E se você fosse surdo e cego?

Todo mundo tem medos. Eu tenho medo de não enxergar. Eu tenho medo de não ouvir. Se você perde a fala, de certa forma, é o mundo que perdeu sua voz. Todavia, se você perde a visão e a audição, é você quem perdeu um pouco do mundo. (e esse planeta tem muito a oferecer…) Imagine: feche seus olhos e tape seus ouvidos. Você tem uma escuridão e seus pensamentos. E restaria o tato, o paladar e o olfato… Eu imaginava que se isso me ocorresse, a morte seria preferível por que não haveria alternativa. Foi então que tomei conhecimento de um história de vida que nos ensina a nunca desistir por mais difícil que pareça a situação. Apresento a vocês, Helen Keller. No texto abaixo, vocês encontrarão a essência do que é ser político e a essência do que é ser professor.

Paciência e perseverança tem o efeito mágico de fazer as dificuldades desaparecerem e os obstáculos sumirem.

A – Helen Adams Keller nasceu em Tuscumbia, no estado norte-americano do Alabama, em 27 de junho de 1880. Com um ano de idade, sua visão e sua audição se perderam. O diagnóstico relatava que ela teve uma febre cerebal (hoje, supõe-se que era uma meningite ou uma escarlatina).

B – Percebam que aos dois anos, como a maioria das crianças, ela ainda não estava na escola. Não havia aprendido a ler, nem a escrever, tampouco a falar. Antes de qualquer noção de como se comunicar, ela ficou aprisionada numa cela solitária.

C – A menina ficou violenta e quem em sofria era a filha da empregada que, com apenas seis anos, levava beliscões da criança que tentava se expressar. Hellen Keller ficou cada vez mais agressiva ao se sentir aprisionada e sem compreender o mundo que a rodeava.

D – O pai e a mães de Hellen partiram para as soluções. Imaginem quantos avanços a medicina viu nas últimas décadas e em que grau de evolução a ciência se encontrava no fim do século XIX. Depois de muitas tentativas, Hellen foi entregue aos cuidados de Anne Sullivan, uma professora com apenas 20 anos de idade. Um detalhe: ela também era deficiente visual. Estava formada um dupla com duas mulheres cegas. E essa dupla permaneceu unida por 49 anos.

Helen Keller e Anne Sullivan

E – No primeiro contato, a professora notou que sua aluna sempre carregava uma boneca. Anne encostou sua mão na mão de Hellen. Com o dedo indicador, começou a “escrever” as letras esfregando na palma da garota. A palavra boneca em inglês se escreve “doll”. Ela fazia o o, o o, dois éles… A menina não entendia nada. Imaginem o graude dificuldade nisso. Ela não conseguia concluir que cada objeto tinha uma denominação… Ela sequer podia imaginar o que eram letras. A frustacão tomou conta de ambas.

F – A professora insistia no método. A aluna seguia não entendendo nada…

 

G – Até que um dia, Hellen, de saco cheio, destruiu a boneca! E nessa hora que se conhece um professor. Não adianta brigar com a forma de compreensão do aluno. Digo isso sempre em sala de aula, ao deixar claro que todo mundo pode usar o whatsapp (menos durante as provas).

H – E a professora teve uma ideia. Ela deixou água correr na palma da mãe de Hellen e escreveu água com o método anterior… W-A-T-E-R. A criança entendeu. Imaginem o que isso representou para ea! A porta da prisão escura tinha se aberto.

I – Hellen entendeu o método! E quando um aluno aprende a aprender, ele não para! Daquele dia em diante, havia todo um dicionário para ser traduzido pelo toque e percepção… Era todo um mundo que precisava entrar na realidade daquela menina. E, vale dizer, ela aprendeu a falar em inglês, em francês e em alemão. A história é surpreendente. Por mais que ela tivesse ficado seis anos presa, todo o tempo perdido era compensando com uma rápida aprendizagem.

Nunca se deve engatinhar quando o impulso é voar.

Hellen Keller e Anne Sullivan

J – Hellen Keller não era capaz apenas de entender e falar. Sua professora a ensinou a ouvir. A professora pegou a mão da aluna e colocou sobre sua boca, seu nariz e sua garganta. Cada dedo media um movimento e um timbre. As vibrações se tornaram palavras. Como se diz, a perda de um sentido acentua o outro. Seu tato era algo inigualável, capaz de diferenciar detalhes que sequer notamos. Não demorou para ela aprender braille e linguagem de sinais na palma da mão.

K – Em 1902, com 20 anos de idade, Hellen Keller escreveu sua autobiografia. Essa mulher foi a primeira cidadã cega e surda do mundo a ingressar numa universidade. Após sua graduação em filossofia em Radcliffe College, se tornou ativista política em defesa de muitas causas. Depois iniciou a carreira no jornalismo, escrevendo artigos no Ladies Home Journal. A partir de então não parou de escrever.

L – Hoje em dia, para você se tornar professor em uma faculdade, é necessário obter o título de mestre. O que posso afirmar é que um mestrado não ensina ninguém a ser professor. Um mestrado apenas confere um título de mestre. Anne não detinha nenhuma experiência prévia com ensino e consegiu resolver uma questão que muitos especialistas simplesmente não conseguiam… Essa longa e duradoura amizade terminou em 1936. As duas permaneceram juntas a vida toda e, quando Anne morreu em coma, Helen estava segurando a sua mão.

As melhores e mais belas coisas do mundo não podem ser vistas nem tocadas, mas o coração as sente.

 

M – Em 1951, sua história virou uma peça de teatro e em 1962, um filme dirigido por Arthur Penn, que conquistou 2 oscars.

N – Em 2000 a Disney fez um remake para televisão que se encontra na íntegra ao final dessa postagem.

0 – Se ler essa história já supreende, eu recomendo que vocês asssitam Hellen Keller discursando. Notem a eloquência e a força das suas palavras. O discurso feito no início do século passado segue abaixo na íntegra.

Dear Lions and Ladies: I suppose you have heard the legend that represents opportunity as a capricious lady, who knocks at every door but once, and if the door isn’t opened quickly, she passes on, never to return. And that is as it should be. Lovely, desirable ladies won’t wait. You have to go out and grab ‘em. I am your opportunity. I am knocking at your door. I want to be adopted. The legend doesn’t say what you are to do when several beautiful opportunities present themselves at the same door. I guess you have to choose the one you love best. I hope you will adopt me. I am the youngest here, and what I offer you is full of splendid opportunities for service. The American Foundation for the Blind is only four years old. It grew out of the imperative needs of the blind, and was called into existence by the sightless themselves. It is national and international in scope and in importance. It represents the best and most enlightened thought on our subject that has been reached so far. Its object is to make the lives of the blind more worthwhile everywhere by increasing their economic value and giving them the joy of normal activity. Try to imagine how you would feel if you were suddenly stricken blind today. Picture yourself stumbling and groping at noonday as in the night; your work, your independence, gone. In that dark world wouldn’t you be glad if a friend took you by the hand and said, “Come with me and I will teach you how to do some of the things you used to do when you could see?” That is just the kind of friend the American Foundation is going to be to all the blind in this country if seeing people will give it the support it must have. You have heard how through a little word dropped from the fingers of another, a ray of light from another soul touched the darkness of my mind and I found myself, found the world, found God. It is because my teacher learned about me and broke through the dark, silent imprisonment which held me that I am able to work for myself and for others. It is the caring we want more than money. The gift without the sympathy and interest of the giver is empty. If you care, if we can make the people of this great country care, the blind will indeed triumph over blindness. The opportunity I bring to you, Lions, is this: To foster and sponsor the work of the American Foundation for the Blind. Will you not help me hasten the day when there shall be no preventable blindness; no little deaf, blind child untaught; no blind man or woman unaided? I appeal to you Lions, you who have your sight, your hearing, you who are strong and brave and kind. Will you not constitute yourselves Knights of the Blind in this crusade against darkness? I thank you.

P – Helen Keller morreu enquanto dormia em 1º de junho de 1968, aos 87 anos de idade, na cidade de Westport, no Connecticut.

Q – Durante sua vida, ela participou de várias sociedades científicas e organizações filantrópicas nos cinco continentes. Para ser político, não é necessário ser canddiato. Basta exercer sua cidadnia com vontade.

O presidente John Kennedy se encontra com Helen Keller

U – Helen publicou 12 livros, foi condecorada pelo presidente John Kennedy com a medalha da liberdade, a maior honraria que um civil pode receber. Em 1965, ela entrou para o National Women’s Hall of Fame.

V – O que mais supreende nessa história é a perseverança dessas mulheres. Quantas pessoas tem intenções e ideias, mas não possuem a capacidade de ir adiante.

X – Outra coisa que nos chama atenção é o quão isolados do mundo podem ser os portadores de alguma deficiência. No Brasil, são muitos. Eu possuo miopia. Seis graus, para ser preciso. Ou uso lentes ou uso um óculos com lentes redondas que mais se parecem o fundo de uma garrafa. Estudei no Instituito de Educação de Minas Gerais, uma escola pública, e não conseguia anotar o que o professor passava no quadro quando era criança. Tinha vergonha em dizer isso. Perdi muito tempo até ir no oftamoligista. O Plenário da Câmara dos Deputados aprovou em março desse ano, o Projeto de Lei 7699/06, que cria a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, com a previsão de diversas garantias e direitos às pessoas nessa condição. A proposta, que era conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência, foi aprovada na forma do substitutivo da relatora, deputada Mara Gabrilli (outro exemplo de mulher que vence desafios) e será analisada ainda pelo Senado.

W – Andando pelo centro de Belo Horizonte, noto que há pisos podotáteis em certas calçadas e em outras não. Sinto que, para os cegos, é como se a cidade estivesse em pedaços e isso preciso ser alterado. Ainda mais depois de ler essa história.

Y – E ainda há gente que diz que a política é algo difícil de exercer… E ainda há gente que diz que ensinar é algo complicado. Aos políticos e aos professores, eu deixo o exemplo dessas duas.

Z – Hoje é domingo. Você pode continuar descansando. Todavia, depois de ler tudo isso, lembre-se que segunda-feira é um dia em que você pode tomar uma atitude diferente. Espero ter compartilhado uma boa inspiração. Abaixo, segue o filme produzido pela Disney contando essa bela história.

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Gabriel de a a z

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