Árvores não são um problema. São solução

Durante a campanha eleitoral, entre as 31 propostas, havia uma chamada “ligado no mundo”. A ideia é modesta: (sem querer reinventar a roda) aproveitar o que já é feito em várias cidades do planeta e que pode ser replicado em Belo Horizonte. Começo por algo que fez nossa capital ser conhecida como “cidade jardim”.

A – A forma como o poder público de Belo Horizonte e a Cemig, concessionária de energia do Estado, cuidam da arborização na capital nunca se pautou pela harmonia e respeito à vegetação que contribui para combater o aquecimento global e a poluição atmosférica. Basta olhar os dois últimos episódios de infestação por insetos em número significativo de árvores para saber que não há qualquer programa para preservar e aumentar a arborização urbana, vista equivocadamente como problema, e não como solução.

B – Em 2012, a presença da mosca-branca-do-fícus em árvores da Avenida Bernardo Monteiro, na área hospitalar, na Avenida Barbacena (região do Barro Preto) e em outros pontos da cidade levou a prefeitura a optar pela supressão de um grande número de exemplares nesses locais. Houve reação enérgica de grupos de preservação, e a supressão, pelo menos em alguns locais, foi suspensa. Entretanto, a poda e a aplicação de remédios nos fícus da Bernardo Monteiro não surtiram o resultado esperado, as árvores morreram e hoje são um triste monumento à incapacidade do poder público municipal de preservar o meio ambiente.

C – No começo de 2017, apenas cinco anos após a descoberta da presença da mosca-branca-do-fícus, foi informada a existência de um grande número de árvores condenadas pela ação do besouro-metálico, inseto que destrói o tronco e as raízes de várias espécies de árvores, em especial as paineiras e as mungubas, muito usadas na arborização da capital. Estima-se que cerca de 1,8 mil árvores serão suprimidas, para evitar o risco de quedas, danos à rede elétrica e de telefonia, prejuízos para motoristas e até ferimentos e mortes de pessoas.

D – O inexplicável é que a presença do besouro-metálico não foi detectada pelos técnicos da Universidade Federal de Viçosa que inventariaram as árvores da capital, num trabalho em parceria com a Cemig, que bancou os custos, e a PBH. A prefeitura chegou, inclusive, a alardear, em 2015, que as árvores seriam examinadas minuciosamente e georreferenciadas. Nenhuma das promessas foi cumprida e, agora, a cidade se vê, mais uma vez, às voltas com a supressão da vegetação urbana por falta de cuidados das autoridades responsáveis pelo meio ambiente.

E – Além dos problemas causados pela infestação de insetos, as árvores de BH sofrem com a poda feita por empresas contratadas pela Cemig, que muitas vezes mutila exemplares e fragiliza sua sustentação. O resultado são árvores deformadas, crescendo de maneira não natural, e oferecendo riscos às pessoas que circulam na região.

F – Diante de tantas dificuldades, o melhor que a administração pública da capital tem a fazer é adotar exemplos bem-sucedidos de gestão da arborização urbana, aplicados em cidades de vários países, e que constituem paradigmas a serem aplicados em BH, para que, enfim, a cidade tenha uma política ambiental sustentável, em consonância com a preservação e a expansão das áreas verdes ainda existentes em BH.

G – Em Nova York, a prefeitura hoje sabe exatamente o quanto cada árvore existente na cidade retém de água de chuva e ajuda na redução da emissão de gases poluentes. Isso é resultado de um mapeamento complexo, feito a partir de 2015 por um grupo de 2,3 mil voluntários. Foi um trabalho complexo, no qual os voluntários e o Departamento de Parques da Cidade de Nova York identificaram o local, as características de cada espécie e fizeram o mapa. O cadastro é online e interativo e qualquer pessoa tem acesso às características e a uma foto da árvore que ela pesquisa.

H – Em termos práticos, o mapeamento das árvores de Nova York permitirá à prefeitura local uma economia de US$ 10,9 milhões com a redução da emissão de de dióxido de carbono. Já a diminuição do consumo de energia é estimada em US$ 80,9 milhões por ano, de acordo com estudos a partir de fórmulas do Serviço de Florestas dos Estados Unidos. Nova York, conforme os dados catalogados pelos voluntários, tem cerca de 685 mil árvores.

I – No Brasil também há iniciativas neste sentido, mas ainda em fase embrionária. Há uma proposta colaborativa no Google Maps para catalogar as árvores plantadas no país, e a Prefeitura de São Paulo já criou um mapa on-line de mais de 652 mil árvores em suas ruas. Mas a ferramenta é bastante simples e está dividida por subprefeitura. Na administração passada, a prefeitura paulistana planejava mapear as árvores por meio do uso de QRCode, mas não há informações sobre a implementação da iniciativa.

J – Uma parceria entre a PBH, a UFMG e representantes das empresas de tecnologia da capital resultaria, creio eu, na criação de uma ferramenta semelhante à de Nova York, com incontáveis benefícios para o meio ambiente da capital, entre eles a redução na emissão de dióxido de carbono, detecção de árvores doentes e sua substituição por exemplares sadios, e a adoção de uma metodologia de poda que não mutile as espécies. Temos instrumental tecnológico e humano para tal, basta investir na vontade política para concretizar essa proposta.

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