Nessa segunda-feira, vou partir em direção a mais um roteiro traçado para as férias. Desde 2010, criei um hábito: todo ano realizo uma viagem desacompanhado das minhas turmas de amigos para algum canto do mundo. Marcel Proust dizia que a verdadeira viagem de descoberta não consiste em ver novas paisagens, mas sim ver com novos olhos. Quando a gente viaja em trupe, de certa forma, carrega um pouco do próprio lugar para os novos destinos. É como ir ao teatro e seguir lendo um livro na platéia… Obviamente, também viajo acompanhando. Nesse anos, foram algumas e virão outras. Não é o caso dessa… (também tenho hábito de ir no cinema sozinho, coisa que as ex-namoradas conseguiam driblar, para meu aborrecimento)
Viajar é fazer uma jornada para dentro de si mesmo.
Dena Kaye
A – A primeira viagem internacional que fiz sozinho foi para a Jamaica, em 2010, após o fim do semestre letivo. Ainda estudava direito e jornalismo. Resolvi conhecer o norte da ilha onde existia um lugar que qualquer dia relato nesse blog. Obviamente, fiquei com enorme temor do que poderia acontecer… Eu me sentiria solitário? E se ocorresse algum incidente? Quais os riscos evolvidos no projeto?
B – Um dos melhores sentimentos nessa vida é o da liberdade. Ele não vem desacompanhado de temores. E encarando-os e que a gente se conhece. Imaginem que não vai ter nem papai, nem mamãe, para resolver qualquer problema. E os amigos também não estarão por perto. Logo, você tem de se virar.
C – Há muitas vantagens nesse tipo de viagem. Se é difícil reunir alguns amigos para se encontrar pela incompatibilidade de cada um, imaginem organizar um roteiro internacional! Vai faltar data, afinal as férias variam. Sem falar no estilo de trabalho, a forma de renda, o gosto pelos destinos… E mil outras variáveis que vão fazer você ficar adiando e adiando. Não adie! Viajar é uma das melhores coisas que há! Escolha um ponto no globo, se organize e vá! A vida é muito curta…
D – Se você pretende mesmo adotar essa ideia, digo a você que convém se misturar. Eu prefiro escolher destinos urbanos, como grandes centros onde há muita gente e muitas opções. Há quem goste de viajar sozinho para ficar sozinho. Não é meu caso! Seja no bar do hotel ou no café da praça movimentada, há sempre a possibilidade de você conhecer gente nova e mergulhar na cultura de um novo país. Quem sabe, ainda pode ainda ser aquela moça simpática que vai lhe apresentar as baladas da cidade…
E – Tenho o hábito de dormir muito pouco. Umas cinco horas e já estou com baterias recarregadas. Quando viajo com amigos e vamos até tarde (sempre vamos até tarde), a turma dorme até depois do meio dia. Eu já levanto cedo e fico esperando o grupo sair da cama. Uma vez viajando sozinho, o horário é seu. Quer dormir cedo, levantar tarde, tanto faz… É sua agenda. Com seu roteiro. E bebendo e comendo quando quiser e o que quiser, sem votação…
F – Estando com amigos, as risadas e as conversas são parte significativa do roteiro. Isso é fantástico, mas também rouba a atenção do destino. Sozinho, você absorve completamente o lugar. E você também sai um pouco do personagem que você criou para si e que também criaram para você. É todo um novo cenário e você está com a mente aberta para captar tudo.
G – Eu digo que sou tímido e ninguém acredita, mas é verdade. Explico: falar em público é super tranquilo quando há mil olhos me encarando, mas encarar um par ainda é dureza num contato novo. Eu disfarço… Só que quando você está sozinho, a situação muda. Ou você deixa timidez de lado, ou você vai ficar conversando apenas pelo whatsapp com sua turma de sempre. Viajar sozinho pode ser um grande empurrão para você gente nova, aprender histórias novas, ouvir piadas diferentes…
Viajar não é deixar as nossas casas, mas sim deixar os nossos hábitos.
Pico Iyer
H – Vale salientar que trata-se de uma bela oportunidade de praticar outros idiomas! Eu curto muito aprender sobre outras línguas. Além do português, me comunico em inglês e espanhol. O inglês com sotaque carregado e o espanhol naquela mistura básica com o português que todo brasileira conhece… Em bando, você fica no português. Sozinho, seu cérebro passa a raciocinar no outro idioma. Isso faz muito bem!
I – Digo que a diversão em viajar sozinho começa escolhendo o roteiro, a forma de ir de um lugar para o outro e as opções de onde ficar. Eu me recordo do dia em que fui traçar um percurso entre as cidades do Sri Lanka. Você pode até imaginar que convém seguir de uma para outra que estejam mais próximas, mas depois descobre que não há trem ligando as duas. Um bom roteiro de viagem pode levar um mês para ser feito. E você já começa a viajar conversando com quem já foi, lendo a respeito e imaginando o que vai encontrar.
J – Eu reafirmo uma precaução! Não viaje sem seguro de saúde. Eu estive em Varanasi, na Índia, onde naveguei pelo Rio Ganges. A diarréia que contraí é coisa que mata… Não fosse o seguro, meu corpo seria encontrado segurando uma garrafa d’água sentado no vaso sanitário.
K – Claro, o dinheiro pode ser um empecilho para quem sonha em viajar. Na primeira viagem que realizei, organizei uma poupança para garanti-la. Recomendo que você coloque no orçamento as passagens, a hospedagem e o gastos diários. Feito isso, acresça vinte por cento. Depois divida em 10 meses e poupe. Nada de gastar no cartão de crédito para ficar pagando juros em seguida que juízo fiscal é fundamental. Todavia, realmente aconselho todos a gastarem parte do que ganham com viagens. Poucos investimentos possuem tanto retorno.
L – Em uma pesquisa do Ministério do Turismo divulgada em 2014, 17,8% dos brasileiros revelaram a intenção de viajar sem a companhia de um amigo ou familiar. Em janeiro do 2013, eles representavam 12,6%. O número deve ter aumentado em 2015.
As viagens dão uma grande abertura à mente: saímos do círculo de preconceitos do próprio país e não nos sentimos dispostos a assumir aqueles dos estrangeiros.
Barão de Montesquieu
M – Essa tendência é confirmada, e de forma ainda mais contundente, por uma empresa especializada em pesquisa online de passagens e hotéis, a Kayak. Segundo o levantamento da companhia, entre os meses de janeiro e julho de 2014, mais de 77% das buscas por viagens nacionais e internacionais foram feitas por pessoas que pretendiam viajar sozinhas.
N – A internet teve um grande papel nessa história! A primeira coisa que faço ao desembarcar num país é adquirir um chip com plano de dados para internet 4G. No Brasil, custa muito! Lá fora é muito barato. Com ele, seu celular segue funcionando e você pode acessar o GoogleMaps para fazer uma rota, o Foursquare para conhecer as dicas dos melhores lugares, o Whatsapp para seguir em contato com o Brasil sem gastar fortunas com telefonia, o Instagram para compartilhar suas fotos em tempo real, o Uber para ir de um lugar ao outro se necessário, o tinder para conferir como são as suecas mais próximas a você, dentre todas as funções de um telefone inteligente do qual não conseguimos nos desgrudar.
0 – Em países onde a segurança é complexa ou a língua é realmente um entrave, não hesite em contratar um guia. Os guias credenciados podem oferecer detalhes dos roteiros turísticos que você não encontra na internet ou nos livros.
P – Há um atividade que sempre recomendo: ouvir suas músicas favoritas (agora no Spotify) caminhando pelas ruas das cidades. Não há nada mais gostoso do que caminhar sem rumo por uma cidade onde você nunca pôs os pés antes. Você pode ficar horas observando detalhes que nunca viu na vida!
Q – Uma viagem dessas faz você aprender o significado da palavra essencial. Desde a bagagem (não preciso nem dizer que não é necessário exagerar) até ao que você considera importante para a sua vida. Você sente saudades! E sente saudades daquilo que gosta mais! Viajando você vai aprender quem você é onde você mora.
Viajar! Perder países! Ser outro a cada dia.
Fernando Pessoa
R – Uma diversão a parte é escolher algum objeto que me faça lembrar do país depois. Quem já esteve na minha biblioteca sabe que tenho quinquilharias de lugares mundo a fora. Fujo daquelas lojas que papam os níqueis dos turistas com coisas obvias e feitas em série. Busco objetos genuínos e que de certa forma contenham parte dos símbolos e características daquele lugar.
S – Como gosto muito de política, chegando num lugar novo, o país já entra numa tabela: é república ou monarquia? Aqui, há presidencialismo ou parlamentarismo? Viajar é uma aula de teoria geral do estado e um ensinamento constante em direito constitucional comparado! A viagem que se inicia hoje tem esse objetivo também. Não vou adiantar agora, mas vou ver de perto algumas novidades sobre algumas teses jurídicas que ainda não foram experimentadas no Brasil. E vou compartilha-las.
T – Além do objetivo acima, hoje sigo para uma viagem de inspiração. Apesar de usar o iPhone para quase tudo, vou ter a tira colo um moleskine, esse caderninho preto bacana onde vou anotar algumas ideias que pretendo usar em breve. Quero conhecer as melhores praticas urbanas existentes em algumas das capitais que ostentam índices de dar inveja a nós. Claro, tais fatos vão render textos por aqui.
U – Outra coisa: desde que conheci Bruges, na Bélgica, virei um fã incondicional de cervejas! Em Belo Horizonte, as produção de pequenos cervejeiros está surpreendendo o mundo. Destaque para meu amigo José Felipe, coproprietário da cervejaria Wälls. Pois nessa rota, eu confesso um roteiro etílico, não apenas com cevada, mas malte também! Não posso exagerar, por que em caso de porre, os amigos não estarão perto para me acudir…
V – É sabido que mineiros gostam muito de beber. Há ainda outra característica dos mineiros que quero compartilhar: essa vontade fugir e esse desejo em voltar. Como a gente fica aqui cercado por montanhas, bate uma curiosidade danada para ver o que há além delas… A gente vai, vê, espia, confere e sente que o melhor canto do mundo é aqui mesmo! E volta…
X – Eu voltarei! E no meio da jornada espero me tornar alguém ainda mais tolerante e defensor das liberdades individuais desse mundo. Quero carregar minha bagagem com muita história, cultura, diversão, arte, gastronomia, direito, casos e risadas.
W – Algum acidente pode sempre ocorrer, então fica aqui minha mensagem final em caso de sinistro. Liguem apenas para o que vale a pena. Claro, isso varia, portanto defina logo o que vale a pena para você. O resto toma o tempo de uma vida que não merece ser desperdiçada.
Y – Não, eu não vou voar com a MalasianAirlines.
Z – Todavia vou utilizar mais de dez companhias aéreas diferentes. Num dos aviões, já é possível utilizar a internet enquanto se voa. Ficou curioso? É só acompanhar esse blog pelos próximos dias que eu vou contando tudo. Uma pista para meu primeiro destino: gaitas de fole.