Belo Horizonte é uma festa

Compromisso com a melhoria contínua do Carnaval

O Carnaval da nossa cidade, uma construção orgânica da população, se estabeleceu como um dos mais vibrantes eventos do Brasil, com reconhecimento internacional inclusive. Diferentemente de outros tipos, como no Rio de Janeiro e em Salvador, essa atual versão de festa popular renasce como uma reação a um conceito de Belo Horizonte como a cidade em que nada pode.

A partir de uma decisão de fechamento da Praça da Estação a eventos e um decreto da gestão municipal, uma década atrás, proibindo as bolsas térmicas e os “coolers” nas ruas, a reação festiva mudou a cidade para melhor. Todavia, como em qualquer grande evento que extrapola sua origem, existem desafios a ser enfrentados para que a festa possa não apenas manter a sua essência, mas melhorar e se tornar um evento ainda mais inclusivo e sustentável.

Morando no coração da cidade, o centro, tenho o privilégio de vivenciar essa festa de uma maneira muito especial. O batuque é meu despertador. A janela é uma moldura para a folia. A avenida Afonso Pena é a paisagem do meu quarto. Meu apartamento vira o ponto de encontro. Nesses dias, a cidade se transforma em um vasto palco. Perdi a conta de quantos blocos visitei, sempre na companhia de amigos.

Optei por vivenciar cada momento sem a preocupação de registrar em mídias sociais, focando o mundo real. Havia sempre um exercício de paciência, especialmente para minha turma, que, muitas vezes, tinha que me esperar enquanto eu cumprimentava quem me abraçava – vivenciando aquele meme do “amigo vereador que cumprimenta todo mundo”, o que acrescentava ainda mais à diversão. A melhor cantada recebida foi: “Se você não me beijar, eu vou pedir a sua cassação”. A gargalhada foi seguida de um selinho merecido. Afinal, com litros e mais litros de Xeque Mate, todo mundo fica bem soltinho…

No entanto, apesar de toda essa energia positiva, há aspectos que necessitam de atenção e melhorias significativas. A começar pelo timing terrível de fechar a Praça da Estação novamente para obras bem no período do Carnaval. Sempre defendi a requalificação daquele espaço, inclusive destinando emenda impositiva, mas a execução inoportuna da obra foi uma decisão do Poder Executivo.

É fundamental reconhecer que o Carnaval não é uma unanimidade. Há aqueles que se preocupam com a sujeira deixada nas ruas e questionam o uso de recursos públicos na festa. Essas vozes também são válidas e merecem ser ouvidas. A questão do financiamento da festa é particularmente sensível, com críticas ao gasto público em detrimento de outras necessidades essenciais da cidade.

Esse é um ponto que particularmente chama a minha atenção, por ter sido um aspecto anteriormente celebrado pela Prefeitura de Belo Horizonte. Até o final do governo Alexandre Kalil, a prefeitura comemorava que os patrocínios faziam a festa superavitária. Hoje, apesar de o Carnaval só crescer, a administração municipal não conseguiu sequer vender todas as cotas de patrocínio. Fuad Noman conseguiu, nesse aspecto, estragar algo que estava funcionando e teve que assistir a Romeu Zema tomar as rédeas da organização do Carnaval. O governo do Estado de Minas Gerais teve que pagar pela festa que até então a prefeitura conseguia organizar.

Enquanto o Carnaval é, sem dúvida, um motor de alegria e um ponto relevante para a economia local, atraindo turismo, também deve haver um planejamento que contemple as preocupações ambientais e sociais. Entre os principais pontos das reclamações que ouvi estão a logística de banheiros e lixeiras. A verdade, porém, é que esse não é um problema só da época da festa. Belo Horizonte não tem contrato para reposição maciça de lixeiras e instalação de novas. Há quanto tempo você não vê uma lata de lixo nova na cidade? Banheiros públicos, então, não existem em época alguma. A empresa estatal que deveria organizar essa logística na cidade há anos dá a mesma desculpa, de que não existem equipamentos suficientes para aluguel no mercado, mas não existe estrutura de banheiros nem mesmo fora da festa. Na orla da Pampulha, onde alguns equipamentos já foram construídos, não há manutenção.

Para que o Carnaval de Belo Horizonte continue crescendo em tamanho e qualidade, é fundamental que todos os envolvidos – desde o poder público até o folião mais casual – estejam comprometidos com a melhoria contínua da festa. E, assim, alguns investimentos feitos para melhorar o Carnaval podem se refletir numa melhoria do ambiente urbano durante o ano inteiro.

Afinal, já começou a contagem regressiva para o Carnaval de 2025… e dá tempo!

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Gabriel de a a z

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