É preciso arborizar nossa cidade

Má gestão deixa a capital menos verde

Coelho Neto chamou-nos de “Cidade Vergel”. Olavo Bilac denominou-nos de “Cidade das Árvores”. Em 1924, Mário de Andrade escreveu o “Noturno de Belo Horizonte” a Elysio de Carvalho: “O silêncio fresco desfolha das árvores e orvalha o jardim só. Larguezas. Enormes coágulos de sombra”. As árvores fazem parte da nossa identidade.

Quem anda pelas avenidas e ruas de Belo Horizonte percebe: vemos menos árvores. Quem consulta os dados oficiais, entretanto, lê que os índices não caíram numericamente. E onde foram parar as árvores? Então descobrimos que em Belo Horizonte até a arborização virou tópico de contabilidade criativa vegetal.

De fato, estão sendo plantadas mais árvores em Belo Horizonte, garantindo que os números totais fiquem melhores. Todavia, por falta de organização específica, a prefeitura opta por fazer o plantio onde é mais fácil: em parques e terrenos afastados das vias urbanas. É importante? Evidente.

Contudo, não é suficiente. Enquanto está escorada na preservação do número total, as ruas por onde circulamos vão perdendo a sombra e o frescor das árvores. A “Cidade-Jardim” vai ficando menos verde num processo que pode não ser feito por mal, mas certamente é por descoordenação.

O serviço de podas de árvore é desconectado do serviço de supressão, que é quando precisam remover, geralmente por motivos da condição, o tronco inteiro. Se o cidadão pede a poda, e o caso é de supressão… começa a confusão, e o pedido se perde na estrutura da máquina pública. E se algum galho precisa ser podado porque pode cair em alguém, é uma coisa. Se precisar podar porque está atrapalhando a iluminação pública, o processo é outro.

Todo mundo fica triste quando vê uma árvore sendo cortada. No entanto, para o morador que cuida da calçada, revoltante mesmo é ver que, depois de perder a árvore, ainda sobraram um toco e as raízes. Tudo isso por falta de inteligência na gestão para unir “supressão” e “destoca”. É só na cabeça antiquada de certa administração pública que os serviços são diferentes. Na prática, o bom senso diz que um tinha que ser consequência do outro.

Na realidade, são dois processos distintos, e, no final, resta o buraco. Para a nossa surpresa, num processo que beira o ridículo, depois que deixam um buraco na calçada, o sistema da prefeitura se esquece de avisar que precisam plantar outra árvore no lugar… O cidadão fica sem a árvore e ainda corre o risco de ser multado pelo buraco na calçada, tendo que jogar cimento no lugar.

Se alguém entrar no portal de serviços da prefeitura para pedir uma mera autorização para plantar, ele próprio, outra árvore no lugar, a previsão do serviço de autorizar é de 60 dias úteis. Se pedir que a prefeitura efetivamente execute o plantio, o prazo previsto no sistema é de sete meses.

Ainda não consegui receber uma resposta satisfatória para a pergunta óbvia que o bom senso pede: por qual razão o fornecedor contratado para fazer o corte também já não realiza a retirada do toco e outro plantio logo em seguida? A quem interessa que sejam três protocolos e pedidos diferentes? E, novamente, pergunto: você sabia que o prefeito Fuad Noman criou no início do seu mandato uma subsecretaria específica para Zeladoria Urbana? Além da criação do órgão e de um gabinete para o subsecretário… A cidade está mais bem cuidada? Mais limpa? Mais verde? Mais zelada?

Não faltam leis e normas sobre o tema. Falta inteligência. Como presidente da Câmara Municipal, tenho como fiscalizar e cobrar, mas não obrigar a administração a ser mais inteligente. Então a meta é liderar pelo exemplo.

Por isso, em parceria com a CDL comecei pelo meu quarteirão. E com a ACMinas vamos focar o plantio de ipês. Eu não pedi permissão para plantar. Só plantamos. Um insurgente urbano se vê. Há uma lista de espécies adequadas que seguimos. Seria um crime plantar árvores? Ou apenas uma desobediência civil? Proponho esse verde levante. Vamos mobilizar os comerciantes do centro de Belo Horizonte e inundar a administração municipal de pedidos até eliminar a lentidão no processo de autorização e plantio. Chamar atenção aos problemas e cobrar bom senso já resolve.

Plantemos para o futuro, pois no passado alguém teve a postura cidadã de plantar por nós.

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Gabriel de a a z

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