Quem não conhece a realidade da destruição da natureza no Brasil precisa visitar o site do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e acompanhar os dados referentes aos focos de incêndio, monitorados por satélites. São números impressionantes, que demonstram o descaso e a falta de respeito com que tratamos o meio ambiente em nosso país e o quão distantes estamos de reverter essa situação.
A – A primeira constatação que se tem ao avaliar os números divulgados pelo Inpe é que não é apenas a Amazônia que está sendo destruída por queimadas. O Cerrado, o bioma predominante em Minas Gerais, também é alvo dos incendiários e corre risco de devastação tão grande quanto o da Amazônia.
B – Neste ano, desde janeiro, 49,5% dos focos de incêndios registrados pelo Inpe tiveram como origem a Amazônia, num total de 47.489 ocorrências. Já na área de Cerrado foram detectados 32.918 focos de fogo, equivalente a 34,3% dos registros em território nacional. Neste período, até segunda-feira, 4 de setembro, foram 101. 896 incêndios em todo o território nacional, um número simplesmente absurdo.
C – Para se ter uma ideia da dimensão dessa tragédia ambiental, o número de focos de incêndio no país equivale a uma média de 417,6 incêndios por dia, ou 17,4 incêndios por hora. É simplesmente inacreditável essa destruição de nossos biomas por ineficiência do Estado, que não consegue reprimir e autuar essa prática criminosa, e por ignorância e má-fé dos causadores das queimadas.
D – Também chama a atenção o aumento descontrolado do número de incêndios, de ano para ano. Em 2011, de acordo com dados publicados no site do Inpe, foram 46.841 focos em todo o país. Em apenas seis anos, este número mais que dobrou, chegando aos 101.896 apurados até setembro.
E – Especificamente com relação à Minas Gerais, onde, nos últimos dias, houve um incêndio de grandes proporções no Parque Estadual da Serra do Rola Moça, os números também são preocupantes. Em 2017, já foram registrados 3.927 focos de queimadas no estado, aumento de 10% em relação ao ano passado, com 3.556 ocorrências.
F – Também deve se destacar que Minas Gerais é o sétimo estado brasileiro em número de queimadas, ficando atrás apenas, pela ordem, do Pará, Mato Grosso, Tocantins, Amazonas, Maranhão e Rondônia. Ou seja, no Sudeste, nenhum outro estado registra tantos focos de incêndio como Minas Gerais, mais uma demonstração da ausência de fiscalização e punição por parte do sistema estadual de meio ambiente.
G – O site do Inpe também traz previsões a respeito da ocorrência de focos de incêndio nas próximas 48 horas e, mais uma vez, Minas Gerais é destaque negativo. Praticamente todo o território do nosso estado está classificado nos níveis alto e crítico de risco de novas queimadas. Assim, sendo realistas, devemos nos preparar para mais fogo e destruição até a chegada das chuvas.
H – Belo Horizonte não aparece entre os municípios que mais registraram focos de incêndio, mas isso não serve de consolo, uma vez que os campeões são municípios com grandes áreas florestais, notadamente no Norte e no Centro-Oeste do país. A capital mineira, urbanizada e tomada pelo asfalto, não tem grandes extensões de reservas vegetais, mas as que existem estão sob grande risco.
I – Os parques da capital, por causa da falta de recursos, em sua maioria não receberam a manutenção adequada. A vegetação está alta e seca e tal situação é propícia à ocorrência de incêndios. O Parque Serra do Curral, patrimônio nacional, enfrenta este problema. Quem usa o local para caminhadas e outras atividades de lazer, constata o risco da área ser atingida pelo fogo.