O descaso com Belo Horizonte

Ausência de obras inovadoras na capital

Mariana Silva Tavares, 26, morreu após ficar cinco horas esperando na Unidade de Pronto Atendimento da Regional Centro-Sul, na última terça-feira (23.4). Na triagem, a classificaram como “sem prioridade”. A médica a diagnosticou e depois desapareceu. Óbito. No seu Instagram, o prefeito diz que está “prefeitando” para melhorar a saúde. A postagem se divide entre os comentários dos ocupantes dos seus muitos cargos comissionados, que querem nos fazer acreditar na publicidade desconectada dos fatos, e de quem vai lá no perfil do prefeito convidá-lo a conhecer a realidade. 

Muita gente só soube da existência dele há algumas semanas, quando ele se apresentou como quem corta árvores aos montes. Quanto mais ele é conhecido, mais ele é rejeitado. 

Vivemos numa capital muito mal administrada, com um sujeito sem pulso e sem talento na cadeira de prefeito, cercado de uma colcha de retalhos de colaboradores que não inovam. Estamos num declínio. É um “triste horizonte”, como bem disse Carlos Drummond ao ver definhar o lugar que amava… 

Tomemos como exemplo as obras. Garantir que a cidade não alague e que encostas não desabem é importante? Óbvio. Isso é lá motivo de celebração de uma gestão? Sair da condição de “ruína” não é mais que a obrigação. Todavia, quando o assunto é gestão hídrica inovadora, Belo Horizonte já parou para pensar que pode ir além, assim como Madri, no seu ousado projeto às margens do rio Manzanares, onde vias marginais foram ocultadas abaixo do nível, abrindo espaço para um parque linear e estimulando o mercado imobiliário, e onde as águas foram despoluídas?  

O prefeito alguma vez falou algo deslumbrante sobre o ribeirão Arrudas, nosso principal curso d’água, que combine com o ano de 2024? Não. 

Cheonggyecheon, em Seul, também não o inspira. Qualquer coisa que ele anuncia parece uma propaganda do prefeito Oswaldo Pieruccetti, ao contar para a população com orgulho que estava fazendo uma obra para cobrir o córrego do Leitão, em 1972. As obras do prefeito são para resolver o passado, e não para nos conduzir ao futuro. Aliás, nenhuma é dele. Tudo do ocupante anterior… ele só vai lá gravar vídeos de capacete. Clichê puro. 

Obra original do prefeito mesmo é a… ciclovia da Afonso Pena! Risos. Acho que entra para os anais da cidade como uma das coisas mais ridículas que um prefeito já fez. Ou melhor, não fez.  

No entorno da praça da Bandeira, ele iniciou uma reforma. Ocorre que ninguém percebe o que mudou por lá. Decidiu, então, o “bravo” seguir de cima para baixo a sua “transamazônica” particular… Vai sua obra morro abaixo. Atravessou a rua Bambuí, a rua Ramalhete, a rua Muzambinho, passou pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais alegrando certamente todos os 150 desembargadores (aliás, parabéns ao caro presidente eleito, desembargador Corrêa Júnior), e parou antes de chegar à avenida do Contorno.  

O Ministério Público questionou, mas o Poder Judiciário o deixou seguir. Por qual razão não segue? Vá lá, homem! Coragem! Em frente! Termine o que o senhor começou! Ou será que, como quase tudo que se faz nessa prefeitura, primeiro se decide e depois vai se ouvir quem é impactado pela obra? 

Não sou contra ciclovias, como é óbvio para qualquer um que me conhece e não queira transmutar os fatos. Vivo no centro. Possuo quatro bicicletas e pedalo. Como expliquei para uma amiga ciclista que perguntou minha posição sobre o tema:  

1) você começa por aquilo que flui nos desafios da vida pública, e há inúmeros outros trechos de ciclovia a construir que não vão gerar tanto impasse;  

2) a Afonso Pena que eu sonho reserva as pistas centrais para um veículo de transporte em massa (seja ou não em trilhos, vejamos o exemplo do Autonomous Rail Rapid System, ART, na China) e retira esse número absurdo de ônibus que se acumulam nas pistas laterais (com barulho e monóxido de carbono), impedindo qualquer ideia de uma via repleta de bares, restaurantes e vitrines, que não seja puro abandono quando o sol se põe, onde um Café Nice pode fechar portas a qualquer momento por falta de clientes.  

A ciclovia nela merece ser na lateral da praça Rio Branco até a avenida Professor Morais e depois seguir pela rua Grão Mogol e avenida Uruguai até encontrar a avenida Bandeirantes.  

Quem não gosta da minha posição pode ir lá reclamar com o prefeito e pedir para ele seguir essa obra, a marca registrada da sua gestão tal como seus suspensórios: uma ciclovia (a primeira de que se tem notícia) em ruínas antes mesmo de ser inaugurada. Esse governo já acabou. A cidade não pode acabar. 

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Gabriel de a a z

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