Bloomberg, Jacobs, La Guardia e Moses

Vida pessoal da figura pública e planos para o futuro

Na última terça-feira, em O TEMPO, na coluna A Parte, o jornalista Hermano Chiodi afirmou que o “sigilo” tem prevalecido após a eleição e “nem assessores mais próximos de Gabriel arriscam dizer quais serão os próximos passos do vereador depois que deixar o Poder Legislativo.” E, no parágrafo seguinte, ele dá uma guinada escrevendo justamente o que eu próprio, numa outra coluna A Parte, já afirmei: sou pré-candidato a prefeito de Belo Horizonte em 2028 e, enquanto isso, vou trabalhar nas áreas profissionais que sempre exerci.

É difícil crer que existe vida para um político para além de uma função pública, né? Existe. E, no meu caso, ela é intensa. E não faz mal algum se for também reservada.

Numa sexta-feira de fevereiro em 2002, o Prefeito de Nova York, Mike Bloomberg, desapareceu para só reaparecer quatro dias depois. A cobrança foi imediata: “Onde o senhor estava?”, perguntaram os jornalistas. “Minha vida pessoal não é da conta dos senhores”, respondeu o prefeito, que aproveitou para contar uma história sobre perda de privacidade. 

Na semana anterior, o telefone da sua casa tocou meia-noite perguntando se era da prefeitura. O prefeito explicou que era sua residência, mas perguntou como poderia ajudar. O homem disse que era muito tarde e ligaria no dia seguinte. Uma rápida investigação mostrou que o número estava na lista telefônica. Os jornalistas riram, mas voltaram às perguntas. E ele foi irredutível. Não disse para onde foi e aproveitou para dizer que a cidade funcionava sem ele.

Mike Bloomberg decidiu entrar na disputa pela Prefeitura de Nova York em 2001. Não foi da noite para o dia. Um ano antes, iniciou um meticuloso estudo dos problemas da cidade. Venceu. Foi com uma bolsa de estudos integral da Bloomberg Philanthropies que eu pude estudar num mestrado em cidades pela London School of Economics. Vou seguir aprendendo. Nos últimos dias, aliás, estive em Nova York…

Uma das muitas atividades que irei desempenhar a partir de 2025 envolve cidade e sustentabilidade. No aquecimento dessa próxima função (também presidencial), resolvi pesquisar especificamente dois personagens urbanos que são do meu profundo interesse, tal como deveriam ser de qualquer político que se dedica às cidades genuinamente e não como esses que só se candidatam a prefeito para depois concorrer nas eleições estaduais ou nacionais.

A dupla em questão é formada por Jane Jacobs, ativista e autora do livro “Morte e Vida nas Grandes Cidades Americanas”, e Robert Moses, figura pública responsável por moldar toda uma lógica urbana que deixou marcas no planeta. A internet não bastou e foi na Biblioteca Pública de Nova York que encontrei o que buscava, ao lado do meu amigo jornalista Lucas Mendes, que mergulhou na leitura comigo na mesa 734 do salão rosado daquele espaço de conhecimento.

Noutros tempos, eu teria publicado nas mídias sociais detalhe por detalhe do roteiro curto por Nova York. Passei a achar isso muito barango. E inútil. Fiquei tentado a compartilhar a visita ao lado do amigo Alexandre Cunha pelo Museu da Cidade, na Quinta Avenida, após um passeio no Central Park, que inspirou nosso Parque Municipal. Essa era uma das metas da viagem, incluída a busca de mais informações sobre um dos prefeitos que mais me inspira, Fiorello La Guardia, prefeito nova-iorquino democrata que dizia que “não há um jeito democrata nem republicano de limpar as ruas. Só há o jeito certo.”

Foram 133.728 votos, mas não foi dessa vez. E tudo bem. Aceitei o resultado, pois respeito a democracia de verdade. Para além disso, nos dias finais dessa presidência, faço questão de citar John Quincy Adams, que saiu da Casa Branca e passou 16 anos no Congresso: “Não existe nada mais patético na vida do que um ex-presidente.” Fica combinado: sou presidente até 31 de dezembro de 2024. E, sem nunca deixar de lado o fato de ser professor, antes que eu passe a ser chamado de ex-presidente em 1° de janeiro de 2025, podem me chamar, sem nenhum sigilo, de pré-candidato a prefeito.

Compartilhe:
Gabriel de a a z

CONFIRA OUTROS ARTIGOS: