Bons governos estão em falta (e políticos também)

Eleições são a janela da esperança da democracia

Recentemente, fui apresentado ao quadro pintado com tinta a óleo que me retrata e que deverá ser pendurado na galeria de ex-presidentes da Câmara Municipal. A primeira pintura é de Afonso Pena, que, em 1900, presidiu pela primeira vez o Parlamento municipal. O meu único lamento é que eu não possa, tal como Dorian Gray, personagem de Oscar Wilde, ver o quadro envelhecer enquanto eu permaneça nos meus 38 anos. Oito deles foram dedicados a dois mandatos de vereador. E o balanço deles cabe muito mais à cidade do que a mim.

Resta-me um semestre à frente da chefia do Poder Legislativo, e compartilho com vocês um sentimento de completa serenidade em relação ao término dessa fase. A sensação é de dever completo numa cidade incompleta. Ou seja, afirmo que realmente fiz tudo que poderia fazer dentro do que me cabia e que o que ainda pode ser feito por Belo Horizonte deve ser tarefa noutra posição. É por isso que desejo ser prefeito e me despeço desse espaço semanal tão gentilmente cedido nesta coluna.

Isso posto, cedo mais uma vez o espaço desta última coluna dedicada ao jornal O TEMPO ao meu amigo e dupla de urna eleitoral neste ano, Paulo Brant.

Otimismo político

Eu concordo plenamente com o pensamento liberal no que diz respeito à crença no ser humano e no gigantesco potencial que as iniciativas de pessoas livres podem ter na construção de uma sociedade próspera e justa. Sou, portanto, contrário ao estatismo e ao intervencionismo exacerbado, que inibem a liberdade dos empreendedores e das pessoas em geral.

No entanto, discordo com veemência daqueles que pregam o “não Estado”, o ultraliberalismo, que desdenham da ação governamental, em todos os níveis, para o desenvolvimento do nosso país, do nosso Estado e de nossa cidade. Bons governos são muito importantes. São essenciais! Sem eles não sairemos da crise profunda e generalizada em que nos encontramos.

Infelizmente, os governos, em geral, com honrosas exceções, estão muito mal. Estão desorientados, desnorteados, apáticos e inapetentes, incapazes de cumprir sua função precípua de liderar e inspirar projetos transformadores. Andam à deriva, correndo passivamente atrás dos problemas que se colocam como urgentes, sem capacidade e força para propor rumos para a sociedade.

Dois fatores são preponderantes para esse estado de coisas: em primeiro lugar, a incapacidade de gerar consensos e convergências, na sociedade e nos parlamentos, pressupostos indispensáveis para que possam conduzir projetos que de fato sejam transformadores. Os governos estão apartados da sociedade civil, cada vez mais informada e atenta, e não conseguem formar bases robustas no Parlamento para a aprovação de suas iniciativas. Consequência imediata: governos sem poder de iniciativa, pouco ousados e reféns de uma relação pouco republicana com os parlamentares; em segundo lugar, a prevalência de uma visão imediatista e de curto prazo, que definitivamente não consegue captar a essência dos nossos problemas e endereçar soluções inteligentes e efetivas. Não por acaso, inexistem, de fato, secretarias e ministério do Planejamento nos nossos governos, no sentido de unidades de gestão encarregadas de pensar o futuro e iluminar as ações governamentais. As administrações são míopes, são ralas no uso do conhecimento e da ciência, oscilando entre o populismo e o tecnocratismo. Por isso, fracassam.

Pessimismo? De forma alguma. A democracia nos fornece a janela de esperança das eleições. É o momento sublime da vida democrática, em que a sociedade fala por último. Todos nós, cidadãos conscientes, temos o dever de trabalhar, sob todas as formas, para que as próximas eleições sejam de fato um momento para a reflexão sobre a nossa política e a nossa cidade e que propiciem uma mudança nesse quadro sombrio. Precisamos de governos altivos, potentes, ousados, democráticos na sua essência, e que possam introjetar na nossa política dois ingredientes vitais para o seu renascimento: o diálogo e a ciência, para dar legitimidade

Precisamos de governos que dialoguem com toda a sociedade. Sim, toda a sociedade, todos os cidadãos. E que lastreiem suas ações, para além do indispensável diálogo, com conhecimento, inovação e toda a tecnologia. Sim. Há esperança.

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