Não se evita o futuro na porrada

Geralmente, não falo sobre os hotéis onde fico. Isso não acrescenta muito e costuma ser barango expor tais coisas. Sugiro a localização, pois isso ajuda as pessoas que nunca visitaram uma cidade. Abro uma excecão por um motivo: recebi de alguns amigos por whatsapp um vídeo que mostra motoristas de taxi agredindo um motorista do Über, em Belo Horizonte, nesse final de semana. O jornal O Tempo noticiou o fato. A inciativa dos taxistas contraria tantas leis, sobretudo ao impedir a escolha do passageiro na marra, que sequer vou inumerá-las. Volto ao hotel. Pela primeira vez, ao chegar na recepção, não havia uma mesa com atendentes aguardando os clientes para o check-in. Havia computadores. Em menos de um minuto, eu estava com o cartão que dava acesso ao meu quarto. E, vejam só, nenhum atendente de outro hotel veio me barrar na porta do elevador, além de danificar os computadores.

Eu nunca penso no futuro. Ele não tarda a chegar.

A – Vários amigos meus ainda não conhecem o Über. Em rápidas considerações, trata-se de um aplicativo para celular. Uma vez instalado, você se cadastra e pode requisitar um carro por georeferenciamento para lhe transportar. Um cartão de crédito fica no sistema e você não precisa usar dinheiro. Há algumas modalidades que incluem a divisão do carro por até três passageiros com rotas comuns. Essa opção não existe ainda no Brasil. A função que existe supreende os usuários, pois, pelo mesmo preço de uma corrida no táxi, você tem um transporte num carro padrão luxo, com amenidades e um motorista treinado para lhe atender com toda mordomia. Vale destacar que o Über tem valor de mercado avaliado em quantidade superior ao que vale a Petrobras. (o que nao quer dizer muito hoje em dia…) O serviço, que existe desde 2010, opera em 300 cidades de 56 países diferentes e realiza mais de um milhão de viagens por dia.

BEu nunca tive carro. Eu nunca terei um carro. Por dois motivos. O primeiro é ideológico. O segundo é racional: pela minha segurança e pela segurança das demais pessoas, prefiro não levar essa falta de habilidade para as ruas. Como eu não fico parado, me transporto por bicicleta, carona, ônibus, metrô e taxi. Sou um usuário freqüente de táxis. Na esquina onde moro, existem três pontos de táxi! A maioria dos taxistas me conhece por sair apressado pela manhnã quando vou para a sala de aula na Faculdade de Direito ou quando preciso pegar um vôo no distante aeroporto internacional. Convenhamos, desde que surgiram aplicativos como EasyTaxi, WayTaxi e 99Táxis, você pode usar o serviço de maneira muito melhor!

C – Lembro-me muito exatamente… Assim que esses três aplicativos começaram a se popularizar, pensava comigo: será o fim das cooperativas. Lembram-se das cooperativas? Você ligava, dizia onde estava e enviavam um táxi para você. Eu perguntei à um dos taxistias que tenho costume de encontrar sobre o fato. O taxista disse: “as cooperativas que se danem! Esses aplicativos sao bons para o cliente, não são?”

D – O artigo 7º da Constituição da República, no seu inciso XXVII, garante proteção aos funcionários em caso de automação. Ocorre que, desde 1988, esse dipositivo aguarda sua regulação por lei. Novidades como o Über e o Easytaxi não vão parar de surgir. Nem inciativas que parecem distantes do Brasil como o check-in do hotel CitizenM, em Glasgow.

E – Só que a briga não se restringe à pacata capital mineira. Aqui no Reino Unido o pau também quebra. E nos Estados Unidos, na Índia e na Alemanha… Os taxistas não ligaram quando a tecnologia acabou com a alegria das cooperativas, mas ficaram muito bravos mundo afora com o Über. É importante diferenciar um táxi de um Über. O táxi é uma concessão de trasnsporte público geralmente feita pelo poder municipal. Ou seja, a prefeitura autoriza alguém a rodar na cidade transportando passageiros, da mesma forma como autoriza as empresas de ônibus a fazer o mesmo. Está na constituição, no seu artigo 30º, inciso V. As prefeituras dos municípios devem organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter essencial. Ou seja, o taxista é como um motorista de ônibus.

F – Muito bem. Agora, pense no seguinte… Você decidiu comprar um carro e se tornar um motorista particular. Você pode? Claro. A mesma constituição, no seu primeiro artigo, diz que nossa República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como um dos seus fundamentos os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa! Portanto, cidadão, vá em frente, prospere, lucre! Diferente do táxi, há aqui outra relação de trabalho! E a internet ligou quem deseja vender trabalho com quem deseja comprá-lo! Isso é apenas uma amostra do que a chamada “economia do compartilhamento” vai fazer com o mundo sólido de quem acredita em bater cartão pela eternidade. Isso ainda vai acontecer com a educação, com a saúde e inúmeros outros serviços.

G – A revista The Economist mostrou que a valorização do Über supera o facebook e do twitter nos três primerios anos da plataforma. Isso, devido a gama de serviços que pode ser conectado ao modelo. No Canadá, já utilizam Über para entregar comida. O produto em questaõ é ir e vir.

Os únicos limites das nossas realizações de amanhã são as nossas dúvidas e hesitações de hoje.

HNo século XIX, o movimento ludista começou a quebrar máquinas em protesto a substiução de operários. Não adiantou. Estamos diante de uma profunda modificação nas relações de trabalho. Qualquer ambiente acadêmico investe pesado nisso. A presidente Dilma Rousseff esteve no Google e experimentou um carro se locomove sem motorista… Os motoristas do Über também não vão ficar nessa para o resto da vida. Acreditem, é melhor conviver com o avanço.

I – Eu lamento essa mentalidade tacanha que acredtia que uma função profissional é um direito adquirido. Querem outro exemplo? Os trocadores de ônibus. O pensamento eleitoreiro dos políticos da nossa capital atrasam muito o avanço do transporte público. Com todo respeito aos trocadores, a presença deles é um monumento à lacuna de civilidade que nos impede de ter a conciência de que não precisamos ser vigiados para pagar por um serviço que usamos. É como se houvesse alguém alí para dizer: cidadão, não se furte! Várias novidades digitais foram apresentadas e barradas pelos agentes públicos covares que pensam que a barulheira da classe pode prejudicar a votação num próximo pleito.

J – O Über tem direito de funcionar no Brasil? O juiz Roberto Luiz Corciolli Filho numa decisão jea revogada, data vênia, bocó, afirmou que não. Chamou o processo de transporte público clandestino! Céus! Vamos comparar: o perueiro realiza um transporte público clandestino. Ele parasita uma rota de ônibus e retira passageiros do sistema legal com um veículo que não dispõe da segurança adequada. É um risco para o sistema e um risco para o usuário. O motorista do Über é´cadastrado na plataforma, possui obrigatoriamente CNH, efetua um seguro de vida que da cobertura ao passageiro e não pode possuir antecedentes criminais. Ao fim de cada corrida, você avalia o atendimento.

K – Os taxistas alegam que pagam alto por taxas e alvarás, além de vivenciarem duras fiscalizações. Ora… Sério? E quem os obriga a fazer isso? Penso que fazem por livre e espontânea vontade. Em Belo Horizonte, há uma fila enorme. Recentemente aprovaram inclusive o táxi como herança. Ou seja, agora são como cartórios! Há quem possua vários veículos e aluga para outros motoristas. E, posso afirmar com muita vivência: faltam taxis na cidade! E vou além para apresentar meu ponto: o artigo 1º da constituição não pode ser ignorado! Uma atividade pública não pode impedir uma atividade privada! É como se o cidadão tivesse que colocar seus filhos numa escola pública por obrigação. Ou ser atendido num hopsital público por obrigação! Espera-se boa qualidade, claro! Todavia, cumpridas as demandas legais, a atividade privada é mais qiue bem vinda!

L – Ademais, o Über não é uma empresa de transporte. Ele apenas une motoristas particulares aos interessados em se locomover dentro da lógica de economia compartilhada! O que desejam os taxistas que partiram para porrada? Impedir a inciciativa privada ou o direito de ir e vir? Adianto que essas duas coisas são asseguradas, e muito bem asseguradas, pelas nossa constituição.

Se, a princípio, a ideia não é absurda, então não há esperança para ela.

M – O Airbnb faz o mesmo. Você não tem? Pode fazer o download. Ele une pessoas que querem se hospedar a pessoas que querem alugar espaços para hospedagem. E os hotéis vão ter de lidar com isso, mesmo pagando obrigacões fiscais e exigências da lei. Vale o mesmo princípio. O cidadão faz uso da sua propriedade como bem entender.

N – Notem o seguinte. O Über não é proprietário de um veículo sequer, nem possui um motorista que sej na sua folha de pagamento. (em tempo: o aplicativo emprega 2.000 pessoas no mundo) Ainda assim, o aplicativo vale quatro vezes mais do que vale a Hertz, avaliada em cerca de dez bilhões de dólares.

0 – Inovações contrairam interesses. Ao criar a imprensa, John Gutemberg tirou a função de uma porçao de monges pacientes que ficavam o dia inteiro copiando… O Skype e o Whatsapp que todo mundo usa e gosta, inclsuive os taxistas, estão acabando com o sono das operadoras de telefonia (outra concessão pública, diga-se).

P – Há dois caminhos. Nevada, um Estado norte-americano, por exemplo, proibiu o Über. A Califórnia, Estado vizinho, liberou e considerou o serviço inovador. Por lá, recebeu a seguinte classificação jurídica: “companhia de transporte em rede”. Fabuloso.

Q – O impulso inicial dos taxistas é partir para a porrada. E sabe qual a consequência? Notícias. E sabe qual o resultado? Mais usuários para o Über.

A verdadeira dificuldade não está em aceitar idéias novas, mas escapar das antigas.

REu aprendi com o Pernalonga que, se você não pode vencê-los, junte-se a eles. Meus caros taxistas, prestem bem atenção no episódio desse sábado! Que tipo de passageiro vai ler essa notíca com bons olhos. Seus colegas impediram um cidadão de ir e vir, além de danificar propriedade privada alheia. Isso é coisa de alguém que deve ser cordial por hábito?

SNão seria a hora do taxista se perguntar: por que razão o usuário está preferindo o Über? Aqui em Glasgow onde estou, e usei táxi, todos os carros são padronizados com excelência. Vejam o que diz a vítima, estudante de medicina, na notícia: “Eu tenho direito de escolher.” Que tal carros melhores? Atitudes melhores? Forma de pagamento melhores? É nessa direção que a atuação deve ser.

T – Li que nessa segunda-feira, dia seis de julho de 2015, haverá uma reunião entre taxistas, promotores e vereadores para resolver a questão. A reunião já começa errada, pois não vi dizerem que o represnete do Über na capital mineira estará presente. Como não existe regulação do Über na capital mineira, espera-se que um Termo de Ajustamento de Conduta seja feito.

U – Os vereadores também podem criar um lei municipal. Eu quer só ver… Os políticos em geral morrem de medo dos taxistas. Claro! Trata-se de uma classe organizada que transporta muitos eleitores todos os dias. Há dois projetos de lei tramitando no legislativo municipal que podem ser analisados em agosto.

V – Quero que os políticos da capital tenham coragem para enfrentar a questão. Não estamos falando apenas do emprego dos inúmeros taxistas. Estamos falando do direito de milhões de consumidores e de soluções criativas para o trânsito caótico da capital.

X – Eu vou continuar usando táxi. Sempre fui muito bem tratado. Destaco os bons motoristas da minha esquina na Rua Rio de Janeiro com Rua dos Tupis. Todavia, vou usar Über também! E carona… E ônibus… E metrô… Os taxistas precisam compreender que uma cidade conectada não se dá apenas por uma forma de transporte.

W – Daqui alguns anos, espero, vamos nos lembrar disso tudo esboçando um sorriso pelo ridículo da situação. Será num futuro onde os engarrafamentos terão desaparecido e o carro será majoritariamente um bem compartilhado e não de propriedade exclusiva. Depois de anos sendo utilizado como símbolo de status e poder, o carro passará a ser só mais uma das inúmeras formas de ir de um lugar para o outro

Y – Aqui em Glasgow há uma exposição chamada Riverside Museum. Nela, você encontra formas de transporte utilizadas pela civilizacão em todos os tempos. Há uma muito interessante. Uma espécie de carroça onde se sentava um passageiro. O veículo era movido por tração humana.

Z – Quando fizer check-out no hotel, também não haverá um atendente. Apenas um computador. Notem que sempre desejamos ir de um lugar para o outro. Isso nunca vai mudar. O resto vai mudar com certeza e ninguém vai conseguir impedir isso.

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Gabriel de a a z

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