Os exemplos que Medellin nos oferece

Falar bem das soluções urbanas de Medellín, na Colômbia, está na moda, mas vai além disso. A cidade do país que faz fronteira com o Brasil realmente tem soluções criativas e de grande alcance social. Comento duas delas neste post: as ciclovias e a inovação tecnológica.

A –  No ano passado, durante a campanha eleitoral para a Prefeitura de Belo Horizonte, muito se falou sobre a cidade colombiana de Medellín, citada por alguns candidatos como  celeiro de soluções urbanas sustentáveis, que deveriam ser implementadas na capital mineira como solução para problemas graves enfrentados por nossa cidade.

B – O sistema de transporte do município do país vizinho, a forma como os gestores locais conseguiram reduzir os índices de violência urbana e as inovações tecnológicas implementadas por lá foram exaustivamente apontados como ferramentas das boas práticas políticas que levaram Medellín a se tornar exemplo a ser adotado por aqui.

C – Entendo que nem toda experiência de sucesso em uma cidade, estado ou país pode ser replicada com iguais resultados em outro lugar. Há uma série de fatores que precisam ser levados em consideração e que tendem a influenciar o processo. Entretanto, há dois aspectos da consolidação do crescimento sustentável de Medellín que me chamam a atenção, e que gostaria de compartilhar neste espaço dedicado a relatar boas experiências nos mais diversos cantos do mundo.

D –  O primeiro é o sistema de ciclovias, muito eficaz na cidade colombiana, que tem praticamente a mesma população de BH, cerca de 2,5 milhões de habitantes. O outro é o reconhecimento de Medellín como uma das cidades mais inovadoras da atualidade. Nos 31 compromissos que compõem minha plataforma de mandato, contemplo tanto a revisão e a ampliação da rede de ciclovias de nossa capital, como o incentivo da inovação tecnológica para o crescimento socioeconômico de BH.

E –  A implantação das ciclovias em Medellín teve início em 2011. Hoje, o sistema da cidade colombiana conta com 45 quilômetros de vias exclusivas para a circulação de bicicletas. A extensão é inferior ao da malha de BH, onde as ciclovias somam mais de 74 quilômetros. Porém, o modelo colombiano é muito mais eficaz e traz muito mais benefícios à população.

F – Em Medellín, a população usa bicicletas públicas, adquiridas pelo governo local e colocadas à disposição das pessoas. O uso é gratuito. Nas 52 estações existentes, das quais 32 automatizadas, os usuários retiram e devolvem as bicicletas. Nas estações ainda não integradas ao sistema de automação, funcionários da prefeitura recebem e entregam as bicicletas a quem deseja usar o transporte.

G –  São mais de 1.000 bicicletas públicas, e a média diária de viagens é superior a 10,5 mil. A prefeitura de Medellín prevê duplicar a extensão das ciclovias até 2019, chegando a 90 quilômetros. Já em BH, onde as ciclovias são alvos constantes de críticas e reclamações em razão da ineficiência, da manutenção falha e da falta de integração, entre outros problemas, a administração anterior prometeu construir mais 150 quilômetros de pista para bicicletas. A atual gestão da PBH não informou ainda se dará continuidade ao projeto.

H – Se a eficiência do sistema de ciclovias da cidade colombiana chama a atenção pela rapidez, fluidez e capilaridade operacional, o reconhecimento de Medellín como um dos berços mundiais da inovação tecnológica e do empreendedorismo é ainda mais espantosa, pela grandiosidade da transformação lá registrada.

I – Na década de 1990, Medellín, sob o domínio do tráfico de drogas, era uma das cidades mais violentas do mundo. Assassinatos em massa, tiroteios e atentados à luz do dia faziam parte do cotidiano da população. Para reverter esse estado de caos urbano, as autoridades investiram no reforço da segurança, com ação rigorosa da polícia e das Forças Armadas, e na universalização da educação.

J –  Soluções simples, como a construção de escadas rolantes em comunidades da periferia situadas nos pontos mais altos da cidade, para reduzir o tempo de deslocamento dos moradores desses locais, e a instalação de bibliotecas, museus, escolas e outros equipamentos culturais em áreas pobres da cidade, ampliaram a inclusão e reduziram a desigualdade, contribuindo para a redução das taxas de criminalidade.

K –  A aposta em educação trouxe consigo o empreendedorismo, dotado de forte viés social e instrumento de reconhecida capacidade de desenvolvimento. Redes de inovação e centros tecnológicos, instrumentos de financiamento para iniciativas inovadoras de baixo custo, todo esse conjunto de ações resultou no fechamento do ciclo de violência e na consolidação da cidade como um ambiente em expansão da economia criativa e do sucesso das startups.

L – Não foi por acaso que, em 2013, Medellín recebeu do Wall Street Journal e do Urban Land Institute, organização não governamental voltada para o desenvolvimento urbano, o título de “Cidade mais inovadora do planeta”.  Nada mal para uma cidade que em pouco mais de 20 anos deixou para trás o cotidiano de violência e exclusão social para se transformar em paradigma de crescimento sustentável. Fora dos discursos vazios das campanhas políticas, Medellín realmente deve ser observada e tomada como exemplo de boa gestão pública.

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Gabriel de a a z

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