Questões da prevenção e da necessidade de intervenções
A cada ano, quando se aproxima o período chuvoso, a população de Belo Horizonte se prepara para dias e noites de muita preocupação. Nossa capital não está apta a enfrentar os problemas causados pela chuva. Os transtornos, prejuízos materiais e até perda de vidas, como ocorreu em novembro de 2018, se tornaram um drama repetido inúmeras vezes, atormentando boa parcela dos belo-horizontinos.
Em 2020 não está sendo será diferente. Na primeira noite do ano, a avenida Vilarinho, na região de Venda Nova, mais uma vez foi tomada pela enxurrada. Estabelecimentos comerciais e residências foram inundados, carros, arrastados, e duas estações do trem metropolitano, a da região da Pampulha e a de Venda Nova, tiveram seu sistema de sinalização prejudicado pela inundação, gerando problemas para os usuários do modal de transporte.
Dois dias depois, mais inundações na mesma região. A indesejável repetição das perdas acarretadas pela falta de obras capazes de garantir a tranquilidade de quem vive, trabalha ou circula pelas áreas propícias a alagamentos. Passados três anos de mandato do prefeito Alexandre Kalil, a publicidade em torno de soluções para resolver de uma vez por todas o problema das chuvas é intensa, mas a execução das obras prometidas ainda está no futuro.
Para se ter uma noção mais exata do status em que se encontra a situação, é preciso observar que em outubro foi publicado o decreto para desapropriação dos terrenos onde serão construídos os reservatórios de contenção na região do córrego Vilarinho. O edital de licitação deverá ser publicado em maio, o que contraria a previsão do secretário municipal de Obras e Infraestrutura, Josué Valadão, que prometeu, em novembro de 2019, o início das obras para abril deste ano. Como se vê, a obra já está atrasada antes mesmo de ser licitada.
Também é preciso lembrar que a administração municipal insistiu, por nove meses, em um projeto inadequado: a construção de túneis para escoamento da água de chuva na avenida Vilarinho. O projeto foi anunciado com pompa e circunstância em dezembro de 2018, com divulgação de um investimento da ordem de R$ 300 milhões. A construção dos túneis foi criticada por muitos especialistas, até que, em setembro do ano passado, a ideia foi descartada e a Prefeitura de Belo Horizonte anunciou que iria construir reservatórios subterrâneos.
Seria incorreto de minha parte afirmar que o problema das inundações em nossa capital é de responsabilidade única da atual gestão municipal. É questão antiga, de décadas, resultado de inúmeras obras incorretas, de impermeabilização generalizada do solo, impedindo o escoamento das águas pluviais, falta de proteção das margens dos cursos d’água e outras agressões cometidas pelo homem. O que digo é que faltou celeridade para começar a implementar as soluções que a cidade tanto espera, especialmente no entorno do córrego Vilarinho.
Há outras áreas com problemas. Na avenida Tereza Cristina, a prefeitura informou a conclusão da primeira etapa das obras das bacias de contenção dos córregos Jatobás e Bonsucesso, que desembocam no Arrudas. Entretanto, em dezembro, houve uma inundação que levou carros e invadiu imóveis no Betânia, Vila São Paulo e Cidade Industrial. Ou seja, o que foi executado até o momento não levou alívio para os moradores da região. Governar para quem precisa também é saber ouvir e não insistir em erros.