Apesar dos recuos democráticos, cada um tem que fazer a sua parte

Pesquisa mostra cenário preocupante para regimes livres

Terminei em Londres a primeira etapa da viagem com seis integrantes da dinâmica “Democracia: Livros e Praças”. O roteiro se iniciou em Atenas. Na sequência, visitamos a capital inglesa para conhecer de maneira mais profunda o local onde a democracia renasceu, no século XVII, depois de um hiato de cerca de 2.000 anos, período em que a autocracia prevaleceu. E, importante destacar, não usei um centavo de recursos públicos nesta viagem.

Na Inglaterra, quando me preparava para expor a vocês aspectos da instauração e do funcionamento da democracia inglesa, a revista “The Economist” publicou a reportagem “Global democracy in retreat”, que traça um cenário preocupante para os regimes democráticos. A matéria se baseia em levantamentos feitos pela unidade de inteligência da publicação, divulgados anualmente. O trabalho é feito desde 2006.

As análises são compatíveis com estudos recentes, que alertam para o avanço autocrático no mundo. Começo com os dados da América Latina e do Brasil, que dizem respeito à nossa realidade. A revista informa que a América Latina sempre foi considerada “a região de mercados emergentes mais democrática do mundo”, mas alerta para a queda substancial do “Índice de Democracia”.

Em 2019, o índice democrático da região foi de 6,13. Em 2018, era de 6,24. Foi o quarto ano consecutivo de queda, causada, principalmente, pela crise pós-eleitoral na Bolívia e pela regressão das normas democráticas na Guatemala e no Haiti. Chile e El Salvador são apontados como exceções à redução regional no Índice de Democracia. Venezuela, Nicarágua e Bolívia são responsabilizados por “grande parte da recente deterioração democrática regional”.

Quanto ao Brasil, se compararmos o primeiro levantamento, em 2006, à classificação de 2019, observamos a regressão. No primeiro ano, o índice era de 7,38. Em 2018, baixou para 6,97, e, em 2019, foi 6,86. Em termos globais, entre 167 posições, ficamos em 52° lugar. De 0 a 10, o índice democrático no mundo caiu de 5,48, em 2018 para 5,44, em 2019. 

Os dados do Índice de Democracia estão de acordo com as mensurações de ausência de corrupção. Quanto mais democrático um país, menos corrupto. Esse é um argumento que os adversários da democracia não têm como refutar, embora insistam na tese de que o autoritarismo é eficaz para conter a corrupção. Não é.

Na Inglaterra, a democracia começou a renascer quando o rei Carlos I enfrentou a oposição do Parlamento ao decidir aumentar os impostos. Iniciou-se uma guerra, e veio o Protetorado Republicano Ditatorial. Em seguida, restaurada a monarquia, vieram os reinados de Carlos II e Jaime II, até que, em 1689, com a Carta de Direitos, a democracia se consolidou. Estivemos no Parlamento e aprendemos sobre o sistema de democracia parlamentar.

Também conhecemos o bunker de guerra utilizado por Winston Churchill, preservado desde 1945 e de onde o primeiro-ministro britânico comandou a luta contra o nazismo. Nada mais oportuno numa semana em que um imbecil se inspirou no nazismo em um discurso inaceitável. É necessário mostrar o lado certo da história, que derrotou a abominação hitlerista. Aproveito para repudiar aqueles que também louvaram Lenin. Quem o faz não entende democracia.

Em novembro, após o período das sessões plenárias na CMBH, vamos à Nova Inglaterra conhecer Washington, Filadélfia e Boston, berços da democracia na América, como nos conta Alexis de Tocqueville.

Compartilhe: