O k-pop urbano de Seul e o Barro Preto

Exemplo internacional de revitalização urbana

Quem passa pelo Barro Preto, em Belo Horizonte, encontra um cenário desolador, que não combina com o passado pujante que o bairro já teve. Essa região da cidade já foi conhecida como um local de atração de imigrantes, um polo de moda e sede de indústrias. Com o crescimento da cidade, algumas indústrias se moveram para a Cidade Industrial, em Contagem, mas o polo de moda ainda fazia a região ter movimentação comercial intensa.

A industrialização na China, inundando o mercado brasileiro de peças de roupa muito mais baratas, também foi um duro golpe no comércio daquele bairro. Hoje, o comércio do Barro Preto não é tão movimentado quanto poderia ser, e a região sofre com muitas faixas de “Aluga-se” e “Vende-se”, num ciclo de desvalorização.

problema urbano

A desocupação de imóveis em uma área com acesso fácil ao centro, cortada por grandes avenidas, bem guarnecida de serviços públicos e próxima do metrô, não é apenas um problema de quem possui imóveis por lá. É um desperdício de área útil da cidade, expulsando as pessoas para mais longe e aumentando a pressão na infraestrutura urbana, intensificando gargalos de mobilidade e fazendo com que outros equipamentos públicos precisem ser construídos em vez de se aproveitar o que já está operando.

Quando vamos conversar sobre o Barro Preto, ouvimos muitas lamentações sobre a concorrência por vezes desleal das indústrias chinesas. De fato, é triste termos perdido essa atividade econômica, mas não adianta lamentar, muito menos querer impedir as pessoas de comprar roupas mais baratas apenas por protecionismo.

Discutir soluções

Além das lamentações, o que precisamos é discutir soluções. E por isso gosto de acompanhar soluções ao redor do mundo. Afinal, não é só o Brasil que teve esse tipo de encolhimento de alguns setores da indústria: um caso muito parecido ocorreu, por exemplo, na Coreia do Sul, que perdeu indústria têxtil para os vizinhos chineses. E, recentemente, vi no canal no YouTube do meu amigo Raul Juste Lores – recomendo a todos segui-lo –, o que foi feito em Seul, com a revitalização da região de Dongdaemun, que perdeu indústrias de forma muito similar ao ocorrido por aqui.

Sem a produção têxtil local, a região se especializou em design, comércio e marketing de produtos internacionais, mesmo aqueles cuja efetiva manufatura seja no país vizinho, algo que já está acontecendo no Mercado Novo, diga-se, e que a prefeitura não ajuda nem com regularização de pendências do espaço.

Dongdaemun Design Plaza

Por lá, um estádio que estava subutilizado deu lugar ao Dongdaemun Design Plaza, o maior centro de design do mundo, da talentosa arquiteta Zaha Hadid (1950-2016), atraindo mentes e recursos de todo o planeta. Num complexo que reúne startups e lojas de marcas locais, está sendo construído o próximo ciclo da economia sul-coreana.

Não dá pra desvincular esse desenvolvimento de todo o esforço da Coreia do Sul de exportar não só produtos manufaturados, mas cultura. É também por causa desse esforço que adolescentes do mundo inteiro crescem aficionados por ídolos de k-pop, um gênero da música coreana que rende bilhões de dólares e é impulsionado por uma liderança pública organizada, além de todo conteúdo que passamos a ver na Netflix.

Porto maravilha

Não gosto de limitar o tamanho dos sonhos dos belo-horizontinos e, por isso, não me incomodo de buscar exemplos de longe. Contudo, podemos ir mais perto. Grandes galpões como os do Barro Preto podem ser convertidos em novos empreendimentos aos moldes do que aconteceu no Porto Maravilha, projeto idealizado pelo urbanista Washington Fajardo na zona portuária do Rio de Janeiro.

Nesta semana comemoramos o Dia Mundial do Meio Ambiente, e ele diz algo que sempre me chamou muita atenção: não há construção mais verde do que aquela que já está construída. Aproveitar a infraestrutura já desenvolvida com novos usos culturais, intelectuais e econômicos pode não só recuperar o tecido urbano da região, colocando pessoas próximas de seus locais de trabalho e diminuindo deslocamentos, mas também oferecer novas oportunidades para que Belo Horizonte seja uma referência da economia criativa. Sempre buscando os melhores exemplos do que deu certo no mundo inteiro.

O belo-horizontino não é pior do que ninguém, e não há projeto de sucesso que nossa cidade não possa, não consiga ou não mereça reproduzir.

Compartilhe:
Gabriel de a a z

CONFIRA OUTROS ARTIGOS: