Um eterno Instituto de Educação moderno

Espaço merece brilho por respeito à própria história

Em 1990, pouco antes de completar 4 anos, cheguei diante de um portão pequeno na avenida Carandaí, perto da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, no bairro Funcionários (BH). Segurando a mão da minha mãe, cheio de perguntas, ouvi assim: “Vai”. Era o meu primeiro dia na escola. Vocês se lembram desse momento na vida? Toda criança merece se recordar do instante em que sua família a conduziu para os seus professores.

Desde que entrei naquele portãozinho, nunca mais parei de estudar. Já se vão 35 anos, portão atrás de portão…

De 1990 a 1992, cursei três períodos no que se chamava “jardim de infância”. Escrevia em folhas de papel almaço com letra cursiva “Escola Estadual Presidente Kennedy”, cuja campanha presidencial de 1960 com um jingle esperançoso cantado por Frank Sinatra eu ainda não conhecia. O que eu ouvia e me lembro bem era “Ursinho Pimpão”, da Turma do Balão Mágico, que tocava pra encerrar o recreio. A formatura se deu com a interpretação de “Flicts”, do Ziraldo.

De 1993 a 1996, cursei quatro séries do que era a primeira metade do ensino fundamental. A letra cursiva agora escrevia “Escola Estadual Luiz Peçanha”. O hábito de levar a merendeira iria ser trocado pelo aprendizado de utilizar dinheiro para comprar na cantina com cruzeiros, cruzeiros reais e reais. Eram 10 anos de vida, seis moedas diferentes e muitos planos econômicos tentados…

Em 1996, já preocupada com os rumos da educação pública brasileira, minha mãe insistiu para que eu prestasse concurso no Colégio Militar de Belo Horizonte. Fui reprovado na primeira tentativa e fui aprovado na segunda tentativa, já em 1997. Estava na quinta série do Instituto de Educação de Minas Gerais, onde o lema é “Educar-se para educar”, quando me despedi para passar a utilizar a boina garança.

Durante oito anos, eu desci a rua dos Tupis, caminhei pela avenida Afonso Pena dedilhando as grades do Parque Municipal e subi a avenida Carandaí para chegar a um prédio rosado que se impõe a quem passa por lá.

Erguido em 1898 em estilo eclético, no primeiro ano de existência da nossa cidade, o projeto do arquiteto e desenhista Edgar Nascentes Coelho já abrigou provisoriamente a primeira sede do Tribunal de Relação de Minas Gerais (antiga denominação do Tribunal de Justiça) e a Escola Normal, que educava para o magistério. Carlos Drummond de Andrade, em seu poema “As moças da Escola de Aperfeiçoamento”, já dizia… “Carece elevar o nível do ensino por toda parte”.

O Instituto de Educação de Minas Gerais, que incorporou as escolas estaduais Luiz Peçanha e Presidente Kennedy em 2001, materializou-se ao longo de décadas como ícone e símbolo da educação pública de qualidade. Muitas foram as gerações que criaram vínculos com a história da instituição, cuja arquitetura é tombada desde 1982.

Dos anos 1990 em diante, tristemente, vi nossa escola querida passar por um processo de degradação. Descuido. Pichações. Problemas. Articulei com meu amigo deputado estadual Doorgal Andrada emendas orçamentárias. Pouco, eu sei. Aquele monumento a se esfarelar, de certa maneira, é um lembrete da realidade da nossa educação estatal. Em 22 de março de 2023, um incêndio atingiu a construção, e as aulas foram suspensas em algumas alas. Tudo muito lamentável.

No último domingo, foi aberta a nona edição da mostra “Modernos Eternos”, um evento de arquitetura, arte, cultura, décor, design, entretenimento, história e gastronomia. Em razão de dias, o aspecto do Instituto de Educação de Minas Gerais, escolhido para sediar a atividade, foi completamente transformado.

Iluminação. Limpeza. Tinta. Elementos fundamentais numa cidade que se cuida. E o ar de abandono sumiu. As salas de aula deram lugar a 42 ambientes de 45 profissionais que merecem aplauso, sob a condução de Josette Davis e sua filha Carolina Davis. E o melhor: tudo se soma a um projeto de restauro já iniciado para trazer de volta o brilho que esse espaço merece por respeito à própria história.

Até o dia 14 de julho de 2024, essa será uma oportunidade para quem quiser conhecer o interior e o jardim, bem além da fachada. Aplaudo essa iniciativa, que recupera o sentimento de orgulho de Belo Horizonte e um espaço para os estudantes retornarem às aulas. Muitas outras soluções criativas deveriam ser pensadas assim para recuperarmos muitos outros lugares que merecem cuidado na nossa cidade. Bravo!

Ps.: A mesma mulher que me levou ao portão da escola, anos atrás, está de volta ao Instituto de Educação, agora para expor antiguidades à venda num dos ambientes… Um beijo, dona Carminha!

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