Reabilitação digital e social

Retorno ao ambiente online e equilíbrio

Fiquei mais de dois anos desconectado das mídias sociais. Desde domingo, 12 de março de 2023, meu aniversário, estou de volta. No Instagram, no TikTok e no Twitter, @GSMA1986, as iniciais do meu nome completo e o meu ano de nascimento, são a identificação dos meus perfis.

A reflexão que proponho, porém, não somente sobre a volta, é: o que significou esse período desconectado para mim e para outros (talvez)?

As mídias sociais são festivais de vaidades. E a vaidade sempre foi um dos meus defeitos mais evidentes. Ao expor intensamente minha vida na internet, ganhei admiradores, eleitores e seguidores. Todavia, surgiu muita perturbação. Foi, aliás, certa vaidade que me estimulou a me desconectar.

Após ter sido agredido durante um assalto, estive com o rosto bastante machucado. Não era uma face que gostaria de exibir. A insatisfação com a minha aparência durante a recuperação das cirurgias, entretanto, desencadeou um período de transformação na minha postura. E na minha vida.

Desconectado, pude refletir sobre o hábito (nocivo e viciante) que havia adquirido de só dormir após responder pessoalmente todas as mensagens recebidas, tais quais elogios e sugestões. Havia também repetição. E demandas que, se mais bem organizadas, poderiam ser atendidas mais facilmente. Mesmo desconectado, o aplicativo “tem meu voto” continuava funcionando. Por lá, o gabinete parlamentar processava bem as demandas para soluções muito melhor do que eu poderia fazer individualmente, ali, por mensagens diretas no Instagram.

Sem o meu vício nas mídias sociais, minha família pode conviver mais comigo. Consigo, agora, jantar com minha irmã, minha mãe e minha tia, sem ficar o tempo inteiro digitando no celular. Sou um amigo melhor, mais atencioso com as pessoas queridas que encontro pessoalmente. É assim que eu pretendo ter a maior parte das minhas conversas.

O vereador que usava as mídias sociais o tempo todo era um parlamentar menos produtivo do que hoje. Foi só com o foco absoluto no trabalho, e menos na produção de conteúdo sobre o trabalho (e além), que consegui finalmente conquistar apoios para abrir a CPI da Caixa-Preta da BHTrans. E enquanto investigávamos, gerando repercussões na Justiça, na Polícia Federal e até no Conselho Administrativo de Defesa Econômica, perdi muitas oportunidades de engajamento nas postagens, mas consegui entregar um resultado concreto de fiscalização do cartel que tomou conta do transporte da cidade.

Da mesma forma, dialogando mais coletivamente, em vez de falar com a tela do celular, consegui me tornar presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte. Em um mês de mandato na presidência, já estava reaberto o Restaurante Popular por lá. Não tive a oportunidade de postar um vídeo na inauguração, mas já estamos atingindo a marca de mil pessoas almoçando todo dia, com comida balanceada e barata, ao custo de R$ 3. Tenho certeza de que tirar uma pessoa da insegurança alimentar vale muito mais do que o tanto de curtidas que poderiam ter sido conquistadas nesse período.

Pensando em uma forma democrática, pacífica e propositiva, estou de volta às mídias sociais. Os que me acompanham há mais tempo podem estranhar a ausência de respostas individuais a cada mensagem. O compromisso com resolver problemas, entretanto, não mudou. Quem ainda precisar cobrar um serviço público pode registrar sua demanda no aplicativo “Tem meu voto”, contribuindo para uma base de dados inteligente das necessidades da cidade, que pode ser usada para a formulação de políticas públicas baseadas em evidências, e não apenas no atendimento daquele caso individual.

Quem enviava mensagens de cunho personalíssimo, incluindo sobre temas que a linha editorial não me permite tratar em jornais, peço que deixe essas coisas para as interações pessoais. Risos. Vale também a máxima de que muitas reuniões podem ser apenas um e-mail. Estou de volta às mídias sociais não apenas para estreitar os laços com a cidade, mas para apresentar uma proposta para que esses ambientes possam ser mais verdadeiros, mais saudáveis, mais úteis para a cidade. A comunicação digital pode ser uma forma maravilhosa de aprofundar a democracia, se usada da forma correta. Essa é a meta, o mote e a prece. Amém.

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