Mobilidade é um dos grandes gargalos de Belo Horizonte, que desafia sucessivas administrações municipais, sem que tenha havido progresso significativo. A última grande intervenção na cidade foi a implantação do BRT, incluída no pacote de obras e investimentos que prepararam a cidade para a disputa da Copa do Mundo de 2014.
A – Desde então, a cidade passou apenas por intervenções pontuais, como o projeto Mobicentro, implementado na gestão anterior, “para favorecer a segurança de motoristas e pedestres”, como informou a BHTrans na época de lançamento da iniciativa. É muito pouco para uma cidade que viu sua frota de veículos aumentar 98% de 2006 a 2016.
B – Temos pouco menos de 1,8 milhão de carros circulando por vias congestionadas, poluindo o ambiente e fazendo com que as pessoas percam tempo precioso no trânsito. Sei que a capital, com um déficit orçamentário projetado de R$ 150 milhões para 2018, não dispõe de recursos para investir em obras de grande porte, que contribuam para desafogar o tráfego, mas há recursos tecnológicos que podem facilitar a vida da população e também auxiliar no aumento da arrecadação municipal.
C – Tomemos, por exemplo, a exploração das áreas de estacionamento da capital, o Faixa Azul, hoje controladas pelos flanelinhas, que extorquem os motoristas. A fiscalização municipal simplesmente inexiste e a ação dos “tomadores de conta” se espalhou por toda a cidade. Vá a bairros da Região Oeste, como o Estoril, Buritis ou Gutierrez, percorra algumas ruas da Floresta, Santa Efigênia e Santa Tereza, na Região Leste, e veja como a atuação dos flanelinhas se espalhou.
D – Em muitas cidades do país, e não me refiro somente às grandes metrópoles, como São Paulo, o estacionamento digital é a solução para a gestão bem sucedida desse serviço. Em Vitória da Conquista, cidade baiana com pouco mais de 348 mil habitantes, o uso da ferramenta digital começou em maio e tem dados bons resultados. Se um município do interior do país consegue usar a tecnologia para administrar as zonas de estacionamento, por que BH, uma das maiores capitais brasileiras, não adota o mesmo sistema?
E – Os exemplos de cidades de menor porte que adotaram o estacionamento digital não param em Vitória da Conquista. Joaçaba, em Santa Catarina, adotou o sistema desde março. Joinville, também no interior catarinense, seguiu o mesmo caminho. O funcionamento é basicamente o mesmo em todos os lugares onde a tecnologia foi empregada, com o uso de um aplicativo nos smartphones dos usuários e a compra online de créditos para usar o estacionamento.
F – Além da gestão digital dos estacionamentos, há recursos tecnológicos que possibilitam a interação e a administração da frota de transporte coletivo urbano, como o Sistema Integrado de Transportes de Fortaleza, capital do Ceará (SIT-For), implantado em 2013. Em centros de controle espalhados pela cidade, os operadores do Sit-For têm condições de interagir com condutores e fiscais e verificar em tempo real as condições de circulação da frota, entre outros instrumentos de otimização do transporte público.
G – Transporte público mais eficiente significa mais conforto e mais rapidez para os usuários e, consequentemente, maior fluidez no trânsito e menos tempo perdido. Mais de um milhão de pessoas usam o transporte coletivo em Belo Horizonte e adotar essas inovações significa atender uma parcela considerável da população. Os investimentos da BHTrans nessa área ainda são tímidos e há muito o que avançar nesse quesito.
H – Saindo do Brasil, podemos lembrar a impressionante eficiência do sistema integrado de transporte público em Santiago do Chile, o Transantiago, que já tive a oportunidade de abordar neste espaço do blog dedicado a boas experiências no mundo para tornar as cidades mais inteligentes e sustentáveis. O serviço integra ônibus e metrô. O passageiro, antes de sair de casa ou do trabalho, pode planejar de forma detalhada sua viagem, quanto tempo gastará no percurso, quais as rotas mais rápidas etc. etc.
I – Isso pode ser feito usando computador, notebook, tablet ou smartphone. No site do Transantiago ou no aplicativo, o usuário recebe todas as informações em tempo real, é notificado sobre desvios nas rotas dos ônibus, tem à disposição o itinerário de cada linha de transporte coletivo, como está a situação das linhas que ele terá que usar, entre outras facilidades.
J – São exemplos que demonstram que mobilidade, inteligência gerencial e tecnologia caminham em sintonia e que se faz necessário usar tais recursos em momentos de escassez financeira, como o país atravessa hoje. Melhorar as condições do transporte público, tornar o sistema mais confortável, eficiente e rápido são incentivos para que as pessoas que hoje usam transporte particular deixem os carros em casa e adiram ao serviço público. E, ao contrário das obras estruturais, são iniciativas de menor custo, que podem ser implementadas por meio de parcerias com a iniciativa privada.