É hora de política

Negar a sua existência é um erro

Políticos não são geralmente vistos pedindo desculpas pelos erros que cometem. Já fiz isso algumas vezes. Farei isso outra vez. Em 2016, no início da campanha de Alexandre Kalil, sentei-me com o publicitário Paulo Vasconcelos e com o atual prefeito. Um brilhante profissional do marketing político chamado Augusto Fonseca foi indicado para a comunicação.

O desapontamento com a classe política aflorava em pesquisas qualitativas. Com certa dose de criatividade, foi-me apresentado o seguinte slogan: “Chega de política. É hora de Kalil!” Ao meu lado estava o meu amigo Alberto Lage, hoje assessor especial na prefeitura. Pensei comigo se faria sentido querer dar uma basta à política, atividade que o próprio Alexandre Kalil sempre desempenhou.

Por fazer parte da coordenação de campanha, tinha capacidade para dizer que aquela ideia não deveria ir adiante. Não o fiz. E peço desculpas por isso.

Jamais tinha condenado a política antes. Jamais condenei a política depois. Todavia, naquele momento, eu errei. Não me arrependo de ter ajudado o atual prefeito a vencer as eleições. Com a proximidade do término do mandato, tenho a consciência tranquila de quem critica o que é ruim e elogia o que é bom.

Fica um convite aos profissionais de marketing político: não se coloquem à disposição de quem não reconhece a importância da política. Definitivamente não é o caso do atual prefeito, que, por trás da figura “outsider”, opera as engrenagens políticas.

O meu conselho, como alguém que admite o erro, é: não colaborem com o clima de destruição da democracia que vive o Brasil. Negar a política, ainda que somente numa sacada publicitária, é um equívoco.

Já no segundo turno eleitoral em 2016, reeditando os vídeos, trocamos a expressão “chega de política” por “chega de politicagem”. Em outras peças ficou: “chega de PT e chega de PSDB”. Fazia mais sentido.

Os detalhes daquela campanha estão num texto que publiquei na internet por conselho de Cacá Moreno. “Escreva um texto, Gabriel. Não deixe que essa campanha seja apropriada por alguém. Há méritos que são seus nela.”

Naquele ano, Paulo Brant, hoje vice-governador (sem partido), era o candidato a prefeito filiado ao PSB. Teria apoio de Marcio Lacerda, que lhe foi retirado na undécima hora. Restou a Cacá Moreno ajudar o candidato Délio Malheiros, então vice-prefeito, de quem cuidou.

Terminado o primeiro turno, Cacá Moreno foi para Miami onde, com um perfil de Skype que não era dele, enviou-me dicas para a campanha de Alexandre Kalil. Utilizei duas, e as demais foram descartadas.

É por isso que eu estranho toda vez que uma pessoa chega até mim, e não são poucas, para contar que ele afirma que foi responsável por toda a campanha de Alexandre Kalil, que, aliás, tinha muitas ideias do próprio Alexandre Kalil. Deve ser, é claro, um mal-entendido.

Considero a boa campanha eleitoral uma obra de arte. Considero a comunicação governamental um serviço público essencial. E acho que precisamos repensar ambos os formatos diante de tudo o que tem acontecido com nossa sociedade.

É fundamental usar as melhores práticas da publicidade para colocar a política no lugar que ela merece: como a principal ferramenta democrática inventada para cuidar de uma cidade. Que nas eleições municipais deste ano de 2020, as pessoas compreendam que é hora de pôr um fim numa ilusão: quem faz política é político. O resto é só propaganda.

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Gabriel de a a z

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