Em Belo Horizonte, a despoluição do Ribeirão Arrudas é um assunto que pouco avança. Boa parte do leito do ribeirão foi canalizada e coberta para a construção do Boulevard Arrudas, mas o curso d’água continua a funcionar como um imenso canal de esgoto. Da mesma forma, em São Paulo, após anos e anos de obras e investimentos incalculáveis, o Rio Tietê continua poluído, fonte de transmissão de doenças e responsável por inundações nos períodos de chuva.
E os péssimos exemplos de rios brasileiros transformados em esgotos a céu aberto não param por aí. Seja em grandes cidades, como BH, São Paulo e Recife, onde o Rio Capibaribe é apontado como o sétimo rio mais poluído do país, seja em cidades de médio e até de pequeno porte, onde as autoridades e a população simplesmente despejam todo tipo de dejetos nos cursos d’água.
A – Na Europa e na Ásia, as soluções para a despoluição dos rios avançaram bastante e, hoje, nadar, pescar e até usar a água desses mananciais para consumo humano já é possível, graças ao esforço feito por governos de diferentes países. Há algumas iniciativas de limpeza e recuperação de rios que tiveram início ainda na década de 1950 e transformaram-se em paradigmas de sustentabilidade e preservação dos recursos naturais.
B – Este é o exemplo de Estocolmo, sede do governo sueco e maior cidade do país. O tratamento da água transformou os rios que cortam a cidade em locais apropriados para a prática da pesca, natação, passeios de barcos e outras atividades turísticas, tornando-se mais uma opção de lazer para a população e os turistas. Hoje, até a água de chuva é tratada antes de retornar à natureza.
C – Essa iniciativa, além de outras, como um sistema de coleta de lixo a vácuo que dispensa o uso de caminhões, e a parceria com a iniciativa privada para a expansão do uso de painéis solares, levaram Estocolmo a ser apontada como a cidade mais sustentável da Europa. Em 2013, foi eleita a “Capital Verde” do continente, reconhecimento ao esforço para proteção e recuperação dos recursos naturais.
D – A recuperação do Rio Tâmisa, na Inglaterra, é outra ação extraordinária, pelo estado de degradação em que o curso d’água se encontrava, e pela rapidez com que foi concluída. No final do século 19, o Tâmisa já era considerado um rio em agonia, tamanho o grau de poluição de suas águas. No século 20, nos anos 1950, a situação se tornou insustentável, a ponto do Parlamento inglês ter cancelado sessões por causa do odor que emanava do rio.
E – Teve início uma ação conjunta das prefeituras das cidades da Região Metropolitana de Londres. O esforço foi feito em diversas frentes: as empresas foram proibidas de despejar efluentes no rio, o serviço de tratamento de esgoto passou por ampliação e modernização, todas as áreas impermeáveis, cobertas com concreto, foram removidas, restaurando as margens do rio. Para controlar as enchentes, foi construída uma barragem.
F – Hoje, menos de 60 anos após o início das obras de revitalização do rio, o Tâmisa é usado para pesca e prática de esportes náuticos. A fauna e a flora da região banhada pelo rio foram recuperadas. Há mais de 120 espécies de peixes vivendo no curso d’água, além de dezenas de aves, mamíferos e invertebrados. A qualidade da água é monitorada 24 horas por dia, em estações ao longo do rio.
G – Como o Tâmisa, o Rio Sena, que corta Paris, também foi declarado oficialmente morto, mais ou menos à mesma época, em fins dos anos 1950 e começo da década de 1960. O esforço de despoluição teve início em 1964 e hoje, de acordo com as autoridades ambientais francesas, cerca de 30 espécies de peixes vivem nas águas do Sena, um dos pontos turísticos mais visitados da capital francesa. Como em Londres, a fiscalização rigorosa, com multas milionárias para quem polui o rio, e a construção de um sem número de estações de tratamento de esgoto são os pontos fundamentais da revitalização.
H – Em Portugal, foram investidos 800 milhões de euros na despoluição do Rio Tejo. A tarefa foi concluída em 2012 e, de acordo com o parecer de autoridades ambientais, as águas do Tejo estão limpas e até golfinhos já foram vistos nadando em Lisboa. A população usa o rio para esportes náuticos e pesca. Ainda na Europa, o Rio Reno, que corta vários países, passa por processo de recuperação semelhante. Cerca de 95% dos esgotos industriais são tratados e há mais de 60 espécies de peixes vivendo nos 1,3 mil quilômetros de extensão do Reno.
I – Na Ásia, os dois grandes exemplos de recuperação de cursos d’água vêm da Coreia do Sul, onde os rios Cheonggyecheon e Han foram inteiramente despoluídos. A revitalização do Rio Cheonggyecheon tornou-se notícia no mundo inteiro. O rio passa por Seul e sua recuperação foi feita em quatro anos. Hoje, com cascatas e locais de lazer em suas margens, e repovoado com várias espécies de peixes, o manancial é ponto de encontro da população coreana.
J – Já o Rio Han é um corredor marítimo de transporte, com 320 quilômetros navegáveis. O trabalho de recuperação ainda está em andamento, com a construção de estações de tratamento e a retirada do esgoto que era despejado diretamente no rio. A revitalização de parques ecológicos localizados às margens do Han também faz parte do projeto. As autoridades coreanas hoje afirmam que o rio está limpo e já se tornou habitat de algumas espécies de peixes.