Está marcada para segunda-feira, dia 18, a reunião do Conselho Deliberativo do Clube Atlético Mineiro, do qual faço parte, para votar a proposta de construção da Arena do Galo, com capacidade para 41,8 mil pessoas. Apoio a iniciativa e entendo que ela será muito benéfica para o clube, seus torcedores e nossa cidade.
A – Sou a favor da Arena do Galo, em primeiro lugar, porque trata-se de um projeto totalmente financiado com recursos do Clube Atlético Mineiro, uma instituição esportiva particular. Não haverá qualquer destinação de verbas públicas na construção do estádio. A engenharia financeira que possibilitará a obra não prevê nenhum investimento da prefeitura ou do governo do Estado. Sou vereador, conheço muito bem a difícil situação das finanças públicas municipais e seria o primeiro a me posicionar contra o estádio do Galo se o poder público investisse um centavo que fosse nesta obra. Mas este não é o caso. O estádio será erguido com dinheiro do Atlético. Portanto, são improcedentes as afirmações de que o Galo será beneficiado com o uso da estrutura e de verbas públicas.
B – Também defendo a construção da Arena do Galo porque hoje o clube não tem um estádio adequado para mandar seus jogos. A Arena Independência, localizada na Região Leste da capital, tem capacidade reduzida (23 mil torcedores), não pertence ao Galo, que paga, caro, para jogar lá, tem acesso muito difícil e qualquer iniciativa para que sua capacidade seja ampliada depende de uma demorada negociação com o América, com o governo do Estado e com a empresa que administra o local. Isso traz prejuízos financeiros para o Atlético, que não pode ampliar como deseja o programa de sócio torcedor.
C – Quanto ao Mineirão, o quadro é ainda mais desfavorável ao Atlético. Totalmente reformado para ser uma das sedes da Copa de 2014, o Mineirão foi entregue à administração da iniciativa privada, que é a grande beneficiária desse modelo de concessão. Os clubes pagam caro para jogar no estádio e isso impacta diretamente em suas finanças. Além disso, por não se tratar de um estádio próprio, os times não lucram com as demais fontes de arrecadação do Mineirão, como venda de alimentos e bebidas, estacionamento etc. Todo o faturamento vai para a Minas Arena, concessionária do estádio. Financeiramente, é um péssimo negócio jogar no maior estádio de Minas Gerais, e o Atlético não pode se dar ao luxo de perder dinheiro.
D – O que temos então, no que diz respeito aos dois estádios hoje existentes em Belo Horizonte, é que nenhum deles atende aos interesses do Galo. Jogar no Independência ou no Mineirão significa abrir mão de receitas importantes, ter prejuízo e ficar cada vez distante do faturamento de clubes como o Palmeiras e o Corinthians, que hoje estão com receitas anuais próximas de R$ 1 bilhão, enquanto o Atlético, mesmo com aumento expressivo no faturamento, tem previsão de arrecadação de pouco mais de R$ 330 milhões em 2017. Se nada for feito para que o Galo aumente de forma agressiva o seu faturamento, a distância para Corinthians, Palmeiras, Flamengo e outros clubes do eixo Rio-São Paulo será cada vez maior e ficará mais difícil montar equipes competitivas e em pé de igualdade com as demais grandes equipes do país.
E – Passemos a analisar as características do projeto da Arena do Galo. É preciso ressaltar inicialmente que o projeto não surgiu agora, vem sendo estudado, discutido e aprimorado há quatro anos, até chegar ao formato que será submetido à votação do conselho na próxima semana. Em 2014, o terreno do estádio foi adquirido pela MRV, por R$ 50 milhões, e doado ao Atlético. Na doação, foi condicionado que o terreno só poderá ser usado para a construção de um estádio, vetada qualquer outra utilização. A área está localizada no Bairro Califórnia, próxima a três estações de metrô (Eldorado, Vila Oeste e Cidade Industrial) e do Anel Rodoviário, o que permitirá o acesso rápido da torcida em dia de jogos e do público em geral quando no local foram realizados shows de música e outros eventos.
F – O custo da obra é outro tópico que tem suscitado muita discussão. Para construir o estádio, uma arena multiuso, com capacidade para 41,8 mil pessoas, o Galo terá que investir R$ 410 milhões. Em comparação com os gastos da construção de estádios para a Copa de 2014, é um valor baixo. Neste fim de semana, a TV Globo informou que a Arena das Dunas, em Natal, custou nada menos que R$ 2 bilhões aos cofres públicos. O Estádio Mané Garrincha, em Brasília, consumiu cerca de R$ 1,7 bilhão. O projeto da arena do Galo é moderno, enxuto e com toda a previsão orçamentária já pronta. O clube não fará empréstimos nem entregará parte do estádio a parceiros. A arena pertencerá integralmente ao clube, e isso é um item que considero de suma importância para definir o meu voto a favor da obra.
G – E de onde virão os R$ 410 milhões para a construção do estádio? R$ 250 milhões virão da venda de 50,1% do Shopping Diamond Mall para a Multiplan, R$ 60 milhões da venda dos naming rights, recursos já garantidos pela MRV Engenharia, e R$ 100 milhões da venda de cadeiras cativas, sendo que desse total R$ 60 milhões também já estão confirmados, pois o Banco BMG se comprometeu a comprar cadeiras cativas até alcançar este valor. Será feita licitação para a escolha da empresa que irá construir o estádio, com custo fixo e prazo firmado em contrato. Caso o custo da obra aumente, não haverá prejuízo para o Atlético, pois será feito seguro para assegurar o cumprimento das cláusulas do contrato e garantir a construção de acordo com o valor previamente estipulado. O Ministério Público também foi convidado a acompanhar toda a execução do projeto, para confirmar a lisura e a idoneidade de todos os procedimentos.
H – Chegamos ao cerne da grande polêmica que cerca o projeto de construção do estádio do Galo: a venda de 50,1% do Diamond Mall para a Multiplan, o maior grupo do Brasil na área de shopping centers. A Multiplan construiu o Diamond no terreno onde antes ficava o estádio Antônio Carlos e assegurou o direito de explorar o local por 30 anos. Pelo arrendamento, o Atlético recebe por ano 15% da receita bruta do shopping. Em 2016, esse pagamento correspondeu a R$ 8,7 milhões. O prazo de exploração se encerra em 2026, quando o centro comercial será reintegrado ao patrimônio do clube.
I – Os conselheiros contrários à venda de 50,1% do shopping alegam que o imóvel foi avaliado em R$ 785 milhões (avaliação feita pelo Banco Brasil Plural, especialista neste tipo de consultoria) e, que, portanto, ao pretender vender 50% de sua participação por R$ 250 milhões, a diretoria do Atlético estaria se desfazendo do patrimônio do clube de uma maneira incorreta, que traria prejuízos para a instituição. Mas não é assim tão simples. Quando contratou o Banco Brasil Plural, o Atlético também buscou interessados em comprar o shopping. Mais de 50 investidores brasileiros e estrangeiros foram procurados para um possível negócio. Desses, apenas cinco se interessaram e só UM, o Grupo Vinci Partners, fez uma oferta de R$ 220 milhões por 100% do Diamond Mall.
J – Além disso, a Multiplan, que se comprometeu a comprar 50,1% do shopping por R$ 250 milhões, assegurou ao Atlético que nos próximos quatro anos o clube continuará recebendo 100% dos valores a quem tem direito anualmente. O Galo também terá poder de veto pleno toda vez que for feita proposta de aumento de capital. Desta forma, preservará sua participação no empreendimento e continuará recebendo sua participação na receita bruta do shopping, de acordo com a percentagem de sua parte no negócio. É preciso também levar em conta que o Atlético, com a construção do estádio, terá, em três anos (prazo previsto para a conclusão da obra), 100% do faturamento de sua arena, e continuará recebendo o dinheiro proveniente do shopping. Não há porque se falar em prejuízo quando as contas são feitas da maneira correta.
K – Deve-se ainda acentuar que o estádio do Galo será uma arena multiuso moderna e pronta para receber, além de jogos de futebol, todo tipo de espetáculo. Belo Horizonte, hoje, não dispõe de nenhum equipamento de grande porte preparado para receber espetáculos e eventos de grande magnitude, e a Arena do Atlético irá suprir essa carência. Com isso, a cidade também será beneficiada com o empreendimento, localizado em uma região de fácil acesso e com grande adensamento populacional, o que garante boa frequência nos eventos a serem realizados no local.
L – Também se faz necessário observar a maneira como os grandes clubes do Brasil e de outros países estão se preparando para enfrentar as mudanças no futebol, que exige cada vez mais profissionalismo, ousadia e captação de recursos. Real Madrid, Barcelona, Juventus, PSG, Corinthians, Palmeiras, São Paulo e tantos outros são 100% donos de seus estádios e faturam com venda de ingressos para os jogos, lojas de artigos esportivos, restaurantes temáticos, estacionamento, arrendamento do espaço para outros eventos. Ou seja, cada centavo de lucro que fica nestas arenas vai para o clube, para investimentos em futebol e na busca por mais títulos. É isso que o Atlético está fazendo ao apresentar o projeto de sua arena ao Conselho Deliberativo.
M – São ao menos 10 fontes de renda para o clube com o novo estádio: 1) Bilheteria dos jogos. 2) Estacionamento. 3) Venda de comida e bebida. 4) Comercialização dos naming rights setoriais. 5) Comercialização dos naming rights principais. 6) Venda de cadeiras cativas. 7) Venda de camarotes. 8) Comercialização dos camarotes. 9) Aluguel para shows, feiras e eventos corporativos de grande porte. 10) Comercialização de mídia interior na arena. E o Atlético fará isso sem se endividar. A arena do Galo será o único estádio construído no Brasil com recursos próprios, sem que o clube faça dívidas ou lance mão de empréstimos bancários a juros altíssimos, impagáveis. Daqui a três anos, quando o estádio estiver concluído, o Galo terá uma grande fonte de receitas e não terá feito dívidas para isso.
N – E para o torcedor, quais são as vantagens? Hoje, a torcida do Atlético acompanha o time em um estádio acanhado, o Independência, e sem conforto. A identidade com o estádio, apesar das conquistas da Libertadores e da Copa do Brasil, entre outras, não é total. Da mesma forma, o Mineirão, um estádio sem estacionamento e que obriga as pessoas a um grande deslocamento a pé até chegarem às arquibancadas e cadeiras, não é o ideal para a torcida atleticana. Com a arena própria, os atleticanos terão acesso a um estádio moderno, confortável, com toda a comodidade hoje proporcionada nas arenas da Europa. Será uma nova maneira de ver uma partida de futebol e apoiar o time na conquista de títulos.