É possível requalificar áreas urbanas sem que a população de baixa renda seja deslocada desses locais depois que eles são recuperados? Esta é uma discussão que ganha importância em vários países e que precisamos trazer para Belo Horizonte, tendo em vista a necessidade premente de restaurar o Hipercentro da capital, que enfrenta um grave e acelerado processo de decadência.
Nos Estados Unidos, onde a recuperação de bairros e regiões inteiras de cidades transcorre em ritmo veloz, surgiu um movimento preocupado em evitar a chamada gentrificação. O objetivo é assegurar que os benefícios provenientes da recuperação econômica dessas áreas sejam estendidos a toda a população, independentemente da classe social.
A – O movimento “Reimagining the civic commons” teve início há três anos, na cidade da Filadélfia, na Pensilvânia, quando a metrópole, depois de um longo período de decadência econômica e social, retomou o processo de prosperidade, atraindo principalmente jovens de várias partes do país e imigrantes das mais diversas nacionalidades.
B – Entretanto, como o desenvolvimento se limita a determinadas áreas da cidade, que ainda tem regiões com altas taxas de pobreza e desigualdade social, surgiu a ideia de compartilhar os novos equipamentos urbanos com os setores mais humildes da população, por meio do incentivo à convivência entre todos.
C – Este esforço cívico comum conta com o patrocínio das fundações Knight e William Penn, que firmaram parceria para apoiar as ações do Reimagining the civic commons. O projeto parte da premissa que os equipamentos públicos cívicos, como parques, praças, bibliotecas e reservas florestais, entre outros, sejam usados pelas mais distintas classes sociais, deixando de ser privilégio para quem tem maior poder aquisitivo.
D – Uma das formas encontradas para fazer com que os setores mais humildes da população se beneficiem das melhorias implementadas nos bairros é incentivar a comunidade a acompanhar e se envolver com as obras. Isso permite que os integrantes dessas regiões tornem-se responsáveis pela proteção e administração desses projetos.
E – Atualmente, cinco espaços públicos na Filadélfia são contemplados pelo Reimagining the civic commons. um deles é um lago artificial que ficou fechado por anos e que está sendo transformado em um Discovery Center. Programas de formação de lideranças e voltados para o meio ambiente são oferecidos a jovens de toda a cidade.
F – Outro projeto incentiva moradores de uma área de baixa renda a frequentar um parque que foi recuperado graças a um investimento de US$ 18 milhões. A meta é fazer com que essas pessoas se sintam bem-vindas à área verde revigorada. Uma ciclovia e um caminho para pedestres foram construídas ao lado do jardim botânico dos Estados Unidos, fundado em 1700. Cerca de 50 mil alunos e moradores usam o local a cada ano.
G – A iniciativa nascida na Filadélfia hoje também está presente em Detroit, no Estado de Michigan, Memphis, no Tennessee, Chicago, em Illinois, e Akron, em Ohio. Os objetivos em todas essas cidades são os mesmos: combater a gentrificação e incentivar os norte-americanos a conviver mais em espaços públicos, interagir mais e passar a confiar mais uns nos outros.
H – Em Memphis, por exemplo, os esforços estão concentrados em transformar o centro da cidade, às margens do Rio Mississippi, em um local de convivência de toda a população. Aos sábados, são desenvolvidas atividades esportivas e de lazer. Com essas ações, os organizadores esperam combater a segregação racial na cidade.
I – As iniciativas em Memphis, Chicago, Illinois e Akron são muito recentes e tiveram início neste ano, baseadas no sucesso do Reimagining the civic commons na Filadélfia. Um site difunde as ações, informa o andamento dos projetos e busca fazer que mais cidades adiram ao programa.