim, fiscalizar, legislar e representar passa a ser uma encenação, o que é o interesse de prefeitos nada democráticos. Por isso eleições de presidentes de Câmara Municipal são marcadas, em geral, por uma tentativa brutal das prefeituras de intervir no outro Poder. Custa? Custa! Léo Burguês e Wellington Magalhães criaram esquemas, e isso só foi possível por alguém que fomentou um verdadeiro modelo de cultivo de vereadores enganados: Josué Valadão.

Ex-funcionário de uma das empresas de Marcio Lacerda, chegou à prefeitura em janeiro de 2009 e se especializou em conhecer os meandros da máquina. Assim, passou a azeitar um formato de pasteurização da Câmara Municipal.

Josué Valadão define o que é parlamentar de que ele não gosta: “Fernanda Pereira Altoé ainda não tomou posse da vereança”, disse certa feita. Fernanda Pereira Altoé cobra resultados, esmiúça contratos, formaliza ofícios… pois seus eleitores lhe cobram isso. É uma das melhores vereadoras que a cidade possui. E ela tem de ser respeitada. Ele preferiria que ela apenas solicitasse reuniões com ele. 

Há perfis diversos de vereadores, pois essa é uma cidade diversa. Para Josué Valadão, não… Ele sempre operou um modelo de mão dupla para obrigar parlamentares a fazer o que ele quer em troca do uso dos cofres municipais. E empregou esse modelo com Marcio Lacerda, Alexandre Kalil e Fuad Noman. Ele é um operador que não entende que a democracia não é a ausência de conflito. É justamente o embate de ideias que faz a cidade evoluir!

Palavras fortes assustam as bolhas políticas, pois palavras fortes funcionam. Após embates duros, esta foi uma semana de vitórias para a cidade.

Se tivéssemos vereadores que apenas se encantassem pela flauta de Josué Valadão (que já conduziu muitos para o afogamento), a passagem de ônibus não voltaria a custar R$ 4,50. Não haveria o passe livre estudantil integral. Não haveria tarifa zero para vilas e favelas. Não haveria gratuidade para quem está tratando um câncer. 

A prefeitura não queria, mas muitos vereadores queriam. E houve um número suficiente de vereadores que não se ajoelharam para que todos os demais pudessem, uma vez garantidas essas conquistas, tornar suas mídias sociais repletas de celebração. Cada avanço, embora pequeno, na mobilidade de Belo Horizonte ocorreu com base no tensionamento político. Trata-se, afinal, de uma administração que só funciona sob pressão.

A substituição de Josué Valadão pelo brilhante Castellar Neto, um profissional dinâmico que pode impor outro ritmo à administração, põe fim a um ciclo na administração pública em que tudo “é muito difícil” e tudo era justificado porque “sempre foi assim”.

Em 12 de dezembro de 2022, na eleição de presidente da Câmara Municipal, Josué Valadão se escondeu na sala do ex-vereador Léo Burguês para tentar impor seu candidato, o vereador Bruno Miranda, do PDT, aos vereadores. A operação foi tão desastrada, que ele sequer candidato foi, embora os jornais dissessem no dia anterior que ele já estava eleito… Digo e repito: minha eleição teve como principal mérito garantir a independência do Parlamento, que esse senhor tanto fez para prejudicar.

Josué Valadão é a cara da inércia e do patrimonialismo, possui suas patas marcadas no abandono da Lagoinha, no esgoto da lagoa da Pampulha e no projeto medíocre para a área do aeroporto Carlos Prates. Tudo em Belo Horizonte que é insosso, preguiçoso e repetitivo teve a assinatura dele nos últimos 15 anos.

Tivesse alguma vergonha na cara, sairia da prefeitura. Escolheu assombrá-la após cair da secretaria que tanto ambicionou. Permanecerá nos corredores do Palácio da Municipalidade como uma alma penada. Belo Horizonte está abandonada, aflita e atrasada. 

É meu papel (conferido pelo voto popular) apontar os responsáveis, tirá-los do caminho e ajudar esta cidade a avançar.

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