Diante de uma crise do combustível, para onde devemos ir?
Como o Brasil seria atingido se eclodisse uma crise internacional no fornecimento de petróleo? Até que ponto nossa economia seria golpeada? Estas são algumas preocupações que voltaram a ser debatidas após os graves incidentes do fim de semana, quando bombas e mísseis transportados por drones foram lançados contra refinarias na Arábia Saudita, maior exportador mundial do combustível fóssil.
O ataque do domingo, cuja autoria ainda não foi confirmada, levou o governo saudita a reduzir em 50% o volume de exportações de petróleo ainda na segunda-feira. Ao longo da semana, a situação deu sinais de normalização, com a Arábia Saudita reparando os danos causados pelo atentado e prometendo retornar ao volume anterior de exportações no menor prazo possível. Mesmo assim, o preço do barril de petróleo teve um aumento de 15% um dia após o atentado. Nos dias posteriores, o mercado se acalmou. Mas a cotação do barril chegou a US$ 63.
No Brasil, a Petrobras anunciou, na quarta-feira, o aumento do preço dos combustíveis nas refinarias. O diesel foi reajustado em 4,2%, enquanto a gasolina teve aumento de 3,5%. Reflexo claro da convulsão que agitou o mercado internacional de petróleo no início da semana e atestado de que uma crise maior seria um complicador a mais para o nosso já bastante conturbado cenário econômico.
O aumento foi anunciado apenas 48 horas depois de o governo Bolsonaro ter dito que não haveria reajuste no preço dos combustíveis. Um sinal de que as regras da geopolítica internacional não são tão simples e que um país não pode simplesmente ignorar o que afeta uma commodity estratégica e vital como é o petróleo. O que acontece no Oriente Médio se reflete no custo da passagem de ônibus e da cesta de alimentação do cidadão brasileiro.
Nosso país tem média diária de produção de 3 milhões de barris de petróleo. Tecnicamente, somos autossuficientes, mas ainda importamos combustível, em razão da necessidade de misturar o óleo brasileiro, mais pesado e de difícil refinação, com o óleo mais leve, extraído em outros países. O objetivo é reduzir os custos de produção de combustível no país.
Mas ser autossuficiente não basta para nos tranquilizar. Especialistas enumeram duas ameaças ao Brasil: a primeira, a instabilidade que os ataques na Arábia Saudita causaram. A partir de agora, o risco de novas ações contra complexos de produção de petróleo passa a ser computado, e os preços do combustível podem oscilar mais, refletindo-se na economia internacional.
A segunda é a política de preços adotadas pela Petrobras há alguns anos, que leva em consideração a cotação internacional do petróleo e a variação cambial para fixar o valor do diesel e da gasolina. Ela agrada aos acionistas da empresa e tranquiliza investidores. Em compensação, pode gerar conflitos sociais internos. A greve dos caminhoneiros, em 2018, é exemplo que não pode ser esquecido.
Para além dos cuidados urgentes com uma possível crise de combustível mais prolongada, o Brasil deve se preparar para o futuro sem petróleo. A produção em larga escala de veículos elétricos e o incentivo ao modal ferroviário são medidas mais que necessárias para nos livrar do petróleo, caro e poluente, e impedir que as grandes cidades sejam sufocadas pela fumaça.